Capítulo 1 - Cath

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Parte I- O Laranja

Na aula de física, a professora Tessa desenhava um esquema no quadro. Seus curtos cabelos castanhos farfalhavam com o ventilador e ela rapidamente o ajeitava. Eu me esforçava para prestar atenção, mas nos últimos meses minha cabeça fugia de mim mesma facilmente. Apesar dos olhos nas linhas estranhas em minha frente, tudo estava borrado. Até o sinal gritar em meus ouvidos. Senti minha cabeça se levantar num reflexo. Jay deu uma risada curta ao meu lado.

– Anda distraída, Cather. Não sei como consegue essas notas mesmo assim.

– Eu tenho um pacto para consegui-las. – afirmei com um sorriso inocente. Levantei, a mochila sendo colocada sobre meu ombro direito. Era a última aula, graças aos deuses. Acabei deixando Jay de lado por um momento, ao pegar meu telefone e checar se havia alguma mensagem. Nenhuma. Estava quase na porta quando o mesmo deu um cutucão em meu ombro.

– A boa educação diz para dar tchau aos amigos, Catherine.

Revirei os olhos ludicamente.

– Tchau, amiguinho.

Jay me empurrou de leve e foi até Brendon e Matt, que ao me verem deram uma breve acenada. Eles eram legais, eu acho, Jay, por ser meu parceiro em algumas das aulas, fizera com que Brendon e Matt me considerassem "uma pessoa legal", e sendo assim ninguém mais me perturbaria. Eu estava no limbo entre invisível e livre de bullying, e eu não reclamaria, pois significava que as pessoas me deixassem em paz quando eu precisasse.

Preguei os olhos no trio que ia ao estacionamento, há três metros de mim. Matt costumava ser próximo de mim. Quatro anos atrás. Não éramos o que podia se dizer como amigos, mas andávamos juntos de vez em quando. O garoto tinha namorado minha melhor amiga por um tempo, e nunca mais falara comigo desde que terminaram. Tudo se resumia naqueles acenos com Jay e Brendon. Fugi o olhar deles ao caminhar até o ponto de ônibus. A lembrança revivida doía agora. Pensar em minha melhor amiga era difícil e inevitável para mim. Ela era tanto uma droga quanto uma salvação, e o fato dela desaparecer não ajudava.

Laurel havia sumido há dois meses. Ela chegara a me mandar algumas mensagens, nenhuma detalhava o que havia acontecido, mas eram suficientes para que eu soubesse que era ela, e sendo assim, eu sabia o que tinha acontecido. Eu conhecia Laurel o suficiente para definir o que cada uma de suas palavras queria me dizer e o que não podiam, mas diziam ainda assim. Ela havia se mudado de cidade há quatro anos, mas mantínhamos contato. Agora, eu não tinha certeza de quem era minha melhor amiga. Não. Eu tinha sim. Minha relação com Laurel era inexplicável. Não importava o quanto ficássemos sem se ver, saberíamos o que a outra sentia. Sem ter contato algum, apenas sentíamos, pois na maioria das vezes, sentíamos a mesma coisa.

A primeira música do aleatório do meu celular foi I Miss You, do blink-182, e eu quis morrer.

Imaginei o que poderia fazer ao chegar em casa. Eu poderia terminar aquela pilha de livros que pretendia me matar por eu não os lerem. Poderia ficar deitada com meus fones de ouvido pelo resto do dia, que era a minha atividade mais praticada ultimamente. Eu sou uma péssima jovem, percebo.

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