Capítulo 6

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  Era a primeira vez em anos que eu saia pra um lugar que tivesse pessoas. Eu preferia ficar sozinha e evitar de que acidentes acontecessem.
  No entanto eu estava adorando cada segundo naquela feira lotada. A empolgação de Eva com cada mínima coisa me empolgava ainda mais.
- Belas senhoritas, gostariam de provar estes lindos chapéus? - Um senhor de idade ofereceu. Ele esbanjava humildade e seus sorrisos eram acolhedores como abraços.
  Eva sorriu e vestiu o chapéu com a ajuda do homem. Logo após se virou para mim com uma careta e uma pose.
  Sorri; e afirmei com a cabeça animada.
  Realmente o chapéu tinha deixa Eva ainda mais bonita, o chapéu destacou seus longos cachos castanhos e fez com que se parecesse realmente uma estrangeira. A cada paço atraiamos  olhares, os olhares apaixonados dos rapazes só me fizeram lembrar da minha realidade. Eu era uma assassina.
  Então, enquanto Eva se animava escolhendo as verduras para o jantar, eu me ocupei em olhar os morangos. Minha fruta favorita, era uma das últimas coisas que eu lembrava da vida passada.
   Fui ao chão, alguém tinha esbarrado em mim, péssima hora. Agradeço a os céus por terem me lembrado de que não poderia gritar com o rapaz de boné verde, a não ser que eu quisesse fazer mais um capítulo em uma das minhas cadernetas.
-Sinto muito - Ele disse enquanto me ajudando a levantar - Sinto muito mesmo.
  Ele chegou por alguns segundos se eu não tinha um arranhão qualquer, dava para ver que se sentiria culpado por qualquer ferimento que tivesse me causado.
   Depois de garantir que eu estava bem, passou a mão no rosto e bufou.
-Puxa estou tão cansado, as encomendas de bolos não param de chegar e eu sou vaidoso demais para para de aceita-los - Ele riu e continuou - Achei que já estava ferrado o bastante quando tive que comprar o terceiro botijão de gás em um mês. Mas olha só - Ele apontou pra mim - Estou derrubando mulheres na feira também.
   Sorri. De alguma forma aquele rapaz fez com que seu desespero e sua agitação se tornassem piada, o que me fez, pela primeira vez, querer conversar com um humano.
-Você se machucou? Tenho alguns remédios em casa se qui... Ou então posso pedir desculpas com frutas, veja.
  Ele se vira e começa a separar alguns morangos.
  Seguro o braço dele e nego com a cabeça.
-Bom, peço desculpas apenas com palavras então - Ele disse e riu.
   Eu sorri e assenti com a cabeça.
   Ele me olhou por alguns segundos, eu estava começando a achar que era a sereia afetando ele, mas então ele ficou vermelho e olhou para o chão, envergonhado.
-Eu tenho que ir, ainda tenho algumas remessas de bolos para hoje - Ele disse.
  Eu assenti e sorri, ele ficou envergonhado outra vez.
-Bom, talvez dá próxima vez que nos encontrarmos você fale mais.
  Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e saiu pela feira.
  "Próxima vez que nos encontrarmos", eu estava torcendo para que realmente acontecesse.

-Venha Eva - Sussurrei.
-Onde estamos indo? - Ela perguntou pela centésima vez.
-Shiii - Eu disse.
   Parei atrás se um banco de madeira e Eva fez o mesmo, ela acompanhava meu olhar curioso pelas ruas até que viu o que eu realmente estava olhando, e me escondendo.
-Você está de olho no loirinho? - Ela disse pra me provocar.
  A ignorei totalmente e reparei em seus cabelos. Eram loiros, o boné tinha feito com que todo aquele topete loiro ficassem escondidos. Um crime.
   Suspirei. E Eva riu.
   A puxei pelo braço para o outro lado da rua, estava mantendo uma distância ideal para que eu pudesse enxergar bem e que o garoto não conseguisse me ver.
-Ai - Eva resmungou ao deixar um dos sapatos cairem.
-Eva, vamos logo - Eu apressei.
   Paramos em um campus, parecia uma escola. Era um campo enorme e aberto, coberto por árvores, bancos e mesinhas.
   Havia milhares de pessoas sentadas espalhadas pelo gramado, algumas com livros, outros rindo, mas o que me interessava era o garoto do boné verde, o qual eu perdi de vista.
-Você tá vendo ele? - Sussurrei.
   Eva parecia mais interessada em admirar o grande prédio que cercava o campo, era realmente lindo, eu também o observaria se eu não tivesse tão determinada em encontrar o garoto.
   Bufo e adentro o campo. Eva vem atrás quando percebe que não estou mais ao seu lado.
  Afinal, o que eu iria realmente dizer para o rapaz? Quer dizer, não diria nada, minha voz é mortal. Então porquê tanto esforço?.
   Não suportaria o garoto sorridente ser atraído pela água por um deslize meu, poderia acontecer até abruptamente, um suspiro ou uma simples risada já seriam capaz de sentencia-lo a morte.
   Para que correr o risco se posso mante-lo seguro ficando longe? Era isso que iria fazer, protegê-lo.
   Puxo Eva pelo braço de volta para casa. Seria uma longa noite, ou longos 20 anos.

 

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2019 ⏰

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