Annabeth

269 10 0
                                    

 Eu o encontro no quarto piso da biblioteca.

O andar tem jornais por todo lado, estantes amontoadas no meio e mesas de estudo enfileiradas contra as paredes, além de uma máquina Xerox na qual eu passei muito tempo tirando cópias de crítica literária sobre T. S. Eliot no ano anterior.

Percy está parado ao lado de um carrinho cheio de livros, de costas para mim, devolvendo um grosso volume vermelho a uma prateleira. Levo um minuto para reconhecê-lo. Já havia procurado nos três primeiros andares e começava a ficar aflita. Percebi que frequentemente o vejo com seu carrinho nas tardes de quinta, mas isso não quer dizer muita coisa.

Como ele está com fones de ouvido e acho que não me viu, fico por um instante pensando no que vou dizer. Estou meio suada e desarrumada, embora tenha tirado um tempo depois do almoço para trocar de camisa e passar um pouco de gloss.

Nunca fiz isso antes.

Nunca comecei uma conversa com Percy.

Parece mais intimidante do que deveria, não apenas por ele ser quem é – a proibição que o ronda –, mas também porque estamos no quarto andar. É uma regra tácita do campus: o quarto andar da biblioteca é um espaço de silêncio sagrado.

Percy pega outro livro. Ele precisa erguer o braço acima da cabeça para guardá-lo, o que faz com que a camiseta levante e me permita ver seu cinto grosso de couro marrom. Não combina. Suas botas são pretas, assim como a camiseta, que tem uma enorme costura irregular laranja nas costas. Parecia que uma criança de 7 anos a havia consertado depois que ela se rasgara.

Não consigo imaginar como alguém pode criar uma camiseta dessas. Ou por que alguém a compraria.

Às vezes, as roupas de Percy são assim. Simplesmente... aleatórias.

Eu meio que gosto.

Quando ele se abaixa e se inclina sobre o carrinho, a camiseta levanta de novo, expondo um pedaço das costas.

Pigarreio, mas o volume da música deve estar muito alto, porque ele não se vira. Eu me aproximo um pouco mais. Percy está com a cabeça abaixada, estendendo a mão para pegar um livro na prateleira mais baixa.

Droga. Agora estou tão perto que corro o risco de assustá-lo quando ele enfim se der conta de que estou aqui.

Não há nada que eu possa fazer para evitar. Estendo a mão com a intenção de tocar nele apenas para chamar sua atenção, mas acabo pressionando totalmente a palma da mão em sua lombar.

Foi sem querer. Tenho quase certeza disso.

Oitenta por certo de certeza.

Ele não dá um salto. Apenas para. Fica tão imóvel que consigo ouvir a música tocando nos fones. É uma música alta, com vocais furiosos e uma batida insistente e forte que combina com a pulsação repentina que sinto entre as pernas.

Ah, penso.

Talvez não tenha sido sem querer, afinal.

Sinto as costas de Percy quentes contra a palma da minha mão. Fico olhando para meus dedos, ordenando que se mexam, mas eles demoram vários segundos para obedecer. Quando afasto a mão, ela parece magnetizada. É como se houvesse uma atração, uma força que a puxasse de volta para a pele dele.

Estou quase certa de que a força se chama desejo.

Percy se endireita e se vira, e eu sei – antes que ele mesmo se dê conta – que calculei mal e agora estou totalmente à sua mercê, o que significa que estou perdida. Não sei muito bem se ele é um cara misericordioso. Sem dúvida, não parecia ser quando estava batendo em Luke com tanta força que quase chegou a me nocautear.

Deeper PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora