O Manifesto Comunista

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"Os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham".
(Karl Marx e Friedrich Engels)

Há cerca de 150 anos, quando Marx e Engels produziram o pedido da Associação Internacional dos Trabalhadores, o Manifesto Comunista, a Europa vivia um período de intensa manifestação revolucionária, que passou a ser conhecido como "A Primavera dos Povos". A dupla que já considerava a ação dos Anarquista e Socialistas incapaz de estruturar o movimento revolucionário para conduzi-lo a uma vitória definitiva sobre a sociedade capitalista, ao escrever o Manifesto, visava orientar a ação dos trabalhadores, que em primeiro plano, deveriam objetivar a configuração de um Estado Proletário.
Essa obra, além das pretensões explícitas, em sua época, também significou a inserção de uma nova corrente ideológica, denominada comunista, no movimento operário. Marx teorizava que o comunismo, como sistema econômico, negaria a propriedade privada e priorizaria os meios de produção socializados. Essa idéia induzia os proletários a acreditarem que a produção da sociedade deveria ser apropriada socialmente e não só por alguns indivíduos, como acontecia dentro do sistema capitalista. Na prática, o termo comunista apenas se refere às obras e às idéias de Karl Marx e, posteriormente, de diversos outros teóricos, inclusive Friedrich Engels, Rosa Luxemburgo, Vladimir Lênin, Leon Trotsky, entre outros.
A palavra em si, apareceu pela primeira vez na imprensa em 1827, quando Robert Owen se referiu aos socialistas dizendo que eles consideravam o capital comum (daí comunismo) mais benéfico do que o capital privado. O gaulês, nascido em 1771, considerado um reformador social utópico é tido como "Pai do Movimento Coperativo". Apesar de sua origem humilde, chegou a possuir uma grande fábrica na Escócia. Nela, reduziu a jornada de trabalho para 10,5 horas diárias, ergueu casas para operários, fez o primeiro jardim-de-infância e a primeira cooperativa. Em 1817, Owen evoluiu da ação assistencial para a crítica do capitalismo. Em março de 1825, mudou-se para os Estados Unidos, onde comprou por 125 mil dólares, uma colônia situada na Pensilvânia, que passou a ser conhecido por Nova Harmonia. No local, tido como uma colônia socialista, os primeiros colonos tomaram posse de 30 mil acres de terra, uma aldeia completa com 160 casas, igrejas, dormitórios, fábricas de farinha, fábrica têxtil, destilarias, cervejarias, um curtume, lojas de vários ofícios e mais de dois mil acres cultiváveis, divididos em de vinhedos, pomares, pastos e bosques. Na época, a colônia foi considerada por muitos como uma "comuna de portas abertas", que abrigava, inclusive vadios. Segundo as cartas que Owen enviava a seu filho, nela não havia nem trabalhadores nem materiais de construção mais mesmo assim, ele insistia em dar instruções para a criação de outros esquemas visionários, nada práticos (Robert Owen faleceu em 1858).
As palavras socialismo e comunismo, que foram usadas como sinônimos durante todo o século XIX, só passaram a ter uma definição, após a Revolução Russa, no início do século XX. Na época, Vladimir Lênin entendeu que o termo socialismo já estava muito deturpado, mas segundo sua teoria, o comunismo só seria atingido depois de uma fase de transição pelo socialismo, aonde ainda haveria uma hierarquia de governo.
De acordo com as teorias marxistas, a principal característica do modelo de sociedade comunal consistia na abolição da propriedade privada, e conseqüentemente, na orientação da economia, que deveria assumir uma forma planejada, embora algumas vertentes do socialismo e do comunismo, identificados como anarquistas, também defendessem um socialismo baseado na abolição do estado.
Essas diferenças se tornaram visíveis durante as reuniões da primeira Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), que culminaram com diversas divergências entre os Marxistas, que acreditavam na necessidade de tomar o poder do Estado para realizar a Revolução; e os Bakuninistas, que acreditavam que não haveria Revolução se o Estado não fosse abolido junto com o capitalismo.
A ATI, também chamada de Primeira Internacional, foi fundada em 1864, na cidade de Genebra. Ela era uma organização que procurava unir vários grupos políticos de esquerda e sindicatos que atuavam a favor da classe operária. A decisão mais importante do primeiro evento foi à adoção da jornada de trabalho de oito horas.
A associação surgiu de forma, quase que, involuntária. Napoleão III, numa tentativa de agradar a classe operária francesa, permitiu que 200 representantes eleitos fossem a Londres participar da Grande Exposição de 1861. Os trabalhadores franceses aproveitando a oportunidade travaram contato com os sindicalistas ingleses que os recepcionaram. No ano seguinte, houve um novo encontro, que entre outras coisas, pretendia manifestar apoio à causa da independência da Polônia. Desta vez, o convite enviado aos trabalhadores franceses mencionava as dificuldades pelas quais os sindicalistas ingleses passavam. Eles explicavam que, em toda tentativa de greve, os patrões ameaçavam importar mão-de-obra, e cogitaram que, se os trabalhadores dos mais diversos países europeis cordenassem os movimentos sindicais, a situação poderia ser contornada. Os sindicalistas franceses responderam rapidamente o convite e rumaram para o encontro, que também contou com representantes da Alemanha, Itália e Suiça. Reunidos, eles deram origem a Associação Internacional dos Trabalhadores.
Originalmente, a organização liderada por Marx, continha em ordem de quantidade, sindicalistas ingleses, proudhonistas franceses, republicanos italianos e marxistas alemães. Algum tempo depois, disputas entre Marx e Bakunin, o anarquista mais proeminente da Internacional, provocou a divisão entre os marxistas e os anarquistas. Os países europeus de língua latina se alinharam aos anarquistas e os países anglo-germânicos se alinharam a Marx.
Com essa divisão, em 1871, a Comuna de Paris não contou com o apoio  nem da AIT, nem de Marx, que numa carta endereçada a Engels, escreveu que, "os franceses precisam de uma lição". Na época, Bakunin, que também não prestou ajuda aos trabalhadores franceses, para justificar sua atitude também escreveu que "a França deve ser salva pela anarquia". Posteriormente, ele tentou uma insurreição em Marselha para dar apoio à Comuna, mas não obteve nenhum êxito. O próprio Engels admitiu que "a Internacional não levantou um dedo para fazer a Comuna". Mas após a Comuna ter sido afogada em sangue, o seu mito serviu de bandeira para a Internacional.
Após o fato ter sido consumado, Marx oportunamente - talvez até por influência de Engel - proclamou que a Internacional deveria assumir a herança da Comuna e levar seu projeto adiante. A declaração assustou os governos europeus, que temiam que as idéias dos revolucionários franceses se espalhassem, provocando novos levantamentos.
Diante da repressão que se seguiu, os congressos da AIT tiveram que se tornar secretos e o comparecimento às conferências se reduziu significativamente. Marx continuou a atacar Bakunin; os ingleses, assustados com a violência associada à Comuna, formaram uma federação autônoma; os banquistas franceses renunciaram; Bakunin foi expulso e seus seguidores abandonaram a associação. Com a organização se desmantelando, Marx aprovou a transferência de sua sede para Nova Iorque, onde além de não haver nenhum movimento operário importante, a distância da Europa era bastante grande.
Quatro anos mais tarde, na conferência que aconteceu na Filadélfia em 1876, a Primeira Internacional foi dissolvida. Durante cinco anos, houve tentativas para recriá-la. Em 1889, foi criada a Segunda Internacional caracterizada pelo cunho marxista. Enquanto isso, as organizações Bakuninistas, constituídas pelas federações operárias do Jura Suiço (região montanhosa, localizada no noroeste da Suiça), da Itália e da Espanha continuaram em contato. No início do século passado, em 1922, esses mesmos grupos refundaram a AIT, num congresso realizado em Berlim.
Retomando a teoria marxista que dá base à construção do comunismo é preciso salientar que seu ponto de partida foi à própria sociedade capitalista que, de acordo com a ideologia comunista, privilegia a propriedade privada dos meios de produção, imprimindo a todas as esferas da vida, a marca do individualismo e da extração da Mais-Valia, considerada como a fonte maior da exploração dos trabalhadores pela classe dominante e a conseqüente desigualdade de classes.
Marx considerava que somente no proletariado, denominação dada aos trabalhadores que produzem a Mais-Valia, principalmente os da grande indústria, poderia, por meio de uma luta política consciente derrubar o capitalismo, acabar com as classes sociais e derrubar o Estado, como instrumento político de existência das classes.
Foi por intermédio do Manifesto que esta nova vertente polemizou com as tradicionais correntes do movimento operário mostrando seus limites e, ao mesmo tempo, apontando caminhos que, até hoje, os chamados partidos de esquerda não abandonaram por completo.
O Manifesto Comunista é um conjunto afirmativo de idéias, de "verdades" em que os revolucionários da época acreditavam, por conter, segundo eles mesmos, elementos científicos da economia que podiam contribuir para a compreensão das transformações sociais. Seu texto, determinante e forte, traz frases que deveriam ter o mesmo poder de uma arma no momento de mudar o mundo. Dessa forma, ele colocaria no lugar "da velha sociedade burguesa uma associação, na qualno livre desenvolvimento de cada membro é a condição para o desenvolvimento de todos". Sua estrutura é bastante simples: uma breve introdução, três capítulos e uma rápida conclusão.
No prefácio da edição de 1872, Marx e Engels, explicam o o por quê da obra, como se deu origem, as traduções que seguiram o original e as eventuais retificações que deveriam ser feitas para colocá-lo novamente, dentro do novo contexto histórico. Apesar do Manifesto se referir ao passado, ele ainda não perdeu sua atualidade nos dias de hoje:

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