A Redenção de Alex Vause

Capítulo 03

- Você não pode apresentar isto. - Disse Alex, entrando no escritório na tarde do dia seguinte com uma impressão do artigo de Piper nas mãos.

Ela ergueu os olhos da tela do laptop, horrorizada.

- Por que não?

- Você está errada. - A morena largou as páginas e tirou os óculos, atirando-os em cima da mesa. - São Francisco vai buscar a alma de Guido da Montefeltro depois que ele morre. Já discutimos isso. Você concordou comigo.

Chapman cruzou os braços, na defensiva.

- Mudei de ideia.

- Mas é a única interpretação que faz sentido!

Ela engoliu em seco, balançando a cabeça.

Alex começou a andar de um lado para outro em frente à mesa dela.

- Nós falamos sobre isso em Belize. Pelo amor de Deus, eu lhe enviei uma ilustração da cena quando estávamos separadas! Agora você vai aparecer diante de uma sala cheia de pessoas e dizer que não foi assim?

- Se você tivesse lido as notas de rodapé, veria que...

Vause parou de andar e se virou para encará-la.

- Eu li as notas de rodapé. Nenhuma das suas fontes vai tão longe. Isso não passa de mera especulação.

- Mera especulação? - A loira se levantou. - Encontrei várias fontes confiáveis que concordam com grande parte do que digo. A professora Gonzales gostou do meu artigo.

- Ela é boazinha demais com você.

Piper ficou boquiaberta.

- Boazinha demais? Imagino então que você ache que a professora Picton me convidou para a conferência por mera caridade?

A expressão de Alex se abrandou.

- É claro que não. Ela tem você em alta conta. Mas não quero que fique diante de uma plateia de professores experientes e apresente uma interpretação ingênua. Se tivesse lido meu livro, saberia que...

- Eu li o seu livro, professora Vause. Você só menciona de passagem o texto que estou analisando. E aceita ingenuamente a interpretação consagrada, sem refletir se deveria confiar nela.

A morena estreitou os olhos.

- Eu aceito a interpretação que faz sentido. - Seu tom de voz era glacial. - Nunca aceito nada ingenuamente.

Piper bateu o pé, bufando de frustração.

- Você não quer que eu tenha minhas próprias ideias? Ou acha que devo repetir o que todos já disseram só porque sou uma reles aluna de doutorado?

O rosto da morena ficou vermelho.

- Eu nunca disse isso. Também já fui aluna, caso não se lembre. Mas não sou mais. Você poderia se beneficiar da minha experiência.

- Ah, aí está. - Chapman jogou as mãos para o alto, indignada, e saiu do escritório.

Alex foi atrás dela.

- Como assim, aí está?

Ela não se deu o trabalho de se virar.

- Você só está irritada porque vou discordar de você em público.

- Que bobagem.

- Bobagem? - Desta vez, se virou. - Então por que está me dizendo para mudar meu artigo para ficar de acordo com seu livro?