Alguns dias se passaram desde que virei sereia, tudo estava bem até então. Eu tinha aprendido como seria minha vida daqui para frente, e posso dizer que foi divertido meu treinamento na aGua.
Sempre amei nadar, e agora com uma calda posso nadar dez vezes mais rápido.
Minhas irmãs estão se acostumando com a minha presença, Jhena até estava mais simpática. A convivência na casa era ótima, uma ajudava a outra mas cada uma tinha suas obrigações.
Hoje por exemplo era o meu dia de fazer compras para casa.
Levantei cedo e peguei um vestido soltinho e simples de Bella, as meninas ainda estavam durmindo quando sai de casa.
--Bom dia minha Lyssa- A aGua disse.
--Bom dia aGua- Respondi e continuei andando.
Cheguei ao centro daquela cidadezinha onde havia uma pequena feira.
Tudo era animado e lindo, as barracas de flores eram as minhas favoritas. Mas eu estava ali atrás de frutas, as meninas adoravam fazer tortas, principalmente de morango, mesmo que nós não precisássemos comer, era sempre bom matar a saudade de nossas comidas favoritas.
--Senhoras e senhores quero saber quem está animado para o show?- Um homem vestido com uma roupa engraçada e larga diz.
Ele estava em um palco improvisado e atrás dele tinha uma cortina vermelha, chuto que ele só estava abrindo o show é que logo depois apareceria uma outra apresentação. Mesmo assim sua apresentação não perdeu seu encanto, várias crianças em volta riam de qualquer careta que ele fazia, até mesmo adultos pararam para observar.
Continuei meu trajeto.
Ao lado de uma barraca de peixes estava uma mulher sentada ao chão sujo, suas roupas pareciam sujas e gastas, porém seu rosto não deixa de esbanjar beleza e juventude. A jovem garota, que aparentava ter 15 anos, cantava e estendia um chapéu Panamá que também estava gasto.
Me aproximei e coloquei 6 moedas de ouro em seu pequeno chapéu. A garota para de cantar e se levanta, seu rosto mostrava surpresa.
Abri um sorriso para ela.
--Eu...eu acho que a senhora me deu muitas moedas não?- Ela pergunta me estendendo o chapéu- 6 moedas de ouro são muito.
Balancei a cabeça em forma de negação e empurrei o chapéu. A garota abriu um sorriso enorme e me agradeceu milhões de vezes antes de sair correndo gritando "mamãe".
Continuei a caminhar pela feira.
Era tão lindo, a paz daquelas pessoas me dava inveja. Nunca consegui andar livremente pelas ruas, sempre de cabeça baixa e não falar com muita gente. Aqui era diferente, todos se cumprimentavam.
Fiquei encantada com tudo que vi, eles vendiam de tudo até flores, as mais bonitas e perfumadas flores.
Parei na fila para comprar leite, mas estava demorando muito. Foi então que reparei na senhora na minha frente.
Seu casaco estava gasto assim como seus sapatos, seus cabelos já tinham se tornado completamente branco, suas rugas e seu enorme sorriso deixavam claro de que sua vida foi bem vivida.
--Desculpa pela demora querida, eu não acho minhas moedas- Ela diz e começa a rir de si mesma- A idade está me deixando cada dia mais lenta.
Sorri. Ela era estabanada, sorri mais uma vez ao ver ela comemorando quando achou suas moedas em sua pequena bolsinha.
--Aqui esta senhor- Ela disse pagando o vendedor - Agora atenda essa linda moça.
Ela apertou minhas bochechas e saiu.
Eu estava pagando pelos leites quando ouvi um Paff , a senhora deixou cair um pequeno caderninho no chão.
Corri peguei o caderno e a cutuquei.
--A senhora deixou cair o caderninho--Eu disse quando ela se virou.
No mesmo instante seu sorriso aumento e seus olhos dilataram.
--aGua- Ela disse baixinho.
Franzi a testa. Oque?.
Ela começou a olhar em volta, e sorriu quando avistou um enorme barril com água. A senhora passou por mim e andou devagar até o barril, começou a cantar baixinho, a mesma música que eu ouvi quando eu estava no navio com a minha família.
Fiquei observando até perceber oque tinha feito, Eu falei!!!.
Sai correndo do lugar antes de ver a idosa enfiando sua cabeça na água para morrer logo em seguida.
Eu acabei de matar uma senhora inocente. Foi então que eu pensei, será que viver vale tanto a pena assim?.[...]
Voltei para casa e encontrei as meninas me esperando na sala, quando me viram se levantaram e me encararam, todas com semblante triste.
Meu rosto estava sério, isso porque fui esperta e parei para chorar em um canto longe delas e da aGua. Queria guardar aquele desastre só para mim.
--A aGua nos contou oque aconteceu- Rosse disse.
Talvez eu não tenha sido tão esperta assim.
--E como a aGua sabe?
--Bom... aquela mulher morreu afogada, a aGua sentiu.
Assenti e baixei a cabeça, e todas vieram me abraçar.
Será que é tão difícil assim esconder alguma coisa da aGua ?.
--Lyssa- Jhena falou, levantei a cabeça para encara-la- Só quero dizer que nem nós,e nem a aGua, estamos chatiadas com você, foi um assidente, acontece.
--Aconteceu com você?
--Não, mas...
--Claro que não né Jhena, porque você é sempre tão certinha--Eu disse, Jhena me olhou com o olhar de quando me viu na praia pela primeira vez-- Desculpe, não quero ser grossa logo agora que você está tão legal comigo, mas isso não se trata de você ou da aGua, se trata de mim.
Respirei fundo e continuei.
--Eu não estava pronta para isso, eu não queria que isso acontecesse, eu sei que vou ter que cantar daqui alguns meses mas não agora. Além do mais, eu conheci um pouco daquela senhora e ela não merecia morrer.
--Nós entendemos Lyssa, mas ninguém que vamos matar merece morrer-- Bella diz e passa as mãos nos meus cabelos- São sempre pessoas inocentes, crianças até.
Balanço a cabeça com raiva.
--E porque a aGua não se alimenta de outra coisa?, Ou então porque não faz sozinha?, Porque temos que fazer o trabalho sujo para ela?- Pergunto.
--É um ciclo Lyssa, a aGua tira vidas mas também nos dá vida- Jhena diz.
--Sim sim, nos dá vida e beleza e blá blá blá...
Elas riem.
--Não digo "nos dá vida" nesse sentido-Ela diz fazendo aspas com os dedos- Quero dizer que sem a aGua a terra não sobreviveria, então para isso a aGua precisa se alimentar.
Assenti, mas no fundo eu ainda estava com raiva. Aquilo não estava certo para mim, e nada do elas ou a aGua me falassem mudaria minha opinião.
--Vá para o quarto e descanse- Bella disse e me abraçou- Te acordamos pro jantar.
Balancei a cabeça e segui para o quarto decidida a durmi.Fechei a porta e o tranquei. Depois peguei o pequeno caderninho dentro da minha bolsa, ele pertencia a senhora que tinha acabado de matar.
O caderninho era reforçado com couro mesmo assim estava gasto, um lacinho de fita prendia o pequeno caderninho, e "Família Evans" estava bordado na capa.
--Você vai ser meu segredinho- Eu disse.
Escondi ele em um fundo falso de um baú que Rosse me deu.

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The Mermaid
FantasyE se existissem sereias? E se em uma viagem qualquer de navio ou em uma visita a praia você se deparasse com uma mulher metade peixe metade humana?. Essa é a história de Lyssa, que deu sua vida por 100 anos a aGua para não morrer, mas nesse tempo ac...