Alecrim

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     Gon andava em círculos pelo telefone. Seus pensamentos todos focados apenas nas palavras que usaria. Como fazer alguém que não senti, sentir? Ele sempre fora uma pessoa emocional, eram o que todos falavam, mas o próprio não sabia como lidar com sentimentos. Sempre fora tão simples, você está feliz, está. Você está triste, está. Nunca ouve o 'vazio' que Killua tivera e um dia ele preencheu. Ele caminhava pensando em como as pessoas expressavam-se. Ele sabia como, apenas o seu 'jeito' era contato físico entre abrações e sorrisos, porém nunca soube direito como declarar isso em palavras. Surtou sabendo que todos criavam milhares de maneira de dizer o que eles sentiam e no momento tudo que ele sabia era como quebrar alguém. Estressado se jogou ao lado do telefone e o fitou esperando que o objeto pegasse fogo para ter uma desculpa.

Simplesmente dizer o que se passava. Isso iria o tocar? Isso faria o coração dele bater? Isso quebraria as ervas daninhas que cresciam dentro dele? Se ele persistisse funcionaria? Ou ele havia destruído seu primeiro e melhor amigo? O que mais doía em se lembrar aquilo, Gon havia prometido para sempre.

"Para sempre é muito tempo"

Lembrou que o pai tinha deixado seu velho violão com ele. Foi até o quarto e o pegou de cima do armário. Estava um pouco empoeirado. Com um pano passou cuidadosamente sobre o mesmo. Jogou em algum lugar da casa o pano que usara e caminhara até a sala. Foi verificando cada corda. Duas estavam desafinadas, contudo nada que ele não pudesse lidar.

Respirou fundo sem acreditar no que faria. Aquilo não era um lance de casais? Suspirou fazendo com que não pensasse que aquilo era loucura. Estralou os dedos e pegou o papel no qual o número estava anotado. Discou e colocou no auto falando:

-Sua chamada caiu da caixa postal, caso queira deixe uma mensagem após o sinal - ele deveria treinar o que cantaria, não é? O sinal apitou mostrando ser sua hora.

-Oi Killua - disse com um nó na garganta, sabia o quanto aquilo seria vergonhoso. - Eu sei que não quer falar comigo, nem ouvir minha voz - riu baixo se socando mentalmente. - Mas eu queria... Que você...- falava, contudo as palavra não saiam. - Ouvi-se isso - disse por fim e começou a tocar.

Começou apenas esfregando os dedos nas cordas sem saber o que fazer. Depois de pensar sobre o melhor jeito de demostrar começou.

"Ultimately I don't understand a thing" ele tinha que dizer a verdade.

Por fim, não entendo nada.

"I try to do the best I can" ele faria.

Eu estou tentando o melhor que eu posso.

"I know you try to do the same" lembrou-se que por muito tempo a dor que Killua carregou foi sozinho.

Eu sei que você tenta fazer o mesmo

"We're just so bound to make mistakes" disse se culpando internamente.

Nós somos tão obrigados a cometer erros.

"You could call it a disposition" riu baixo querendo se matar por dentro.

Você poderia chamar isso de disposição.

"I apologize for all your tears" suspirou com suas palavras.

Peço desculpas por todas as suas lágrimas.

"I wish I could be different" isso poderia ser levado como uma mentira se fosse dita a anos atrás, mas hoje é o que ele mais quer.

Eu gostaria de ser diferente.

"But I'm still growing up" respirou fundo tentando não se envergonhar com a próxima fala.

Mas ainda estou crescendo.

Heart Of Flowers. terminado.Onde histórias criam vida. Descubra agora