Partiram de Nova Orleans logo após o amanhecer do dia seguinte, antes que se espalhasse a notícia de que o astro estaria outra vez no aeroporto. Aterrisaram em Bossier City e seguiram para casa no velho Volkswagen. Jo olhava em volta, para a paisagem tão conhecida desde sua infância, e sentia-se apreensiva, como se houvesse deixado para trás uma era de sua vida e iniciasse outra, mais nova e incerta.
— Estranho — murmurou. — Ficamos fora só um dia, mas tudo parece estar diferente. — Menos a mão de E.Z. segurando a sua, pensou. O toque morno em sua pele era-lhe mais familiar do que as coisas que havia conhecido durante toda a vida. Fitou o rosto dele quase com adoração, decorando o contorno do queixo, o nariz reto, o azul cristalino dos olhos.
— Para onde quer ir? É só dizer.
— Mas você não tem que trabalhar no disco?
— Está quase pronto. A maior parte das músicas já foi gravada em fita. Só preciso dar uns retoques finais. Portanto, o dia é seu.
Jo ficou pensativa, imaginando o que a satisfaria mais naquele momento. Seria delicioso passar algumas horas com E.Z., só os dois, como se o resto do mundo não existisse. No entanto, havia uma menina só e desamparada, precisando mais que ela de carinho e amor.
— Quero ver Cármen — decidiu.
— Certo. Eu também preciso ver meu violão. Quero ter certeza de que Chris não vendeu para o depósito de lixo.
— Mentiroso. Você quer ver Chris. Uma noite fora e você age como um pai que não encontra os filhos há uma semana.
— E, formamos um grande par, Ruiva — ele admitiu, rindo. Durões por fora e sentimentais por dentro.
Minutos depois, o Volks cruzava os portões do Sullivan. Encontraram Cármen no pátio, sentada em um monte de terra, chorando em altos brados e com lágrimas escorrendo pelo rosto. Seus primos brincavam de pular corda a poucos metros de distância, mas já deviam estar tão acostumados com o choro que nem ouviam mais. Com o coração partido, Jo correu na frente de E.Z. e parou diante de Cármen. Ao vê-la, a menina levantou os bracinhos, pedindo colo. Jo a ergueu do chão e enxugou-lhe as lágrimas.
—Eles a estavam ignorando — murmurou para E.Z.
— São apenas crianças, Jo. Eles não têm culpa de nada.
Jo fitou as crianças brincando e sentiu uma certa pena. Eles também eram vítimas. E nem sequer haviam reparado que ela pegara Cármen no colo. Tentando controlar a hostilidade na voz, Jo chamou a menina mais velha.
— Onde está seu pai? Preciso falar com ele.
— Está lá dentro, se arrumando para trabalhar. Vai colher morangos em uma fazenda aqui perto.
— Então ele arranjou emprego?
— Não, é só hoje. Nós vamos ficar cuidando de Cármen.
A menina voltou correndo para a brincadeira. Jo, indignada, entrou no galpão com Cármen nos braços. Encontrou Juarez sentado junto à mesa montada pelos voluntários da igreja, es-forçando-se para preencher um formulário para requisição de auxílio governamental. Sem poder controlar a raiva, Jo aproximou-se dele.
—Encontrei Cármen chorando lá fora. Ninguém prestava atenção nela.
Juarez levantou os olhos para a criança que ainda soluçava e, em seguida, voltou o rosto cansado para E.Z. Parecia carregar nas costas o peso do mundo.
— É difícil fazer os meninos entenderem que ela é só um bebê. Eles perdem a paciência por causo do choro.
— E mesmo assim você vai sentir e deixá-la aqui com eles?
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JO - Quatro Destinos 2
Romans⚠⚠ ATENÇÃO ⚠⚠ Livro não é de minha autoria. Gostei da série e resolvi publicá-las. Essa série são de 4 autoras que se juntaram e cada uma ficou com um livro. Espero que gostem. Uma rebelde procurando apaixonadamente por uma causa digna de sua nature...