Capítulo 5

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Maria não queria acreditar na tamanha traição que acontecia bem a sua frente. Muitos anos vivendo e vendo o amor a levou a reconhecer o menor indício de sua existência. O que não precisa ser dito é que ignorar não muda as coisas, às vezes, até piora tudo.

Quando Gabriel conversou a respeito da prima afastada, ela não quis acreditar naquele brilho travesso do seu olhar. Assim como não quis acreditar no ar sonhador que viu neles mais jovens.

Todos sabiam do carinho existente entre os primos, momentos ciumentos e possessivos entre os dois nunca foram novidade.

— Sai de perto dela! — gritou um Gabriel adolescente, quando a pentelinha ruiva arrumou briga na porta do colégio e saiu com um dente a menos. Um Gabriel que com seus quatro anos a mais, não se intrometia em assuntos de criança. A exceção: Raquel é claro.

— Tia, não fale assim com ele! A culpa é minha. — atreveu-se a não tão pequena Raquel. Apesar do gênio forte, de querer tudo a sua maneira, sempre fora altruísta, isso se evidenciava com Gabriel.

O que avó Maria não quis ver e recusou-se a aceitar foi à possibilidade do amor se sexualizar. Naquela conversa com o Gabriel de hoje, antes da reaproximação dos dois, ela o advertiu e tola foi em crer na sua resposta.

— Não consigo imaginar a Kelzinha mãe, esposa e adulta. — sorriu ele nostálgico — É estranho. Acho que só vou acreditar vendo, vó.

— Ela se tornou um mulherão, seu tio tem muito que se orgulhar, eu, particularmente, não acreditei que aquele moleque teria jeito.

— É, ela era mesmo um moleque, acho que nem eu imaginei ela como mulher.

— Uma mulher, que não é pro seu bico.

— Que isso vó? Expressei-me mal...

— Por que o espanto, vocês são homem e mulher. E se está pensando em se reaproximar com esse proposito, esqueça.

— Ela é família, crescemos juntos. Quando penso nela vejo bochechas rosadas por conta do pique da queimada e a risada estrondosamente infantil, não teria como imaginar outra coisa.

— Acho bom mesmo. Se não, você vai se vê comigo, mocinho.

Maria apesar de ser considerada carrasca, queria o bem dos seus. Se conhecia bem seu filho e se sua, tão acertada, suspeita se confirmasse ela teria um tsunami familiar nas mãos.

— Terra chamando! — Gabriel passou a mão na frente do rosto de Maria a tirando de seus devaneios.

— Oi meu filho, o que esta fazendo aqui hoje? Não deveria estar no escritório?

— Meu pai acordou de ovo virado, vó. Tá intragável ficar no mesmo ambiente que ele, seria muito heroísmo pra mim. Sou covarde.

Maria olhou seu neto de canto de olho, mas se calou. Queria chegar a outro tópico.

— Você foi visitar o Dylan?

— Estive na casa da Kel na terça.

— E como estão as coisas?

— O pequeno está bem melhor, finalmente conheci o Diogo...

— E o ciúme está te corroendo.

— Não somos mais como antes, vozinha. Não tenho mais aqueles ciúmes de irmão, isso passou.

— Seus ciúmes nunca foram de irmão, Gabriel. — Maria sustentou o olhar do neto que não desviou, e depois de inspirar profundamente respondeu.

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2014 ⏰

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