Capítulo 4

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Era 15 de março, Aurélio já não era mais um bebê, era um lindo menino de dois anos. Minha mãe e eu decidimos levá-lo à praia para comemorar o aniversário dele, era a primeira viagem de nós três juntos a praia, Angra dos Reis era o destino da nossa família. Fomos ao shopping a fim de compar as passagens, e algumas coisinhas que estavam faltando para a viagem, ficamos durante todo o dia por lá. Essas idas ao shopping acabam tomando muito tempo, mas às vezes é bom tirarmos um tempinho para relaxar, todo mundo merece algumas horinhas de lazer e descanso. Voltamos depois de longas 04h15min no shopping, e fomos dormir um pouco para descansar. Dormimos todos na cama da mamãe os três bem grudadinhos e quando acordamos terminamos de arrumar as malas, era muita coisa para levar. O filhote vivia correndo até o quarto dele para pegar os brinquedos para levar na viagem, e para te falar a verdade foi uma mala só de brinquedos. Ele vivia falando "mamãe só mais esse!", Era difícil dizer não. Terminamos de arrumar tudo e colocamos as malas no carro. Havíamos acabado de sair de casa estávamos na avenida principal da cidade rumo ao aeroporto.

__ Será que trouxemos tudo? __ Questionava minha mãe enquanto mexia na bolsa.

__ Sim mãe, conferimos três vezes! Está tudo certo. Daqui a pouco chegamos a Angra.

__ Não vejo a hora. __ Ela se virou a fim de jogar a bolsa em cima do banco de trás foi quando a nossa viagem foi interrompida, ouvi um carro derrapando sobre o asfalto e em alta velocidade veio em nossa direção, eu estava no volante, minha mãe no banco do carona e Aurélio na cadeirinha atrás de mim, joguei o carro para a direita, e conseguimos desviar, foi tudo tão rápido que eu não consegui nem ao menos ver o modelo do carro.

__ Está tudo bem? Filha, Aurélio fala com a vovó!

Rapidamente olhei para trás, e vi que ele estava bem, ele estava achando tudo divertido, não tinha noção do perigo que tínhamos corrido.

__ Estamos bem, mãe fica calma! __ Respiramos aliviadas quando de repente veio outro carro em nossa direção, tentei desviar novamente, mas não tive tempo, uma Mercedes-Benz prata bateu na traseira do nosso HB 20 nos impulsionando para frente, não me lembro bem do que houve, só lembro-me do carro capotando, desmaiei e não me recordo de mais nada. Quando acordei estávamos no hospital, ouvi uma voz dizendo meu nome, era o médico me perguntando se eu estava bem.

__ Ana, Ana!

__ Meu filho? Meu filho mãe? __ Estava meio zonza, e não conseguia entender bem o que ele dizia.

__ Vai ficar tudo bem. Acabei pegando no sono, os remédios eram muito fortes. Quando acordei minha mãe estava do meu lado segurando a minha mão, lembro-me que ela tinha um ferimento na cabeça, e também havia quebrado o braço esquerdo, com voz trêmula e com lágrimas nos olhos ela me olhava.

__ Mãe você está bem? E o Aurélio como ele está? Onde está meu filho, mãe? Pelo amor de Deus me fala! __ Ela não desgrudava os olhos de mim e ficava repetindo que me amava. Segurou em minhas mãos e disse:

__ Filha eu te amo muito! Eu não sei o que faria se tivesse acontecido algo com você, eu sinto muito, os médicos não conseguiram fazer nada.

Desesperada e não podendo acreditar no que estava acontecendo, perguntei mais uma vez por ele.

__ Me diz mãe onde está meu filho? __ Ela acariciou o meu rosto e me abraçou.

__ Meu amor, ele se foi, ele está com Deus agora.

Meu coração parou e vi meu mundo desabar pela segunda vez, eu não podia acreditar no que estava acontecendo, perdi meu chão, a minha alegria de viver, não conseguia suportar aquela dor. Levantei-me da cama, comecei a correr de um lado para o outro, gritava desesperadamente, pedia para que ele voltasse. Batia com as minhas mãos, bem forte na parede, ajoelhei-me e pedi a Deus para que ele devolvesse meu filho. Minha mãe desesperada tentava me controlar com a ajuda do Doutor Diogo, o médico que havia me atendido.

__ Calma filha, eu estou aqui!

__ Você precisa se controlar tenha calma, você acaba de sofrer um acidente! __ Dizia o médico tentando me deitar na cama.

Ouvia aquelas palavras, mas nada conseguia acalmar meu coração, questionava a Deus a todo o momento sobre o porquê daquilo ter acontecido. Não dá para entender porque acontecem essas coisas. Que mal eu fiz a vida? Por que isso estava acontecendo comigo? Por que a vida estava me punindo dessa maneira? Zonza pelos remédios que o médico havia me dado dormi novamente, só acordei no dia seguinte. O médico me examinou e viu que estava tudo bem na medida do possível; então recebi alta. A cada passo que eu dava sentia minha dor aumentando sabia que estava indo ao encontro do meu filho, mas eu o veria mais uma vez, mas dessa vez ele estaria morto. Entrei naquele carro e segui para casa para me arrumar para o funeral, quando cheguei em casa tudo estava em silêncio. Eu já não ouvia aquela doce voz chamando por mim, dizendo mamãe, me chamando para brincar, me pedindo colo. Eu caminhava quase sem forças fui até o quartinho dele olhei para o berço e ele não estava lá. Não podia me conformar com o fato de nunca mais vê-lo, era uma dor insuportável. Tomei um banho e vesti uma roupa preta, sem brilho, sem cor e sem vida, assim como eu me sentia. Sentei na cama, e comecei a refletir sobre tudo o que estava acontecendo, mas pensamentos foram tomados pelas doces lembranças, mas interrompidos pela voz trêmula da minha mãe dizendo que tínhamos que ir.

__ Meu amor temos que ir, já está na hora de nos despedirmos de nosso anjinho. __ Ela me abraçou por trás. Senti suas lágrimas molhando meus cabelos. Levantei-me e entramos no carro, seguimos para o cemitério central, quando desci havia várias pessoas acompanhando tudo. O Pastor Marcos começou a fazer o culto e ele falava sobre a morte e como deveríamos nos comportar diante dela.

__ Amigos, hoje estamos aqui para nos despedirmos de Aurélio. Um menino que encheu sua família de alegria, que proporcionou a todos bons momentos enquanto esteve aqui. Ele se foi, está ao lado de Deus agora, entretanto não devemos encarar a morte como a mais tirana expressão divina, mas encarar a vida como uma benção. Deus nos deu um tempo, e esse tempo nos leva a viver aqui na terra, ao lado de quem nós amamos. Não devemos pensar que ele se foi, mas sim que ele esteve aqui, e sua presença fora muito importante e será lembrada por todos.

Eu não conseguia pensar em nada, quando o culto acabou recebi abraço de muitas pessoas, enquanto isso o caixão era fechado, mas ver aquele cortejo seguindo um pequeno caixão branco com uma coroa de rosas coloridas por cima era algo que me desesperava não me conformava com aquilo que estava acontecendo. Nessas horas começamos a pensar na vida, e a nos questionar sobre o verdadeiro valor dela, perdemos tanto tempo com coisas inúteis e deixamos de lado tanta coisa importante. Eu deveria ter aproveitado melhor o meu tempo, deveria ter curtido mais o meu filho, agora já é tarde demais. Hoje o sol já não brilha os pássaros não cantam as flores não desabrocham, as árvores se calam o universo para. Isso tudo para mostrar que quem se foi nunca mais volta.

Joguei sobre o caixão de Aurélio uma rosa branca e logo após os coveiros jogaram por cima do caixão um amontoado de terra. Já era o fim.

__ Meu amor, saiba que a mamãe irá te guarda pra sempre no coração, eu nunca vou te esquecer! __ As lágrimas caiam sobre a terra e a molhava. De um a um as pessoas foram deixando o cemitério.

__ Aurélio, saiba que a vovó ama muito. E eu vou cuidar da mamãe, você vai fazer falta. __De mãos dadas e em silêncio deixamos aquele lugar. Em lentos passos nos distanciamos dele.

Jorge cercou Jenni na saída do cemitério.

__ Jenni espera, quero falar com você! __ Dizia ele tentando pará-la.

__ Fala logo. O que você quer? __ Ela respondeu com as mãos na cintura e com a testa franzida.

__ Sei que esse não é o momento, mas precisamos conversar. Olha, eu sei que te magoei e que não correspondi as suas expectativas, mas não precisa ser tão dura comigo. Me perdoa? Me dá mais uma chance, dessa vez vai ser diferente eu juro!

__ Olha só Jorge, você sempre soube que eu era apaixonada por você, se você não queria ficar comigo tudo bem, mas não precisava ficar com outra na minha frente, tínhamos acabado de nós beijar. Eu sonhei com aquele momento, você podia ao menos ter esperado eu virar as costas. __ Jenni dizia chateada. __ E quer saber de uma coisa, como você mesmo disse, não é hora nem lugar para conversamos. Adeus!

__ Espera Jenni amanhã eu vou embora do país, não poderemos falar depois. Eu percebi o quanto você é importante para mim, esse gelo me fez perceber que eu estou apaixonado. __ Ela virou as costas e seguiu seu caminho. Jorge percebeu que Jenni era mais importante do que ele pensava, mas ela estava decidida e não ficar com ele mais. A final de contas a vida da volta não é mesmo?   

A VIRADA DE UMA ADOLESCENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora