Juízes

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- Miguel! Miguel! Você precisa acordar!- Gianna me acordando depois de uma noite longa de sonhos e membros mutilados.

- Tô... acordado... - mas na verdade eu estava acordando, e com muito sono ainda, pronto pra dormir de novo.

- Ah Miguel! Vou sair daqui a pouco... você prometeu que iria comigo até o centro - ela dizia me lembrando do meu compromisso matinal.

- Já vou já vou - dessa vez eu estava mais acordado.

Realmente, eu precisava ir ao centro com Gianna, prometi há uma semana atrás, não sei bem o que ela vai fazer, mas não me importo, aceitei acompanhá-la, já que não faço nada o dia inteiro.

Como posso ainda pensar em dormir ou que eu tenho um compromisso, e esquecer da longa noite que eu tive? Fora as manchas sobre meu corpo. Por enquanto não mostrei a ninguém, pois acredito que seja algo psicológico, já que sou um garoto incrivelmente problemático.

Não queria sair da cama em plena segunda de manhã, não fazia meu estilo acordar cedo sem ter um trabalho, curso, ou faculdade, minha cabeça dava voltas quando eu parava nesse dilema, toda vez que eu acordava achava que era mais um dia sendo inútil e tentando mudar minha condição. Mas dessa vez, algo estava martelando na minha mente, era o sonho, aquele maldito sonho, e o acontecimento na noite anterior.

Eu tentava mudar meu foco em outra coisa, mas também vinha uma fome inexplicável, era como eu estivesse há dias me abastecendo apenas de oxigênio, enquanto noite passada jantei e muito bem.

- Uau o que aconteceu? Você ta comendo que nem bicho - Dizia Gianna impressionada

Na verdade não era tão estranho. Eu sou uma pessoa que sempre foi magro, não importa o que eu como, eu sempre vou ter esse físico, a menos que eu queira adquirir massa muscular e malhar, talvez em um futuro próximo eu faça. Mas sempre eu fui a pessoa mais faminta da casa, mas dessa vez era estranho, eu não sentia meu estômago funcionar como antes, mas não sentia dor, só... fome.

- Err... Eu só tô com muita fome ué - parecia que sempre eu desmentia ou omitia algo para todos, porque sempre achei que iria incomodar, e isso era um problema.

- Ta, olha só, precisamos nos apressar, até porque o ônibus ta quase na hora de passar aqui na rua - Gianna sempre gostava de ser pontual.

- Ok! To terminando de comer - a fome parecia ter se aliviado um pouco mais, comi três pães quase que de uma vez.

Depois de minutos enrolando, saímos de casa e pegamos o ônibus, quase nos atrasamos.

Eu gostava de me sentar na janela, sempre gostei de observar tudo. Observava coisas que pessoas normais achavam monótomas. Eu via cada detalhe e cada mudança presente, e achava incrível, era uma forma de passar o tédio.

Enquanto olhava as casas da janela do ônibus, percebi um movimento em um beco, exatamente perto de um semáforo. Era claramente uma pessoa saindo de casa com um cachorro. O cachorro parecia furioso, e a pessoa tentava contê-lo inutilmente. Era um cachorro grande, mas parecia vira lata. Estava tudo quase normal quando de repente o cachorro morde seu dono, pela perna direita e ele não soltava. Eu vi aquela cena e ri, mas ele não soltava, até que eu tive a impressão de ter visto sangue na perna dele, e em todo o chão. Precisamos levar em consideração a iluminação, o local e a distância limite da minha visão. Mas eu prestava atenção atentamente.

- Ai preciso fazer compras lá pra casa - Guianna falou intenrropendo o momento de silêncio e me dando um enorme susto

- Caramba, menina... que susto! - eu estava tão distraído a ponto de levar um susto.

- O que foi? Viu alguém? Viu o Herick? *risos*

- Não, até parece, Deus me livre - eu falava, mesmo sabendo que era o que eu sempre queria que acontecesse. - Não acho que a vida dê esperança algum dia pra nós.

- Mas o que houve? Você nunca me conta nada. - Gianna ficava frustrada com isso, porque ela dizia que eramos uma família.

- Ele e eu meio que nos afastamos, eu quis me encontrar com ele uma última vez, mas ele me ignorou e fez questão de reclamar sobre mim no twitter.

- E como que tu sabe?

- Por um acaso achei um twite dele, quando procurei por uma tag. Mas tudo bem, eu to bem com isso sabe. Mesmo que ele tire sarro de mim, ou ache que faz bem em me ignorar, não tenho raiva. - eu sempre falava isso, em uma tentativa ridícula de driblar meus sentimentos e fazer eu esquecer sobre tudo.

As coisas nem sempre foram feitas para ser sucesso em nossa vida, aprendi de uma maneira bem surreal, e eu fiquei chocado assim que descobri que o país das maravilhas não existe de fato. O que existe é dor, sofrimento, mutilação e fome...

- Ah chegamos - Gianna aliviada, cortou o momento de filosofia na minha cabeça.

- Amém - respirei aliviado por ter chegado

- Agora vamos sacar dinheiro, como eu disse, precisamos comprar umas coisinhas pra casa

- Ta bem.

Eu não sabia exatamente que coisinhas eram essas, mas nem me importava.

Andamos por horas, mas eu não me importava de andar sem parar, ás vezes eu mesmo só ia no centro para bater perna e encher o saco nas lojas, e nunca comprava nada, é o que se pode esperar de um ex-colegial sem grana.

Eu andei muito, e prefeira não ter saído de casa naquele dia.

- Miguel, vamos pra outro lugar essa não é a rua da loja que eu procuro. - Dizia Gianna enquanto me empurrava para uma direção oposta, tentando esconder algo

- Não mulher! Essa é a rua, eu lembro exatamente - falei sem entender nada

- Miguel, vamos pra outra rua por favor!

- Ta, se você me explicar o que ta acontecendo eu te ajudo.

- Eu vou te dizer se a gente mudar de rota.

- Ah muda você! to há horas andando - enquanto falava eu seguia a direção que nós estávamos, e enquanto eu seguia, preferia ter ouvido Gianna.

Herick estava lá.

Era uma visão tão linda.

Ou seria.

Seria se não estivesse aos beijos com outro garoto.

Não sei o que deveria pensar nessa hora.

- Que porra é essa! - falei baixo apenas pra mim mesmo.

E pensar que eu ainda poderia ser forte tentando seguir em frente.

Eu não conseguia porque eu não tinha opção.

Eu não conseguia porque eu não me amava o suficiente.

E pensar que eu só fui mais um pra ele.

Eu só queria sair correndo dali...

VorazOnde histórias criam vida. Descubra agora