Prólogo

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Você já parou para pensar no quanto a nossa vida é delicada, e se não tomarmos cuidado ela se parte em milhares de pedacinhos, como uma porcelana italiana se chocando contra o chão? Em um momento você está com a sua família comemorando o natal e todos os seus "milagres", no momento seguinte você vê tudo se despedaçando.

- Ayra! Ayra!  Minha filha, por favor, fale comigo. - minha mãe gritava desesperadamente  com a minha irmã que estava esticada em seu colo, com o rosto pálido e já quase sem vida. Eu não tinha nenhuma reação, nunca me acostumava com esses     ataques, eu conseguia só observar de longe, absorta.

- Temos que ir ao hospital, essa crise parece estar forte... - meu pai segurava o ombro da minha mãe tentando manter a calma, não ajudava, mas era uma maneira do papai de demonstrar apoio, ele podia não estar tão tranquilo, mas ele não deixava transparecer o transtorno que se passava dentro dele, alguém tinha que segurar as bases em tais situações. 

Peguei o telefone e liguei para a emergência assim que ouvi as palavras do meu pai, eu estava tão nervosa que mal conseguia digitar os números, três números apenas, esses do qual já tinham se tornado tão familiar para mim no último ano mais do que eu gostaria.

- Boa noite, qual a sua emergência? - a voz de um homem ecoou através do aparelho, parecia um homem jovem, uns 25 anos, eu diria.

- Precisamos de uma ambulância na Rua Orion com a Décima Avenida, número 1357.

- Estará aí em 15 minutos. Não se preocupe, mocinha.

- Rápido, por favor! - minha mãe falou atrás de mim quando percebeu que eu estava com o     celular em mãos, seu rosto afundado em lágrimas e minha irmã ainda desacordada em seus braços.

Desliguei o celular e corri para o quarto da minha irmã caçula para pegar sua bolsa com as roupas do hospital que já ficara feita para caso de emergências ou coisa do tipo.

Ayra só tinha 8 anos, e o câncer havia tomado vida nela há 2 anos e meio, ela piorava e melhorava o tempo inteiro, era relativo, mas dos últimos 7 meses para cá, a situação chegou em um ponto extremamente alarmante, seus ataques e convulsões têm se tornado frequentes,  o tumor se espalhou; outra doenças ganhavam vez com sua baixa imunidade, como pneumonia ou infecções constantes, às vezes ambos. Era internada com frequência, mas acabou tendo uma melhora na semana do natal, então pode vir para casa. Foi uma festa para nós poder passar o feriado em casa, fazendo ceia e com a família reunida novamente ao invés de estar em um hospital abafado, vendo minha pequena irmã dopada, respirando com ajuda de tubos. 

- Emmy, a Ayra vai morrer? - meu irmãozinho Thomas apareceu na porta com olhos vermelhos e as bochechas molhadas.

- De onde você tirou isso?  - deixei a bolsa cair e fui ao seu encontro, pegando-o no colo.

- Ouvi a mamãe dizendo que talvez o socorro não chegue em tempo dessa vez... - ele suspirou e me abraçou. - Ela vai morrer, não vai?

- Não querido, ela não vai. - abracei-o de volta

- Como tem  tanta certeza?

- Tenho fé que não. Você deveria ter também. - passei meu polegar por sua bochecha farta, secando-a de suas lágrimas.

- Promete que ela voltará bem? - sussurrou.

Eu ia abrir a boca para dizer algo, mas fui cortada pela voz do meu pai que invadiu o ambiente.

- Emma, a  bolsa! Precisamos ir! - gritou da escada.

Thomas me olhou nos olhos e deu um suspiro, pegou a bolsa que estava no chão e foi ao encontro do nosso pai, olhei ao redor do quarto impecável que de repente ficara tão vazio... Apenas apaguei a luz e saí.

- Cuidem-se, mandaremos novidades assim que possível. - cada um de nós ganhou um beijo na testa, e então eles se foram. 

Não demorou muito até que a notícia chegasse. O socorro realmente veio tarde.

Dezessete DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora