Amós

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Já eram exatamente 9 horas da manhã, acordei cedo de forma automática. 

A propósito, sonhei com o mesmo sonho, e nada mudou. Digo... Quase nada mudou. As manchas em meu corpo se multiplicaram e eu sentia mais fome, mas não era só isso. Além de tudo ainda estranho, acordo desde noites passadas com uma enorme melancolia, algo inexplicável. Eu sentia que estava apodrecendo.

Eu resolvi então levantar e comer alguma coisa, já que não poderia resolver esse mistério em mim.

Eu ainda estava só em casa. Precisava ir ao centro mais uma vez, mas dessa vez eu tinha que me inscrever em um curso de preparação pro vestibular.

Eu sei o que deve estar pensando... Como eu ainda vou ter coragem de voltar ao centro depois de ontem? Simples. Eu vou ter que ignorar o episódio de ontem e focar no que realmente me interessa, e preciso o quanto antes. 

O que Herick fazia ou deixava de fazer não era problema meu. Ele simplesmente estava seguindo em frente, diferente de mim que me lamentava a cada hora, em uma esperança de ser notado.

Deixando isso de lado, comi tudo o que eu pude comer, e o melhor, sem alguém me perturbando. Precisava ainda me arrumar pra sair, mas não me preocupava já que não importava o quão bonito eu me vestia, não dava jeito, eu não era tão atraente.

- Ah vou ter que me apressar ou vou perder o ônibus. - pensei alto

Faltavam alguns minutos até o ônibus passar no ponto, que fica bem perto de casa. 

Enfim, deu tempo de fazer tudo e ainda pegar o ônibus pontualmente. Gianna ficaria orgulhosa *risos*.

Como sempre sentei na janela, observava o dia.

Que dia lindo era aquele.

Por mais destruído que eu esteja eu sempre gostava de perceber como o dia, o clima, o tempo e as pessoas estavam naquele momento. E então passei na mesma rua que vi um estranho ser atacado violentamente por seu próprio cachorro.

Enquanto eu me perdia em pensamentos, uma senhora entrara no ônibus.

Ela logo se sentou no banco de trás ao meu, onde aparentemente estava alguém que a conhecia.

- Oi, Marli! Quanto tempo querida! - Falou a senhora, e logo concluí que o nome da outra pessoa era Marli.

- Olá Cláudia! Tudo bem com você? - Bingo! O nome da senhora era Claudia.

Eu não pude deixar de ouvir sobre o que estavam falando. E estranhamente eu estava processando detalhes na minha cabeça. Cada detalhe não passava despercebido de mim.

- Ai Marli, as coisas não estão muito bem

- C... Claudia! O que houve? - Marli estava aparentemente preocupada.

- Meu cachorro, Snoop, você já deve ter visto

- Sim já vi nas redes sociais. O que aconteceu?

- Então, ontem ele tava muito esquisito. Há alguns dias ele já estava meio fraco. Percebi manchas escuras na barriga dele, e além de tudo ele comia toda a ração. Tive que comprar três pacotes tamanho família só semana passada. E ontem, iriamos leva-lo ao veterinário, mas parecia que algo tomou conta dele. Talvez seja raiva, não sei bem.

Eu não acreditava no que eu ouvia. O episódio do cachorro havia acontecido mesmo, e o pior, ele estava em uma situação semelhante a minha! Será que eu to com raiva agora? Eu precisava ouvir mais a conversa.

- Nossa, Claudia! Que pena! Mas você vacinou Snoop contra tudo, inclusive com a raiva. Como é possível ele adquirir a raiva mesmo que imune?

- Eu não sei. Mas meu filho foi mordido por ele e eu to preocupada. Ele também tem agido de forma estranha

O que será que aconteceu? Já vi algo desse tipo em filmes de zumbi.

... Não... Impossível...

As senhoras logo desceram do ônibus e eu continuei, rumo ao centro.

Eu estava paralisado, em choque, como isso pode acontecer? Preciso procurar um médico?

Eu preferi deixar como tudo está. Se algo acontecer ou essa coisa em mim se agravar, eu procuro. Só espero que não seja tarde demais.

Enfim, cheguei no centro. Eu queria logo achar esse cursinho e ir pra casa.

O curso ficava há algumas quadras perto do terminal. Foi fácil encontrar. Logo cheguei e já disse que estava interessado no curso. A atendente me explicou, deu o orçamento, enfim, fez o trabalho dela.

A oferta era boa, eu logo aceitei. Ela precisava de algumas papeladas pra eu poder assinar. Poderia até assinar em casa e trazer no dia seguinte pra ela.

- Só um minuto, vou organizar tudo direitinho pra você, ok Miguel?

- Ah claro, sem pressa.

Eu era o tipo de pessoa mais paciente que alguém pudesse imaginar. Eu chegava a ser trouxa.

Sentei, então, em um sofá de espera. Achei que aquele lugar era movimentado, por conta de ser um lugar que era referência por lá.

Eu estava pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, enquanto descobria meus braços e olhava pras manchas.

- Uau! Você se meteu em encrenca não é? - disse um garoto aleatório, eu não percebi a chegada dele, então levei um susto dos grandes.

- Q... Quem é você? - falei escondendo meus braços nas mangas do meu moletom vermelho.

- Ah, desculpa o susto. Meu nome é Kaleb, prazer.

Apesar do susto, não pude deixar de notar na beleza que me atraía. Por Deus, ele era tão lindo que não me importava em quantos sustos ele quisesse me dar, eu não iria ligar.

- O... Oi, prazer, meu nome é Miguel

- Se assustou mesmo? Foi mal, é que precisava falar com a atendente e vi você de bobeira aí.

- Não, tudo bem, eu superei o susto. E devo te dar parabéns já que é bem difícil eu me assustar, e a propósito, quando entrou aqui?

- Eu sou um ninja!

- Ah entendi *risos*

Percebi que ele era uma pessoa bem extrovertida e gostava de conversar com as pessoas.

- Eu adoraria conversar mais, porém estou atrasado pra aula - falava em um tom de brincadeira

- Vai lá senhor ninja! Vê se não assusta as pessoas ok?

- Vou tentar *risos*

Depois disso, a atendente me entregou os papéis, e voltei pra casa.

Eu poderia ter pedido o número do Kaleb, mas ele não se interessaria em conversar com alguém como eu. Ele apenas foi educado.

Voltei pra casa como de praxe, sem nada de muito importante ainda. Só espero que pelo menos minha noite de sono seja normal, se é que terei uma noite de sono, não conseguia tirar a conversa das duas senhoras no ônibus. Preciso ficar atento às mudanças que ocorrerem em meu corpo.

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