Pela Vida

870 118 23
                                    

Alissa cambaleou para trás e suas costas bateram no peito de Trevor.
Ele a guiou até a varanda da casa em silêncio, temendo que descobrissem que ela ouvia a conversa.
Quando ela sentou na cadeira, ele se abaixou mantendo um joelho no chão.

- O que você ouviu? - ele perguntou.

- Acho que estou enlouquecendo. - Ela levou as mãos à cabeça. - Alguém fica falando na minha mente e isto me deixa tão irritada! - Ela se frustrou, mas o tom de voz era moderado. - Trevor, minha mãe disse que vai morrer. Mas uma voz na minha cabeça, acredito que a mesma voz que eles ouvem, disse que eu posso salvá-la.

- O quê? - Trevor lançou um olhar incrédulo à Alissa. - Alissa, isso tudo é resultado do estresse que vocês vêm sofrendo. Sua mãe não vai morrer.

- Alissa. - O Chapeleiro surgiu na varanda e foi até ela, aflito. - Me dê aqui esta pérola.

Trevor e Alissa olharam para ele com surpresa, em seguida ela ficou de pé.

- Como o senhor sabe que eu a encontrei?

Ele suspirou, em seguida estendeu a mão espalmada para ela.

- Por favor, querida. Me dê esta pérola agora mesmo.

- Mas, papai... - Alissa choramingou. - Eu não entendo. O que está acontecendo? Tem uma voz dizendo coisas na minha cabeça, papai. Eu não quero enlouquecer!

- Oh, querida. - Ele a abraçou e ela chorou mais ainda. - Você não está louca, Alissa. Mas não tem problema nenhum em ser um pouco louco às vezes. Apenas me dê a pérola e ficará tudo bem.

Alissa o soltou, mas tomou distância.
A voz voltou a falar em sua mente.

- A jovem Alissa me ouve? Ora, sei que sim. Existe um mundo inteiro esperando por você, nobre princesa. E este mundo encantado é todo seu.

- Pare de falar. - Alissa se encolheu em um canto da parede e sentiu braços a envolver e sacodir. Mas sua atenção estava na voz sombria de Chershire.

- Alice precisa da sua ajuda, e nós também. O País das Maravilhas está disposto a dar uma segunda chance à Alice e o Chapeleiro. Veja como isso é incrível, eles terão mais tempo de vida para serem felizes. Segure a pérola na mão, corra para a fonte de água e mergulhe.
O caminho se abrirá agora, Alissa. Vá até lá. Vá!

- Alissa! - O Chapeleiro continuava a chamá-la, e por fim, Alissa voltou a si.

Ela soluçava em um choro desesperado, e sem pensar duas vezes, saiu correndo até a lateral da casa.
A voz de Chershire ainda se repetia em sua mente, e era mesclada aos gritos do pai e de Trevor que vinham atrás dela.
Alissa segurou a pérola com firmeza e a lançou na fonte, fazendo com que a água se agitasse violentamente.
Ela fechou os olhos e pulou, sentindo a água gelada se chocar contra o seu corpo.
Alissa tentava respirar mas não conseguia, mas seus olhos estavam bem abertos para ver as coisas ao seu redor.
Enquanto ela afundava cada vez mais, ao seu redor haviam relógios de parede, peixes coloridos, canecas de porcelana e potes de mel.
De repente, Alissa sentiu como se uma bolha se rompesse, e ela voltou a respirar, caindo em queda livre por um túnel escuro.
Seu grito estridente ecoou e seus braços se agitaram no vazio.
No segundo seguinte, Alissa avistou uma luz e caiu em algo macio que aliviou o impacto da queda.
Seu choro aflito deixava sua vista turva, mas ela se levantou e andou por aquele salão redondo sem portas.

- Aonde estou?! - Ela girou no mesmo lugar. - Aonde estou?!

De repente ela ouviu um grito vindo de cima, e se encostou na parede, assustada demais para se mover.
Alissa arqueou as sobrancelhas ao ver Trevor ser lançado no mesmo lugar onde ela caiu.

- Trevor! - Ela correu até ele, que estava com pânico nos olhos. - Por que você me seguiu?! Por quê?! Você é mesmo um grande estúpido!

Mas Trevor não respondia, ele havia entrado em estado de choque.
Alissa o ajudou a levantar e ele começou a fazer o mesmo que ela anteriormente, girando no mesmo lugar.
Trevor engoliu em seco várias vezes.

- Aonde... aonde estamos? - A voz dele saiu rouca e entrecortada. - Alissa, que tipo de brincadeira é essa?! Aonde nós estamos?!

- Eu não sei! - Alissa foi até ele, segurando suas mãos. - Mas nós precisamos nos acalmar e... - Ela se agitou impaciente. -... você não deveria estar aqui, Trevor. Por que você fez isso?! Tudo vai ficar muito mais difícil agora!

- Você pulou na água e eu vinha na frente do seu pai! - Ele se defendeu, chateado com ela. - Achei que você havia enlouquecido, Alissa! Mas olha onde nós estamos agora! Isso é real? Nós morremos?!

- Não. - Alissa deu às costas à ele, e seus olhos encontraram uma mesa de cristal e redonda. - Tenho certeza de que estamos vivos. Venha aqui.

Eles foram até a mesa e viram um bolinho seguido de um cartão ao lado.

- Leia. - Trevor falou.

Alissa pegou o cartão e abriu, lendo as palavras elegantes.

Está com fome, princesa Alissa?
Coma um bolinho.
De seu leal súdito, Gottan.

Alissa pegou o bolinho e encarou Trevor.

- Vamos dividir. - Ela declarou. - O que quer aconteça, temos de estar juntos.

- Mas e se esse bolinho estiver envenenado? E quem é Gottan?

Alissa suspirou e afastou a umidade das lágrimas do rosto.

- Trevor, uma voz disse que eu deveria vir aqui para salvar a minha mãe. E se esse caminho se abriu, é porque a voz deve ser verdadeira. Mas eu não sei mais de nada, estou perdida.

Trevor viu novas lágrimas se formarem no rosto dela, e por fim, pegou o bolinho de sua mão, e o dividiu ao meio.

- Vamos em frente, então.

Alissa assentiu agradecida, e pegou sua parte do bolinho.
Antes de levá-lo à boca, ela olhou nos olhos castanhos dele e falou.

- Obrigada por ter vindo, Trevor.

Ele brandou o olhar para ela.

- Eu iria até o fim do mundo, se você estivesse lá e precisasse de ajuda.

Ambos levaram o bolinho ao lábios, mas a voz ecoou na mente de Alissa.

- Não coma, Alissa. Largue este bolinho ou você morrerá.

Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora