Eles.

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A medida que os garotos cresciam, os laços de Caique ficavam mais fortes, cada vez mais laços se formavam. No entanto, o que eu achei mais inesperado e interessante é que laços azuis se amarravam e se enroscavam a Arthur.

Arthur não conseguia formar laços, mas Caique conseguia, e os deles envolviam o corpo de Arthur. Caique o mais velho, sempre teve mais carisma, cativava a todos e tudo a sua volta, era simpático, honesto e nunca parecia esconder nada.

Arthur o mais novo, sempre foi mais misterioso, não cativava muitas pessoas, não era simpático, era tímido, parecia estar assustado o tempo todo, às vezes quando você o olhava de relance via expressão que se assemelhava a de alguém que carregava algo muito pesado.

Eu demorei muito para entender o que aconteceria com aquele garoto, se me surpreendi? No caminho sim, mas chegando ao final estava óbvio o que ocorreria.

Em toda essa eternidade, fui testemunha de muitas tragédias e acontecimentos marcantes, como: acensão e queda de Roma, acensão e queda dos povos da Mesopotâmia, vi as atrocidades cometidas pelos Nazista, observei as experiências durante a guerra fria, muitas histórias de amor, muitas histórias de reviravoltas, muito, muito de excepcionalmente tudo.

Gostaria de me pôr no lugar de pelo menos uma pessoa por época, para ter uma noção de sensações.

Eles, que cresciam juntos viviam em realidades totalmente diferentes. Adquiri um carinho especial pelos dois, sempre que tinha um tempo, espiava os privilégios que eu nunca tivera e comemorava as vitórias que eu nunca participaria. Era surreal ver a diferença entre os dois! E mesmo assim ver que os laços de Caique tentavam a todo custo criar amarras para Arthur que era quase tão escorregadio quanto um peixe.

Caique, morava numa casa aconchegante, frequentava escola, fazia provas, ia a igreja aos domingos, jogava futebol no tempo livre, mesmo obrigado ia as aulas de piano que tanto odiava, com o tempo ele aprendeu a gostar delas. Fazia amigos, sorria sempre que tinha chance e tinha seus pais como apoio.

Passei um longo tempo observando a rotina do mais velho, me surpreendi e me horrorizei quando fui estudar a vida do mais novo, que parecia tão frágil .

Arthur, morava em um lugar que eu classificaria como inóspito, morava em um prédio dentro da cidade, num beco para ser mais exata, enquanto seu melhor amigo estudava matérias comuns como matemática, ele estudava como rastrear uma pessoa, suas provas consistiam em sobreviver longe das gangs que apareciam de vez em sempre, aos domingos aprendia a atirar e acertar seu alvo com facilidade e frieza, aprendia com maestria como derrotar qualquer um na batalha corpo a corpo, no tempo livre aprendia como manipulas as mais distintas facas e as formas mais "normais e simples" de se livrar de evidências, aprendia como pesar e etiquetar preço de drogas e como identificar um traidor. Não tinha seus pais para o orientar a sair desse mundo, escondia de seu melhor amigo tudo que vivia e não tinha família, tinha sua gang e era só.

Medo, receio e idade começou a distanciar os meninos, cresciam com caminhos totalmente avessos, um para "luz" outro para as "trevas".

Humanos são interessantes mas até hoje eu não entendo, porque se afastam? Porque se rotulam? Porque esquecem suas essências?

Ano após ano, Arthur percebia que teria que ser sozinho. Seis, sete, oito até  os dez anos de idade ele ainda encontrava com Caique, saiam juntos! Eles continuavam se vendo mas passou a ser com intervalos de tempo mais distantes, dias, semanas, meses... Se afastaram. Mas os laços que Caique tinham criado ( os azuis )ainda prendiam o tornozelo de Arthur só que agora os laços eram mais grossos e espessos, e o azul claro foi tomado por  azul escuro.

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