35 ¶ Consequências.

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"Quando a pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida." — August Cury.

Sofia não relutou ao permitir sua entrada, nem ao menos pensou em me perguntar. Como num ato de desespero, se ergueu do chão e saltou até a maçaneta. Estava tão assustada, sem saber o que fazer, ou o que falar pra me ajudar; que apenas recorreu ao Connor. Connor. Acredita? O pavor turvou seus pensamentos ao ponto de não imaginar as consequências que aquele ato pudesse trazer para nossas vidas.

Eu também não pensei muito. Como pensar?

Talvez fosse culpa da inconsciência que tomou conta de mim, ou o desespero... O medo. Ou o universo que mais uma vez pregava peças na gente.

Sofia abriu à porta rapidamente, e quando Connor bateu os olhos em mim, caída no chão toda ensanguentada, o que ele fez a seguir me deixou sem reação. Ele nem ao menos olhou para Sofia, ligeiramente se jogou ao meu lado, tirou a toalha do meu braço para examinar meu pulso. Seu maxilar travou, os olhos se tornaram um abismo profundo de trevas.

Algo neles se tornou muito triste. Como se estivessem tendo o mesmo déjà vu pela sétima vez.

— Sofia, há uma caixa de primeiros socorros em um dos armários na parte de baixo, na cozinha. Vá buscar! — mandou, sem desviar os olhos do meu pulso. Ela hesitou, aparentemente analisando a situação, se deu conta de quem era ali comigo, ao meu lado, perto demais. — Vai, merda! Quer que isso aqui piore?

Permaneceu me encarando, esperando minha aprovação.

Eu não poderia aprovar aquilo porque... não restava força ou consciência para pensar nas consequências. Connor deixou meu pulso de lado ao perceber que Sofia continuava parada me fitando, sem reagir. Ergueu as sobrancelhas.

— Sofia... — Connor respirou fundo, parecendo tentar manter o controle. — Será que pode ir buscar uma caixa de primeiros socorros? Ela está perdendo muito sangue, olhe o pulso dela! Acha que essa toalha vai resolver algo?

Sofia olhou meus ferimentos, só então voltando a si.

— Eu já volto.

E assim saiu correndo, me deixando com ele. O mesmo não parou o que fazia para me olhar ou falar qualquer coisa. Se esforçava para estancar o sangramento. Três cortes fundos não haviam acertado nenhuma veia principal, ou fora sorte, ou muito azar. Sorri, começando a me sentir ridícula por ele estar me ajudando. As vezes a ironia chegava a ser cruel.

— A vida é mesmo uma droga, não? — balbuciei, um pouco confusa.

Ergueu seu olhar.

— Como?

Ele não tirou a mão do meu braço. Doía demais, mas não reclamei.

— Quem diria que você fosse me ajudar algum dia...

O espaçoso banheiro se tornou um cubículo para nós dois. Um espaço pequeno e sufocante.

Connor forçou um sorriso.

— Quem diria que você iria se machucar logo aqui, no meu banheiro? — indagou. Connor inspirou ar. — Sei que me odeia... Mas não precisava fazer algo assim. Não fiz nada pra você. Eu prometi que não faria!

Franzi o cenho conforme ouvia suas palavras.

Ele achava que era culpa dele?

Não. Pela primeira vez em três anos Connor Rivers não tinha culpa de absolutamente nada.

— Não foi você. — falei de repente. Me fitou,
confuso, como se essa possibilidade não existisse. — Acha que é o único que me machuca? Queria que fosse. Dessa forma, poderia encontrar uma maneira de me defender. Contra um é mais fácil.

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