Capítulo 1

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O vento, soprando através da janela aberta do carro, naquele dia quente e úmido de verão, levantava os cabelos avermelhados que cobriam o pescoço de Lee Abbie, causando um efeito refrescante. Um par de óculos escuros, de enormes lentes ovais, repousava sobre o painel. Ela os tinha tirado algum tempo atrás, pois não queria ter uma visão artificialmente colorida do cenário.

A chuva matinal trouxera nova vida e luminosidade à paisagem de Gyeryong, intensificando o verde das árvores e arbutos que ladeavam a estrada. O ar claro, sem um só grãozinho de poeira, também contribuía para aumentar a beleza da vegetação luxuriante da montanha.

De vez em quando, os olhos cor de mel de Abbie desviavam-se da estradinha serpenteante para admirar as colinas cobertas de árvores e rochas. Nesses momentos, os pontinhos verdes em torno de suas pupilas quase davam a impressão de ser um reflexo da verdejante paisagem.

Tinha havido uma época na vida de Abbie, em que ela não soube apreciar a beleza em torno de si. Queixava-se, então, das estradinhas estreitas que serpenteavam pelas colinas da vila, da falta de diversões e facilidade de compras oferecidas por cidades maiores, além das limitadas oportunidades de emprego encontradas na área, cuja maior fonte de renda era o turismo.

Ao terminar o segundo grau, ela trocou a serenidade das colinas pelo excitamento da cidade. No começo, sentiu-se contente, mas, aos poucos, a nova vida começou a perder o brilho. Um ano atrás, depois de quatro anos de ausência, Abbie voltou para a pequena vila de Gyeryong, seu lugar natal.

Muita gente, inclusive seus pais, não entenderam por que ela havia desistido de uma promissora carreira na Trans World Airlines, uma companhia de aviação sediada em Seul, que lhe oferecia tantas viagens e vantagens financeiras. Sempre que alguém lhe perguntava a razão, o que não era raro, Abbie respondia que ficou com saudades de casa. Mas isso não era inteiramente verdade.

Um homem foi a causa de sua volta, mas ela tinha muito orgulho para admitir que o romance entre eles deu em nada. Em princípio, veio para casa para chorar as mágoas, mas, depois de um ano, a distância lhe mostrou que o romance desfeito tinha sido apenas a última gota, e não a causa principal de sua volta.

Agora, em vez de ter um lucrativo emprego numa enorme empresa, Abbie trabalhava como secretária no escritório de advocacia do pai, ganhando bem pouco, em comparação com seu salário de antes. No entanto, fazendo uma certa economia, ela se ajustou bem à nova vida. Com o dinheiro que lhe sobrou do antigo emprego, reformou o cômodo que ficava sobre a garagem da casa dos pais, transformando-o num apartamento pequeno, mas funcional. Vivendo lá, aproveitava de várias vantagens: tinha privacidade, pagava um aluguel barato e estava perto dos pais.

E havia também Abel, seu carro. Abbie trocou seu veloz carrinho esporte, Porsche, por outro, mais velho e mais barato. Olhando-o, ninguém daria muito por Abel, como ela o chamava. A carroceria mostrava sinais de ferrugem e algumas batidinhas, além de ser bicolor, já que o azul do capô e da porta do passageiro não eram exatamente do mesmo tom que a pintura restante. Mas, se era possível para veículos terem personalidade, Abel tinha e muita! Ele era mal-humorado, tossia e resmungava tanto quanto um velho, mas não havia um pistão ou parafuso estragado em seu motor.

Quando a estrada começou a subir uma colina, Abbie mudou a marcha para uma segunda. O motor soltou um grunhido de protesto, mas Abel não hesitou, o que trouxe um sorriso a seus lábios.

Apesar de julho marcar o auge da estação turística em Gyeryong, havia pouco tráfego na estrada estadual que levava a vila. A maior parte dos turistas preferia usar as estradas maiores, por isso Abbie só passou por veículos das redondezas. Além do mais, era uma tarde de sábado, e a maioria dos turistas já estava se divertindo nas áreas de atração local, em vez de na estrada.

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