IV

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                                                           [Jasmine]

Saí da sala rapidamente e procurei refúgio em alguma parte desta maldita escola. As lágrimas caíam sem piedade e os meus joelhos enfraqueciam a cada passo que dava, porque é que isto tinha de acontecer? Eu apenas gostava de ser aquela rapariga que todos ignoravam, era assim que me sentia bem! Porque é que o maldito professor tinha de me escolher para ler aquela estúpida composição? Ainda melhor, porque é que tive a ideia inteligente de expôr a minha vida assim numa avaliação? Talvez eu estivesse farta de guardar os meus problemas para mim, estava farta da maneira como eu tinha de lidar com a minha vida sozinha... É horrível viver com isto tudo dentro de mim. 

Cheguei à parte de fora da escola e sentei-me num banco que estava completamente vazio. A brisa de ar fresco acalmou a confusão que havia dentro da minha cabeça enquanto soltei um longo suspiro. A minha vida está completamente do avesso, sinto que tudo à minha volta anda descontrolado e eu não conseguia tomar controlo de nada, apenas conseguia ficar especada a olhar enquanto todos me tentar controlar. Mas porquê? Porque não posso ser como todos os outros? Porque não posso chegar tarde a casa e ir a todas as festas existentes? Porque não posso ter alguém que me compreenda? Alguém que me tire desta espiral onde fui empurrada desde pequena.. 

"Jasmine.." - alguém sussurrou o meu nome como se tivesse medo de o dizer em voz alta, quando virei a minha cabeça encontrei o Michael sentado na ponta do banco quase parecendo que ele tinha medo de estar sentado ao pé de mim. 

"Vá, podes-te rir! Aqui ninguém te manda calar ou manda-te respeitar-me. Podes dizer o que quiseres, que sou uma croma e uma pessoa insípida. Força diz-me isso tudo aqui à minha frente para eu perceber bem o que dizem nas minhas costas." - levantei um pouco a minha voz e tentei ao máximo não chorar, já era mau de mais estar completamente fragilizada. 

Os seus olhos olhavam tristemente para mim enquanto procurava as palavras certas para não me magoar mas nesta altura eu apenas queria ouvir a verdade, a verdade que todos conhecem mas que tem todos medo de  falar. 

"Jasmine, calma. Eu acabei de abandonar a sala para te vir procurar, tu saíste de lá aflita e partiu-me o coração o texto que tu leste." - ele clariou a garganta e tristeza invadiu a sua cara  - "Apesar de não saber nem metade do que tu passas porque não te conheço assim tão bem, eu sei que tu sofres e isso vê-se perfeitamente nos teus olhos. Eu vejo bem a maneira como tu gostavas de ser como as outras raparigas, gostavas de ter aquela confiança e a liberdade que elas possuem para fazer tudo o que querem. Eu percebo o que é estar preso por quatro paredes e ter vontade de as trepar com unhas e dentes." 

"Tu não me conheces.. Não sabes o que é viver a minha vida. Eu tenho de viver à custa da imagem perfeita que os meus pais me moldaram desde pequena, tenho de viver a ser tudo de bom na vida deles, como se fosse o troféu que eles criaram com muito orgulho.. Mas eles nunca pensaram sequer um dia naquilo que eu quero ser ou alguma vez perguntaram os desejos que eu tenho.. Eles simplesmente fazem tudo por mim e eu tenho de ficar calada a aplaudir." 

Ele arrastou ligeiramente para mais perto de mim e senti ele sorrir fracamente encarando o chão. Porque é que é tão fácil falar com ele? Porque é que sinto que lhe devo confiar os meus problemas? Talvez porque neste momento ele é a coisa mais parecida com um amigo que alguma vez vou ter na vida. 

"Acho que precisas de vir comigo.. Aprender como se deve aproveitar a vida de uma maneira simples e eficaz!" - ele exclamou entusiasmado. 

"Estás a pensar em levar-me a tomar drogas ou o caraças? Eu quero ser livre mas não me quero perder!" - falei chocada enquanto ele perdeu-se em risos. 

"Claro que não Jasmine, credo tens de parar de ser tão inocente!" - ele levantou-se e eu segui o seu movimento, levantando-me também - "Tens de aprender que neste mundo a inocência não te vai levar a lado nenhum." 

"Estou a ver que vou aprender mais contigo hoje do que tu aprendeste em tantos anos de escola!" - ri-me enquanto ele me mandou uma cotovelada ligeira no meu braço. "Mas espera.. Eu supostamente tenho de ficar aqui à espera que o meu pai me venha buscar." 

"Deixa o teu pai esperar.. Tu hoje estás por minha conta. Vamo-nos divertir bastante!" - ele puxou o meu antebraço e arrastou-me com ele até ao sítio que ele tinha em mente. 

Caminhamos alguns metros em silêncio, o Michael super entusiasmado e provavelmente a planear o que iríamos fazer na cabeça dele. É engraçado a maneira como ele quer tanto ajudar-me, nunca ninguém se importou tanto comigo deste jeito para querer salvar-me do tédio que é a minha vida. 

Neste momento estavamos a chegar a uma parte de Sacramento onde nunca tinha estado mas que não era muito longe da escola, podera também os únicos sítios que conheço assim tão bem é a escola e as quatro paredes do meu quarto. É chato, eu sei. 

"Estamos quase a chegar!" - ele bateu palmas super contente e eu levantei uma sobrancelha. 

"Nunca pensei que tivesses essa faceta de criança que vai a primeira vez a uma loja de doces." - ri-me e ele amuou completamente - "Mas vá, até ficas super engraçado assim." 

Ele nada disse apenas sorriu e puxou o meu antebraço com ainda mais força. Tinhamos chegado a um sítio cheio de campos abandonados e revaldos com relva super verde. Era mesmo lindo! É fascinante como o cheio da Natureza invade as tuas narinas, como o som dos passarinhos te ecua nos ouvidos e como ficas maravilhada com o quão bonito esta paisagem era. 

"Agora vamos fazer uma coisa.. Não muito ética mas tu vais adorar!" - ele pousou a sua mochila no chão e neste momento estavamos numa colina não muito grande. 

Ele abaixou-se e deitou-se no cimo da colina deixando o seu corpo rebolar pela relva verde até ao final da colina. Mas o que raio ele acabou de fazer? 

"Agora é a tua vez Jasmine.. Desce!" - ele riu-se todo coberto de relva, até mesmo no seu precioso cabelo, tenho de admirar que lhe até fica sexy aquele look. 

Fiz exatamente os mesmos procedimentos que ele, abaixei-me e lentamente deitou-se sobre a relva que estava um pouco húmida. Provavelmente os meus pais vão-me matar quando chegar a casa e vir que estou completamente nojenta mas neste momento pouco me interessava o que eles pensavam, pouco me interessava se eles iriam ficar chateados ou tristes comigo.. Eu apenas quero que esta adrenalina nunca mais acabe. 

Desci a colina exatamente como o Michael desceu, pus as minhas mãos a cobrir o meu peito para que não aleija-se tanto e rebolei com alguma velocidade, embatando no Michael quando cheguei ao fim da colina. Ambos deitamo-nos na relva perdidamente em gargalhadas. 

"Já não me lembro da última vez que me ri assim tão... Naturalmente." - falei olhando para o céu azul que neste momento era a paisagem que estava à minha frente. 

"E posso-te garantir que as tuas gargalhadas são contagiantes mas sim, são gargalhas mesmo verdadeiras." - ele riu-se olhando para mim - "Tu precisas disto Jasmine, precisas de viver a vida enquanto podes se não vais perder toda a diversão de ser adolescente." 

"Tens razão.. Os meus pais pensam que já sou adulta em certos aspectos mas tratam-me como uma criança com tantas regras e tantas ordens." - retirei os meus olhos do céu e estabeleci contacto visual com ele. 

"Mas nestes cinco minutos de diversão pude ver quem é a verdadeira Jasmine Brown e não aquela que todos pensam que és. Tu és tal e qual como eu, sonhadora, aventureira e divertida. Sendo que não estava a espera que fosses assim tão divertida, pensei que fosses demasiado conservadora." 

"Deves pensar que sou uma adolescente presa num corpo de uma velha catética." - ri-me e ele genuínamente riu-se comigo e estavamos tão perto que conseguia sentir o hálito dele a menta. 

"Não mas és muito mais do que aquilo que estava à espera Jasmine, superaste todas as minhas expectativas." - ele aproximou-se a cada palavra que disse e quase sentir a sua cara colada à minha.

Fechei os olhos num ato de reflexo e senti borboletas a voarem dentro da minha barriga. Mas porque me sinto assim? E porque raio fechei eu os olhos? Senti o seu nariz roçar no meu e depois uma longa risada saíu da sua boca e eu não contive e larguei também uma longa risada. O que é que estava prestes a acontecer? Ele.. Ia-me beijar? 

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2014 ⏰

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