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- Enquanto falava, a última pétala de rosa caiu. Então, o ar se encheu de brilho. A Fera começou a se transformar... - fiz uma pequena pausa dramática e todos aqueles pequenos rostinhos estamparam curiosidade, respirei fundo. - em um belo príncipe! Os objetos encantados se encheram de alegria por recuperarem a forma humana e por ver Bela e o príncipe se apaixonarem novamente. Fim.

- Não importa quantas vezes eu escute essa história, eu sempre me apaixono! - Betsy, uma garotinha de apenas sete anos falou ao meu lado, sorrindo toda encantada.

- Mas ela é totalmente empolgante mesmo! - concordei, abrindo um sorriso.

- Acho tudo isso uma grande bobagem... - retrucou Lucca. - Emma, lê aquela história a respeito da guerra de novo? Isso sim é interessante.

- Por quê você gosta tanto de ouvir isso? Foi tanta tragédia...

- Porquê aconteceu de verdade, não é um faz de conta como isso de fera, ora... - Lucca tinha onze anos, apesar de não parecer, era um garoto muito avançado.

Os dois começaram a debater a respeito do que era ou não uma história que realmente valia a pena ler, enquanto outras crianças entravam no assunto, me levantei e devolvi o livro para a prateleira, passando os olhos para o que mais havia ali.

- Crianças, não precisa disso! Devemos respeitar o gosto de cada um, independente que seja diferente do seu, ou não. - encarei-os - podemos ler uma sugestão de cada um, mas hoje o tempo correu. Lucca, sua história é a próxima, ok? - Ele suspirou, e concordou, me despedi de todos na sala e desci.

Há quase dois anos eu comecei o trabalho voluntário na ala pediátrica no Hospital do Câncer São Miguel, cuidar de crianças, proporcioná-las um único sorriso que fosse me fazia ganhar o dia. Desde novinha, aquele era um ambiente comum para mim; minha irmã sofria da doença e eu ficava entristecida por receber um tratamento tão seco, tão duro. Acredito que se ela tivesse tido a chance de ter alguém que alegrasse seus piores dias naquele hospital, Ayra teria tido uma melhora. Não estou dizendo que cantar ou brincar com as crianças vá curá-las, sei que não, mas sei que as deixariam mais felizes por saberem que tem alguém ali torcendo e fazendo de tudo para seu bem estar. Aquele hospital agora era como minha segunda casa e meu trabalho era trazer alegria para os pequenos.

- Já vai, Emma? - a recepcionista tirou-me dos pensamentos enquanto passava em frente ao seu espaço de trabalho.

- Sim, Marie. Tenho aula em meia hora, já até deveria ter ido... - encarei o relógio em meu pulso, suspirei. - Acho que vou perder o início da aula de inglês.

- A sua dedicação com essas crianças me deixa inspirada. - a mesma se apoiou no balcão que era consideravelmente alto para ela.

- Faço o que posso por elas! Mas agora tenho mesmo que ir, até semana que vem! - me despedi da bondosa senhora de meia idade e fui correndo em direção ao ponto de ônibus mais próximo. Uma nova ocorrência por atraso não cairia tão bem...

Em exatos trinta e três minutos eu cruzei o portão principal da escola com uma correria danada, o sr. Jully tinha uma certa implicância comigo por causa da minha "pontualidade", e ok, ele tinha todo direito e razão para isso; nos dias de trabalho voluntário eu nunca conseguia chegar na hora. Minha sorte foi o sinal estar com defeito e isso gerar uma desordem no início das aulas, entrei pela porta lateral da sala de aula e me sentei sorrateiramente na carteira que minhas amigas deixara para mim no fundo, na esperança de ninguém perceber minha recente presença, porém como nada é perfeito...

    - Eu entendo que queira mudar o mundo, e até admiro isso bastante, Srt. Bonnet, mas se chegar atrasada na minha aula mais uma vez, terei que pedir para se retirar. - o professor me olhou por cima dos óculos e eu me belisquei por não ter tido mais cuidado.

    - Perdão, Sr. Jully, não acontecerá novamente. Prometo.

    - Suas promessas não valem de nada se não cumpri-las. - engoli a seco.

    - Irei me esforçar.

    - Eu ficaria bastante contente. - o Jully até que era um cara legal, pelo menos na maior parte do tempo, ele amava a turma desde que não atrapalhássemos as aulas dele. - Agora, se vocês permitem, o Sr. Carter gostaria de dar continuidade.

O garoto que estava em pé ao lado do quadro, se posicionou de frente para a classe e se apresentou formalmente; ele deveria ter uns vinte e um ou vinte e dois. Tinha olhos verde-folha seca, cabelos castanho claro, e os traços do rosto que davam a transparecer maturidade. Não muito alto e nem muito baixo, tinha o corpo bem bonito, ombros e costas largas, nada exagerado...

    - Quem é o garoto? - perguntou Lua ao meu lado, uma das minhas melhores amigas.

    - É o assistente novo do J., ele está em treinamento, estágio, se não me engano. - respondeu Thai, também melhor amiga.

    - Achei bem... Interessante. - Giovanna, uma garota atrás de nós se intrometeu no meio da conversa.

    - Será que ele fala outros idiomas tão bem quanto usa a língua para beijar? - disse Angie em um tom provocativo para Gio e todas olhamos para ela com certa indignação.

    - O estagiário? Sério, Angel? - questionei.

    - Fazer o que, gente?! Ele estava na festa de boas vindas do colégio, se estivessem aqui comigo, talvez isso não teria acontecido! - ela soltou um sorrisinho satisfeito e se virou para olhar o garoto que ainda falava.

•••

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Dezessete DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora