2 - Strange dream and memories with the smell of cheese.

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Acordei com o despertador berrando no meu ouvido e com uma dor de cabeça enorme, havia chorado muito na noite passada, desliguei o despertador e fui tomar meu banho para ir trabalhar.

Chegando ao trabalho cumprimentei João, o porteiro, e fui para o escritório, fui recebida com um abraço de Vanessa, que tem me ajudado muito nesses últimos dias. Vanessa é linda, tinha a mesma idade que eu, 23 anos, cursa pedagogia junto comigo na Federal, tem 1,65 e tem um cabelo deslumbrante, cheio de cachos loiros e definidos.

_ Como você está, Aly?

_ Estou bem, Ness. E você?

_ Estou maravilhosamente bem, você não vai acreditar! Finalmente o Gabriel me pediu em casamento!

Vanessa namorava há 4 anos e tudo o que ela mais queria era se casar e ter uma família. Confesso que tinha inveja dela, ela tinha os pais dela que a apoiavam em tudo e dois irmãos mais velhos, Geovanne e Guilherme, eles são gêmeos e muito engraçados.

_Vanessa! Isso é maravilhoso!

A abracei novamente muito feliz pela noticia. Conheço a Ness desde quando eu tinha 16 anos, nos conhecemos na igreja, sim, eu era cristã, quando não estava com nenhuma mancha do pecado que me assombrava, eu ia para a igreja quase todos os dias, amava ir às salas de oração que acontecia todas as segundas, quartas e sextas, aos sábados aconteciam os cultos dos jovens onde eu costumava ou pregar ou cantar e aos domingos eu passava o dia inteiro lá, de manhã na EBD, de tarde na oficina de pintura e de noite o culto de celebração, hoje em dia não há espaço na agenda para ir pra igreja, somente lugar para festas e isso de algum modo me incomodava, mas eu não me sentia bem em ir pra casa dEle, quer dizer, eu não era bem-vinda.

O dia passou lento e cansativo, estava a ponto de explodir quando deu o horário de ir embora, mas meu dia não terminava ali, ainda teria que ir pra faculdade, hoje seria aula de metodologia e isso me deixava ainda mais desanimada, pois era a pior aula da semana.

Chegando junto com Vanessa na faculdade fomos direto pra sala e nos sentamos na terceira fileira e logo depois entraram quatro jovens com folhetos nas mãos, Vanessa logo sorriu pra eles e eles sorriram de volta.

_Você conhece?

Ela me olhou sorridente

_ Sim! São os jovens do evangelismo nas faculdades, eles são lá da igreja, você não conhece...

_ Ah sim...

A olhei desanimada, isso me fez sentir saudades, saudades do meu Pai.

Os jovens chamaram a atenção de todos e uma menina começou a entregar os folhetos.

_ Bom pessoal, esse semestre vai começar a acontecer cultos e salas de oração durante a semana aqui na nossa universidade, vão ser todas as noites logo após as aulas, vão haver vans que levarão vocês pra casa em segurança no mesmo valor da passagem, nos folhetos vão estar descritos os locais por onde essas vans irão passar. Espero que todos possam comparecer pelo menos uma vez e ver como é!

Vanessa bateu palminhas animadas e se virou pra mim.

_ Você tem que ir! Vai ser o máximo!

A olhei cabisbaixa

_ Acho que não Vanessa, eu...

Ela me interrompe

_Qual é, Aly! Pelo menos uma vez, você tem que ir!

Suspirei cansada de negar todas as investidas dela, já fazia três meses em que ela insistia com esse negocio de ir pra igreja, ela sabe muito bem que não me sinto digna de nem pisar em uma igreja. Fiquei pensativa o resto da noite e quando cheguei em casa desabei novamente.

"Deus, eu quero te conhecer, eu quero te reencontrar, mas eu me sinto tão suja, me ajude, eu preciso de você."

Acabei dormindo enquanto orava.

Eu estava em um quarto todo branco e havia um homem virado de costas pra mim, ele estava ajoelhado e parecia chorar, eu o chamei e ele não se virou, fui até ele e me ajoelhei em sua frente, ele estava de olhos fechados e chorando muito, estava orando ao que parecia, estava intercedendo por alguém, pois gritava "cuide dela" o tempo todo e então ele abriu os olhos e disse apenas uma frase:

_ Eu te amo, filha.

Acordei com o coração apertado.
"O que aquele sonho queria dizer? Não era o meu pai (se é que posso chamar assim), com certeza, ele nem sabe o que é amor".
Eram cinco da manhã, não conseguia mais dormir pensando no significado do meu sonho, quando vi já era hora de me arrumar para o trabalho. Sempre vou andando até a padaria para tomar meu café da manhã lá e só de entrar naquele estabelecimento meu coração se aquece com a lembrança:

Eu estava morrendo de fome e André não queria fazer nada para eu comer, estávamos no apartamento dele que era em outro bairro próximo ao centro que é onde moro. De tanto eu encher o saco dele, ele resolveu que iria me levar embora e pararíamos em uma padaria no caminho. Entramos no carro e fomos, ele parou no estacionamento ao lado da padaria e ao entrarmos na padaria estava um cheiro maravilhoso de queijo derretido, sorri pra ele o melhor sorriso que pude dar e ele ria da minha cara.
_ Sempre com fome, hein?
_ Com certeza!
Fizemos nossos pedidos e sentamos no fundo da padaria onde havia uma área aberta, André queria fumar, como sempre. Eu o olhava encantada como se ele fosse o meu próprio Sol, o que na verdade ele era. Ele também me olhava de volta e isso me derretia tanto.

_ Tem uma babinha bem aqui

Ele disse rindo e fingindo secar uma baba no canto da minha boca

_ Muito engraçado senhor André, você também deveria secar a sua, sabia?

_ Na verdade, estou bem babando por você.

Essas coisas que ele falava me deixavam sem ar, ele definitivamente sabia o que estava fazendo, sabia o que me deixava sem palavras.

_ Eu não me importo nem um pouco em babar por você também.

E sorri o meu sorriso mais bobo, então peguei o cigarro da mão dele e traguei duas vezes ainda sorrindo e olhando os olhos cor de mel que ele esbanjava orgulho de tê-los.

Sentei na mesma mesa de sempre e pedi a mesma coisa desde aquele dia em que fomos aqui à primeira vez. Eu não sabia mais o que fazer para tirá-lo da cabeça, já tentei de tudo - tudo mesmo. Estava exausta com isso tudo, exausta de chorar, exausta da saudade que sentia dele, exausta desse sentimento que estava me matando aos poucos, como um câncer. Eu iria esquecer ele de vez, iria focar no meu trabalho e nos meus estudos como jamais foquei antes, quem sabe até irei naqueles cultos idiotas da faculdade, eu estou disposta a fazer tudo para que ele não me afete mais.

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