I think I might give up everything

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Sam desligou o celular, soltando-o sobre a mesa num baque surdo. Sua frustração era evidente na forma em que ele passava as mãos pelos cabelos curtos. Há anos não os deixava mais crescer. Não combinava com a imagem que deveria passar, seu pai dissera, pouco antes de morrer.

Ele odiava tudo aquilo. Odiava passar o dia enfurnado num escritório, sentado numa cadeira atendendo a dezenas de telefonemas e respondendo centenas de emails. Odiava comandar uma empresa. Mas o que mais odiava, com toda a certeza, era saber que a coisa mais importante que fizera em sua vida fora afundar um empresa de bilhões de dólares, fazendo com que centenas de pessoas perdessem seus empregos, enquanto todos a sua volta o aplaudiam por isso. Ele se sentia horrível, mesmo quando sabia que deveria estar em êxtase.

Ouviu duas batidinhas leves na porta, que se abriu um seguida, revelando Mary, sua secretária, e todos seus quase dois metros de altura, aqueles olhos negros o fitando de forma receosa. Ele apenas meneou a cabeça, dando-lhe permissão para falar.

– A Sra. Collins está aqui – Mary anunciou.

– Carolina? – perguntou, curioso.

Carolina era sua prima, mas eles tinham crescido juntos. Ela se mudara para sua casa ainda muito pequena, e foram criados como irmãos quando ela perdeu os pais. Era o que tinha mais proximo de família, mas não a via há meses, pois ela morava na Escócia e raramente ia até Londres.

– Quer dizer que agora eu preciso ser anunciada? – Carolina disse, empurrando a porta e passando pela secretária que apenas observava atônita.

– Tudo bem, Mary. Pode sair, e feche a porta por gentileza – ele falou, dispensando a secretaria enquanto ignorava friamente a pergunta da prima – Eu estou trabalhando, Carol.

– E daí? – ela questionou, dando de ombros – Eu estou aqui.

Sam sorriu, desfazendo a carranca e aproximando-se de Carol. Abraçou-a forte, tentando absorver um pouquinho da energia positiva que emanava dela.

– Senti sua falta – ele disse baixinho.

– Tão falso você, Sammy! – sorriu, soltando-se do abraço e adiantando-se até o sofá branco. Acomodou-se e deu duas batidinhas no assento ao seu lado, convidando-o.

– Você sabe que eu senti – ele protestou, sentando-se.

– Você só nos visita no Natal, Sam. Isso não parece a atitude de alguém que sente falta – ela brincou, adquirindo um tom mais sério em seguida – As crianças sentem falta do tio. E Charlotte também.

– Natal é meu único dia de folga – ele constatou, um sorriso triste em seus lábios. Ele realmente sentia falta dos sobrinhos e da esposa de Carol.

– Você é dono disso tudo, Sam, pode tirar folga quando quiser.

– Não é bem assim, Carol. Você sabe muito bem que se você quiser continuar na fazenda, eu preciso trabalhar – quando seus pais morreram, Carolina se recusou a deixar a Escócia, sua fazenda e sua família para assumir a empresa com ele, então Sam assumiu aquele fardo sozinho. A família de Carolina era preciosa demais para aquele mundo implacável, e ele preferia trabalhar 364 dias por ano para continuar mandando a polpuda mesada para eles. Eram sua família e ele aceitaria qualquer coisa para se certificar de seu bem-estar.

– Eu prefiro sua felicidade a qualquer quantia de dinheiro – ela disse, encarando-o fixamente. O tom era sério.

– Eu estou feliz, Carolina – Sam falou, sem muita convicção. Era a mentira que contava a si mesmo todos os dias.

– E como está Cait? – questionou.

– Está bem – respondeu, incerto. Ultimamente não tinha mais certeza de nada em relação a ela.

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