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                                                               [Michael]

A festa já tinha começado à uns belos vinte minutos e a casa do Calum estava completamente a abarrotar. As bebidas praticamente já se tinham esgotado e a música estava no máximo de volume, ainda bem que ele vive no meio do nada se não a polícia de certeza que já estava aqui. Os meus amigos estavam todos praticamente bêbados ou demasiado ocupados a tentar engatar miúdas, tentar sim é mesmo isso.

❝Então meu, estás um bocado froxo.❞ - o Irwin abordou-me enquanto se sentava no sofá ao meu lado - ❝Que se passa? Nem pareces tu!❞

❝Acho que não estou com espírito para festas hoje.❞ - suspirei e encolhi os ombros. 

❝Queres que te dê espírito?❞ - ele arqueou uma sobrancelha e começou a rir-se - ❝A Callie não pára de tirar os olhos de ti.❞

Callie era só a rapariga de quem tenho uma paixoneta desde o 5ºano. Eu para ela sempre foi o rapaz que se sentava ao lado dela nas aulas de Ciências e que tentava estranhamente cheirar-lhe o cabelo as aulas todas. Não me perguntem sobre esta obcessão minha, até eu me riu agora disto. Olhei para a minha esquerda para a ver encostada à parede a falar com as suas amigas enquanto segurava um copo de cerveja na mão. Ela definitivamente não tirava os olhos de mim, e olhem bem à minha volta para me certificar que era para mim a quem ela dirigia o olhar. Foi muito tempo a ser invisível, dêem um desconto. 

❝É desta que te saíu a sorte grande Clifford!❞ - ele gargalhou e eu mandei-lhe uma cotovelada no estômago. 

Não me interpretem mal mas eu nunca tive uma namorada a sério. Os únicos namoros que tive foram quando era pequeno e digamos que eram aquele tipo de namoro de criança. Depois disso nunca nenhuma rapariga me achou piada nenhuma, nem quando tentava mandar uns piropos engraçados de vez em quando. Se calhar foi os piropos que as afastaram, boa. As minhas mãos suavam e quando olhou novamente para o sítio onde ela se encontrava, Callie já não se encontrava lá e eu fiquei completamente confuso. 

❝Posso-me sentar?❞ - uma voz feminina aproximou-se e quando olhei para cima era nada mais nada menos que ela. Pensa rápido Michael, não digas parvoíces. 

❝Claro, aqui o meu amigo Ashton já estava de saída não estavas?❞ - perguntei enquanto lancei um olhar mortífero para o rapaz loiro que se estava sentado ao meu lado. Ele murmurou qualquer desculpa e saíu da nossa beira atrapalhado, dando espaço para Callie se sentar. 

❝Tu és o Michael Clifford não és? O rapaz que ficava ao meu lado quando andavamos no 5ºano, certo?❞ - ela perguntou enquanto pousava o seu copo na mesa que estava à nossa frente. 

❝S-Sim, sim... Esse mesmo.❞ - ri-me nervosamente.

❝Estás tão diferente! A começar pelo teu cabelo, gosto muito dessa cor. Acho que o verde realça bem os teus lindos olhos.❞ - ela riu-se e passou a mão no meu cabelo. - ❝Para quem gostava de cheirar o meu cabelo, agora sou eu que tenho uma obcessão pelo teu. ❞

Boa! Ela tinha logo de se lembrar da coisa mais estúpida que alguma vez fiz na vida. Será que lhe devo mentir e dizer que naquela altura sofria qualquer tipo de doença que faz as pessoas cheirar o cabelo das outras estranhamente? Claro que não Michael, ninguém iria acreditar nessa parvoíce! 

❝E então, porque vieste falar comigo?❞ - mudei de assunto e pude ver ela aproximar-se ainda mais de mim. Ela está muito perto e eu não sei o que fazer. Deviam de fazer um manual de 'Como rapazes estranhos devem engatar raparigas'. 

❝Sempre te achei piada, Michael. Além disso tu és mesmo giro e és muito engraçado.❞ - ela quase sussurrou isto no meu ouvido e pude sentir a minha pele arrepiar com cada palavra. 

Mas algo me intrigou... Quando ela acabou de falar dirigiu o seu olhar a onde estava o seu ex-namorado Josh. E digamos que o olhar dele praticamente estava a dizer que me queria arrancar os olhos da cara e queria fazer-me em picados e dar de comer aos cães. É impressão minha ou ela apenas me está a usar para fazer ciúmes a ele? E porquê eu? 

❝Porque olhaste para o Josh?❞ - perguntei arqueando uma sobrancelha enquanto ela se riu muito alto, como se estivesse a rir de uma piada muito boa. O que raio se está a passar? 

❝Oh Michael és TÃO engraçado! Porque é que não falei contigo antes?❞ - ela falou tão alto que acho que toda a gente à volta conseguiu ouvir, mesmo com a música alta. 

❝Mas eu não disse nada de especial, ou disse?❞ - estava tão confuso que já nem sabia o que dizer. 

❝Anda aqui, beija-me.❞ - ela aproximou-se de mim e fechou os seus olhos. Agora tenho duas opções: ou beijo-a e sou espancado pelo o seu obcessivo ex-namorado ou não a beijo e saiu daqui com vida mas sem beijar a minha longa paixão. 

Como pessoa sensata que sou, levantei-me e saí dali sem lhe dizer nada. Não queria estar a arriscar a minha própria vida só para beijar uma pessoa que apenas me estava a usar para fazer cíumes ao ex-namorado. Aprendi uma grande lição aqui, se tens uma longa paixão por uma pessoa e ao fim de tantos anos ela vem falar contigo é porque, basicamente, só te quer usar. 

❝Então Clifford? Já tiveste ação com a Callie? Eu bem vos vi ali agarradinhos!❞ - Calum falou no meio da multidão que estava à sua volta e aparentemente estava completamente bêbado. 

❝Desculpa Calum mas eu vou embora, se não te importares. Já chega de festa para mim.❞ - vesti o casaco que estava à minha cintura e dirigi-me à porta. - ❝Se vires o Ashton diz que já fui embora porque estava mal disposto.❞

Ele nada disse e apenas acenou. Saí porta fora e caminhei pelas longas ruas de Sacramento, a minha casa ficava provavelmente a um quarteirão da casa do Calum e ainda não acredito que vou ter de caminhar imenso. Mas respirar aliviadamente e sentir o frio da noite a apoderar a minha pele fazia-me sentir muito melhor. Quando cheguei aos suborbios, pouca gente andava na rua e  então tomei a liberdade de cantar alto uma das minhas canções favoritas dos The 1975, Girls que se adequava ao momento. 

said "no!"
"Oh give it a rest, I could persuade you
I'm not your typical, stoned 18 year old
Give me a night I'll make you''
"I know you're looking for salvation in the secular age, but girl I'm not your savior"
Wrestle to the ground
God help me now, 'cause

They're just girls breaking hearts
Eyes bright, uptight, just girls
But she can't be what you need if she's 17

Não me consegui conter e comecei a fazer uma dança ridícula pelas ruas. Eu sei que não sou muito destas coisas e depois do que aconteceu na festa eu deveria de estar triste e tal mas eu sou uma pessoa muito positiva e sempre alegre. É por isto que gosto tanto de mim, se desse para casar comigo mesmo... Era só a melhor coisa de sempre! 

❝Gosto muito dessa música e dos movimentos de dança.❞ - alguém falou atrás de mim e quando me virei não consegui deixar de me sentir completamente chocado.

Os seus olhos azuis brilhavam tanto como as estrelas que se encontravam no céu e o seu cabelo estava ainda mais ondulado desde a última vez que a vi. Usava um vestido a ultrapassar os joelhos e era demasiado betinho mas assentava-lhe perfeitamente. As suas bochechas estavam coradas provavelmente por causa do frio que estava hoje e o seu sorriso estava ainda mais bonito. 

❝Jasmine... O q-que estás aqui a fazer?❞ - o meu cérebro bloqueou a meio e sem qualquer raciocínio perguntei-lhe a pergunta mais estúpida de sempre. 

❝Ohh... Eu... Eu vim visitar uma prima minha que mora do outro lado da cidade e os meus pais adormeceram e não me puderam ir buscar então tive de vir a pé.❞ - a sua voz estava tão trémula e eu pude sentir que ela ficou completamente sem saber o que dizer. 

Após caminhar pelas ruas ao lado dela, um silêncio apoderou-se de nós. Eu não queria dizer a coisa errada mas era tão estranho ela andar a esta hora aqui sozinha, ainda por cima tendo os pais conservadores que tem. 

❝Jasmine, o que é que escondes de todo o mundo?❞

Os seus olhos alargaram e a sua pele ficou pálida, não consegui conter mais o riso e soltei uma longa gargalhada que a fez suspirar de alívio. O que será que tu escondes então Jasmine?

Innocent //m.c.Onde histórias criam vida. Descubra agora