Capítulo 12

16 0 0
                                    

A moça chorava copiosamente. Se arrependia por ter insistido tanto com Tim, ao mesmo tempo que sentia ter feito a coisa certa. Não queria voltar para a casa sem esclarecer e contar o que sentia. Percebia o coração tomado por sentimentos estranhos: gostava de Tim mesmo sabendo tão pouco dele, mas tinha total noção de que aquela história não tinha futuro. O rapaz tinha uma vida consolidada no Canadá e ela tinha suas obrigações no Brasil. Tinha noção de que nem ele nem ela abriria mão do futuro de sucesso para viver a relação que mesmo no início já era tão forte.

Clara se perguntava o porquê de tantas sensações. Sempre manteve o foco nos estudos e na carreira e nunca se entregou completamente a ninguém. Seus casos não passavam de dois ou três meses e nunca a envolviam de maneira intensa. Teve apenas dois namorados e mesmo assim não conseguiu se envolver a ponto de amar ou sentir que a relação iria para frente. Nem aos pais chegou a apresentar os garotos, que também não faziam muito pelo namoro. Sua maior paixão era o desejo de ver o pai curado, o que viria apenas com muito estudo e dedicação, horas nos laboratórios, noites em claro diante dos livros e abdicação de todos os prazeres para garantir mais espaço nos grupos de pesquisa, garantindo que seus interesses pudessem ser efetivados e que o pai pudesse ter a solução dos problemas.

Queria ser uma pesquisadora de destaque, encontrar soluções terapêuticas que trouxessem melhores condições ao pai e ter o coração calmo. Tim surgia de maneira estranha, misturando as definições que ela trazia no peito. Não estava disposta a deixar tudo para seguir seu coração e investir no único rapaz que até o momento teve a capacidade de despertar algo um pouco mais profundo. Mas ao mesmo tempo pensava que não sentiria aquilo novamente, de modo tão genuíno e espontâneo. Por que tinha ido atrás e insistido para que ele viesse? Por que queria tanto vê-lo de novo? Por que tinha tanta necessidade de olhar novamente nos olhos de Tim e dizer que tinha adorado estar com ele? Aquilo era extremamente novo e nenhum outro rapaz havia provocado tais sensações. O mais doloroso era pensar que um rapaz no Canadá era o responsável por isso, tão longe de tudo.

Doía pensar que estava apaixonada por alguém de tão longe, que não veria mais. E não estava disposta a abrir mão de tantas coisas e de seu maior objetivo para viver um amor tão incipiente.

Deitada na cama, enxugou as lágrimas quando escutou Liz abrir a porta do quarto.

- Lá da rua liguei para mamãe e contei que você passou mal.

- Por que você fez isso? Não queria que ela preocupasse com isso, Liz. Pra que foi fazer isso sem me consultar? Queria falar quando chegasse.

- Clarinha, você vai viajar sozinha durante muito tempo. Vai que acontece algum imprevisto no voo? É importante que mamãe saiba. Disse a ela que queria voltar com você...

- Não, não precisa. Você já tem compromissos agendados aqui, apresentações, plateias cheias e ingressos já vendidos. Não é justo. Eu volto tranquila, pode ficar calma.

- Então mamãe tinha que estar de sobreaviso mesmo.

- Liguei pra ele e pedi pra vir até aqui. Queria dizer que... que eu gosto dele...

- É sério?

- Pela primeira vez eu sinto algo tão forte, intenso. Estar com ele me deixa tão calma e tão serena.

- Esse cara conseguiu fazer com que minha irmã, a moça mais difícil do planeta, derretesse? Amolecesse? Não creio!

- Tô realmente encantada por ele. Pelo carinho, pela atenção... Meu coração está leve e ao mesmo tempo pesado. Pela primeira vez estou apaixonada, mas poxa... Tinha que ser por alguém de tão longe?

- Aqui você também teria condições de realizar suas pesquisas... Esse país é maravilhoso e ontem mesmo você já viu que teria condições de fazer tanta coisa aqui. Não entendo nada sobre sua área, mas fiquei tão empolgada quando você chegou da reunião com tantas notícias boas.

Sublime DevirOnde histórias criam vida. Descubra agora