Capítulo 02

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Na manhã seguinte, Piper acordou bem cedo, sobressaltada. Ainda não havia amanhecido e o quarto estava silencioso; os únicos sons eram o da respiração ritmada de Alex e o chilrear distante dos pássaros lá fora.

Ela puxou as cobertas para junto do peito nu e fechou os olhos, forçando a respiração a se acalmar. Isso serviu apenas para trazer as cenas do seu pesadelo à tona com total clareza.

Chapman estava em Harvard, correndo pelo campus à procura do local da sua prova de qualificação. Ela parava todos que encontrava pelo caminho, implorando por ajuda, mas ninguém parecia saber onde a banca examinadora estava reunida.

Então ouviu o som de alguém chorando e ficou chocada ao ver que havia um bebê em seus braços. A loira o colou ao peito, tentando silenciá-lo, mas a criança não parava de chorar.

De repente, estava parada diante do professor Matthews, o chefe do departamento. Um grande cartaz à sua esquerda indicava que a prova estava acontecendo na sala atrás dele. Matthews bloqueava a porta e dizia a Piper que não era permitida a entrada de crianças.

Ela tentou argumentar. Prometeu que não deixaria o bebê chorar. Implorou que ele lhe desse uma chance. Todas as esperanças e o sonho de terminar o doutorado e se tornar uma especialista em Dante dependiam daquela prova de qualificação. Se não a fizesse, seria afastada do programa.

Foi então que a criança em seus braços começou a gritar. O professor Matthews fechou a cara e apontou para as escadas, mandando-a ir embora.

Piper sentiu um braço sobre seu corpo, abraçando-a. Olhou para o lado e viu que a esposa ainda dormia. Algo em seu estado inconsciente deve tê-la impelido a confortá-la. Observou-a com uma mistura de amor e ansiedade, o corpo ainda tremendo por causa do pesadelo.

Ela se levantou, cambaleou até o banheiro, acendeu as luzes e abriu o chuveiro. Esperava que a água quente a acalmasse. As luzes fortes sem dúvida ajudaram a dispersar um pouco a escuridão.

Debaixo do chuveiro de teto, tentou esquecer o pesadelo e outras preocupações que lutavam para vir à tona em sua mente - a palestra, a visita iminente da família, a repentina necessidade da morena de ter um filho...

Chapman levou os dedos ao colar em seu pescoço. Sabia que Alex queria ter filhos com ela. Elas já haviam conversado sobre isso antes mesmo de ficarem noivas. Mas também tinham concordado em esperar até ela terminar o doutorado. Isso levaria ainda uns cinco ou seis anos.

A pesquisa já era motivo suficiente de ansiedade. Em setembro, estaria de volta às aulas, preparando-se para a prova de qualificação que precisaria fazer no ano seguinte.

Mais urgente ainda era a palestra que daria em Oxford dentro de semanas. No semestre anterior, a loira havia escrito um artigo sobre Guido da Montefeltro para o curso da professora Gonzales. Ela gostara muito do resultado e mencionara o artigo para a professora Picton, que incentivou Piper a submeter um resumo aos organizadores da conferência.

Ela ficara eufórica ao saber que sua proposta havia sido aceita. Mas a ideia de estar diante de uma plateia de especialistas em Dante e palestrar sobre temas em que eles eram muito mais especializados do que ela era intimidadora.

Agora, Vause estava falando em terem um filho e qual das duas iria gerá-lo.

Piper foi tomada pela culpa. É claro que queria ter um filho com ela. E sabia que reverter a laqueadura era mais do que um simples procedimento cirúrgico. Seria um gesto simbólico - significaria que a morena finalmente havia se perdoado pelo que acontecera com Paulina e Maia. Que enfim começara a acreditar que era digna de gerar e criar um filho.

A Redenção de Alex Vause Onde histórias criam vida. Descubra agora