Raquel

241 5 0
                                    

Março 2014

O samba ritmado, vindo da bateria da escola de samba local, preenche completamente o espaço. O céu estrelado, sem nuvens e o mar sereno são pano de fundo, perto dela.

Você vai me achar um louco, e talvez eu seja. Não a conheço, sequer sei seu nome, mas estava perdidamente apaixonado por tal beleza.

Ela tem esse sorriso espontâneo, como se nada no mundo a preocupasse, seu samba é leve, sensual. Olhos, como bolas de gude, cabelos longos, ruivos quase loiros, corpo de mulata em pele branca. Brasileira, carioca, gostosa. Que mulher!

Bem que me disseram, que no Rio encontraria as mais belas. Parece que ela percebeu meu olhar e o calçadão ficou pequeno. Tirou as sandálias, subiu na mesa, dançando e encantando. As amigas em volta gritavam e gargalhavam todas altas com o álcool. Mas o que me importa?! Magnífica ela é.

— What's your name*? — Me aproximo. — I’m Richard. You is beautiful and magnificent*!

Ela sorri, parece me entender, mas não responde. Sinaliza que quer ajuda para descer e de bom grado estendo as mãos, ela as coloca na sua cintura e apoia-se em meus ombros.

Santo Deus! O vestido fino me permite ver e sentir sua pele, suas curvas. Ela fez questão de pousar muito perto. Seios firmes, cintura fina, quadris largo, cochas grossas e bunda grande. Cheira a lírios. Enlouquecedora.

— Raquel — ela diz no pé do meu ouvido.

Olha-me mordendo os lábios vermelhos, carnudos, convidativos. Não resisto, busco, com as mãos, sua nuca, segurando-a no lugar. Encostando meu sexo, a essa altura muito pronto, em seu delicado corpo e a beijo.

Ela não resiste, corresponde.

***

— Raquel? É você?

A porta, do pequeno apartamento, foi escancarada e a cara de espanto da mulher em sua soleira, era visível até no breu que o cômodo se encontrava.

— Mãe! Você não estava na casa da vovó?

— Deus misericordioso! Quem é esse homem nu no meu sofá?

— Droga! O que diabos você ta fazendo em casa hoje, mãe?!

— Limpe essa boca suja e cubra-se antes de dirigir a palavra a mim.  Fez tanta questão de me ver fora, por isso não é, Raquel?! Para fazer minha casa de puteiro...

— Mãe, não é isso.

— Seu pai é que tem razão, você é uma meretriz.

— Até para ofender é antiquada.

— Eu ouvi isso! Quem é ele? Por que não se veste e dá o fora do meu sofá.

— Ele é gringo, conheci na praia, não deve estar entendendo nada.

— Mas para abusar de você ele entendeu né?!

— Abusar de mim?! Não sou mais adolescente mãe, cresci, sabe? Preciso de sexo, como todo mundo.

— Fora! Fora da minha casa! Não tem lugar aqui para uma... Uma... Fora!

— O quê? Não tá falando sério, e o Dylan?

— Ah, lembrou que tem um filho né?! Cala a boca! Sou eu quem cria o Dylan há cinco anos e vou continuar criando até minha morte. Nunca permitirei a sua influência sobre ele.

— Isso não vai ficar assim. Você não tem esse direito. Ele é meu filho, não seu.

— Então tá bem. Leve-o com você. — Raquel ficou em silêncio.

— Está vendo, Raquel? Ninguém mais te aguenta, não tem nem para onde ir agora. Quanto mais levar o Dylan. Não para em emprego nenhum. Não para com homem nenhum. É um mau exemplo para o meu neto. Sai de perto de mim, não aguento mais olhar para você.

 E assim fez Raquel, pegou a mão do gringo e saiu do apartamento. 

RaquelOnde histórias criam vida. Descubra agora