Lamentações

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"fundem-se em lágrimas os meus olhos, porque ninguém a meu lado me consola, nem me alenta. " Lamentações, 1 - 16.

O centro agora, era onde eu encontrava meu ninho de desespero.

Eu tinha que sair dali a qualquer custo, eu precisava.

Ninguém podia me ver daquele jeito, nem Herick, ele muito menos obviamente.

Não era algo como o fim do mundo, eu sei, mas seria ótima ideia o fim do mundo acontecer naquela hora.

Eu sentia um gosto amargo na boca, sentia minha visão escurecer, e só conseguia olhar pro nada, enquanto andava lentamente na direção oposta a qual eles estavam.

- Marco! Espera... Calma! - Gianna dizia tentando me alcançar.

Por mais desorientado que eu estava, meus passos ficaram mais rápidos. Eu não sabia exatamente o que sentir, nem o que dizer, e nem como reagir.

Só pensei, e falei:

- Eu vou pra casa, desculpa Gi...

- Tudo bem, eu te entendo, mas eu vou voltar tarde, o Adolf vem me encontrar aqui pra gente ir no cinema - Adolf era o meu cunhado, namorado dela.

- Tudo bem, fico bem sozinho.

Meu irmão Pedro estava viajando pra outra cidade, precisava ir a uma excurção.

Eu entrei no ônibus.

Sentei na janela.

Encostei minha cabeça enquanto chorava por dentro.

O pior de tudo é que não poderia julgar Herick, eu não poderia dizer que ele partiu meu coração, ele não me prometeu nada, foi minha desilusão, eu mesmo parti meu coração, não tinha o que fazer a não ser superar algo que deveria ser superado há muito tempo. Eu não tinha raiva do Herick, muito menos do garoto que estava com ele.

Eu sabia que não deveria ficar triste ou com raivinha se algo não saísse como eu queria, isso faria de mim um mimado, e eu não sou mimado. Porém, eu sabia também que precisava sentir meus sentimentos, pra não esquecer que sou humano.

Chegando em casa, encontrei tudo escuro como sempre, não liguei as luzes, deixei como estava. Fiquei horas no centro, e minha casa ficava um pouco longe, então já estava tudo escuro.

Não sei se Adolf já tinha saído de la, mas tudo indicava que sim, porque estava meio desarrumado principalmente o quarto deles.

- Nossa que bagunça.

Eu tinha mania de falar sozinho. Afinal quem nunca teve? É uma forma de extravasar sentimentos. Eu precisava extravasar de alguma forma, e então comecei arrumando a casa. Ah arrumei tudinho, ficou tão lindinho *risos*

Eu posso dizer que achei uma forma de ocupar minha mente.

Ou poderia...

Comecei a ter dores fortes na cabeça, e tive aquela fome de novo... E então eu apaguei.

Fiquei apagado por 30 minutos talvez, e só acordei com alguém tocando a campaínha do apartamento.

- Oi, pois não? - Atendi e era uma senhora, eu não conhecia, mas era bem estranha.

- Boa noite. A Valquiria está?

- Senhora, acho que se enganou de apartamento, aqui não mora nenhuma Valquiria - Falei dando uma risadinha simpática

- Ah meu querido desculpa - disse ela rindo de volta

- Tenta os outros apartementos, pode ser que ela esteja em um deles

- Ta bem. Muito obrigada e desculpa o incômodo.

- Ah que nada. Boa noite.

Fiquei pensando quem era Valquiria.

Mas meu pensamento se interrompeu quando o interfone tinha tocado.

- Alô!

- O... Oi... É do apartamento 215? - Era uma voz de homem, estranha, não sabia quem poderia ser.

- Sim é daqui mesmo. Com quem você quer falar?

- Com você mesmo.

No início eu pensei que poderia ser uma pegadinha, ou que poderia ser meu irmão que tinha chegado de viajem mais cedo.

- Ah! Tudo bem o que quer falar comigo? - perguntei em um tom irônico

- V... Você tem sentido muita fome ultimamente?

- Sim, como qualquer pessoa

Eu fiquei apavorado na hora. Como ele poderia saber de algo desse tipo?

- Bom, garoto, não é uma fome qualquer, você apaga e acorda sem explicação, correto?

- N... Não, quem te contou isso? você não me conhece, cara.

- Você precisa fugir... De preferência agora...

- O quê? Eu não consigo entender moço...

- Essa fome vai se tornar insaciável mais tarde. Você precisa fugir, proteja quem você ama!

- Ah vai pertubar outro trouxa que hoje eu não to bem!

Desliguei em seguida.

Fui olhar a janela que dava na rua, e lá estava o misterioso homem, parado, na frente da entrada. Eu não podia ver com clareza quem poderia ser, e então ele foi embora, finalmente.

Eu estava em pânico, eu estava totalmente atordoado por uma coisa que poderia ser pegadinha. Não saberia dizer o quanto eu estava com medo e triste. Eu tentei melhorar aquele dia eu mesmo, mas falhei.

Eu só queria dormir e dormir pra sempre.

E o principal de tudo era: Como ele sabia que eu estava sentindo aquilo?

O que ele quis dizer com "fugir"?

Se alguém estava tentando acabar com meu dia, conseguiu. Mas eu não dei o braço a torcer totalmente

- Nossa, depois dessa preciso ir dormir, mas antes vou assistir uma série.

Eu obviamente não iria conseguir dormir, eu estava totalmente apreensivo, ansioso, triste, e tudo mais...

Mas pelo menos eu poderia dormir e superar tudo aquilo por algumas horas até eu acordar.

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