Se eu não tivesse a certeza de que estava morrendo, certamente entraria em pânico.
O barulho ao meu redor era de uma luta desigual. Vinha de toda a parte. Os gritos de horror foram abafados pelos sons animalescos de um predador em pleno ato de caçar e matar. Cridder devia saber que não havia a menor chance de escapar... Mas, logo seu desespero foi suplantado por um rugido aterrador, que de certo pôs fim à agonia. Então, tudo mergulhou no mais absoluto silêncio, exceto quando o vento "dedilhou" as folhas das árvores com extrema suavidade.
Eu já não tinha mais forças... Só queria que as dores cessassem, que as luzes explodindo em meu cérebro apagassem e eu morresse de uma vez. Como isso ainda não aconteceu, eu aguardei com resignação que o predador - ou o que quer que ele fosse - se voltasse para mim.
Surpreendentemente, um perfume agradável me envolveu; era como hálito frio e suave soprando em minha testa. Fui erguida do chão úmido por braços fortes e seguros... Eu estava salva? O pesadelo tinha acabado?
Não consegui abrir os olhos, de tão fraca... sentia tanto frio, que me aconcheguei junto ao peito que me amparava. No mesmo instante, a respiração que eu sentia bafejar a minha testa, cessou. Escutei, então, um murmúrio grave junto ao meu ouvido. Não entendi o que foi dito, mas o tom daquela voz me deu esperanças... Eu tinha um anjo da guarda, afinal.
E eu que cheguei a pensar que lá em cima, ninguém se importava comigo.
A seguir, minha mente perdeu qualquer fio de lucidez ao qual pudesse se agarrar. Quando voltei à mim, o cenário havia mudado. Ao invés da floresta escura, eu estava cercada por paredes muito brancas. Embora minha cama estivesse mergulhada na penumbra, um facho de luz me alcançou pelas divisórias semiabertas. Elas deixavam entrever um corredor movimentado. Só então, reparei que um cobertor grosso me protegia do frio que costumava castigar a terra do fogo, no inverno.
Minha respiração ficou opressa. Havia mais alguém no quarto. Estreitei os olhos para focalizar a figura na penumbra. Era um homem de jaleco. As sombras projetadas pelas venezianas não me permitiam ver o rosto com clareza. Ele examinava uma prancha, enquanto se apoiava displicentemente à grade da cama. Do lado oposto, um monitor emitia um bip constante e monótono.
Estiquei o pescoço para observar melhor o homem e senti o corpo todo dolorido. Meus braços dormentes protestaram quando tentei mexê-los. Alguns repuxos me alertaram para o "grampo" conectado ao dedo indicador. Havia, também, uma agulha enfiada no pulso, através da qual o soro pendurado no suporte de ferro descia gradualmente para a minha veia.
Atraído pelo meu movimento, o homem levantou a cabeça e se aproximou lentamente da cabeceira - sendo iluminado em cheio pela luz que vinha do corredor. Foi aí que realmente pude vê-lo. Ele era jovem. E muito bonito! Os cabelos negros e rebeldes emolduravam um rosto de tirar o fôlego. Apesar de estar de jaleco, por um momento duvidei que fosse médico. Mais parecia um jovem guerreiro.
Ele usava óculos de hastes pretas e largas. A armação elegante combinava à perfeição com aquele rosto. As lentes pareciam fotocromáticas.
Mas, mesmo com os olhos parcialmente ocultos, percebi com clareza o seu brilho. Eram olhos perspicazes, experientes. Olhos de quem tinha autoridade. Frios. Mas que pareciam estranhamente ternos enquanto me fitavam.
Tive a vaga sensação de já conhecê-lo. Embora, de fato, nunca o tivesse visto em toda a minha vida. Ele tinha uma fisionomia marcante demais para ser esquecida.
-Quem é você? - minhas palavras saíram sussurradas, arranhando a garganta ressequida.
Ele se afastou por um momento, sem dizer nada.
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