— Isso soa realmente afetuoso. Vocês não deveriam se mostrar assim. Quem eram os monstros que cometeram as atrocidades das quais todos nós soubemos?
— Monstros somos todos nós. Alguns mais, outros menos, mas ninguém dá o braço a torcer e admite que esteja errado.
— Vocês querem calar a boca?!
Jannike estava nervosa, e não era para menos. Desde que Niihachi e Sieben chegaram à Sede e contaram, entre ofegos, a nova suposição a todos, não houve um instante de sossego e isso já fazia quase quarenta minutos. Achava que fora imprudência dos garotos falar sobre aquilo tão abertamente a todos, mas de certa forma até compreendia. Era como ver a luz no fim de um túnel longo demais para existir.
Houve um silêncio súbito e a líder fez um gesto para que Niihachi entregasse a ela o celular de Huit. Ele obedeceu e Jannike analisou a imagem do cadáver de Tredice por algum tempo antes de começar a falar:
— É nossa melhor chance, mas vocês sabem que pode dar tudo errado, não sabem?
— Com certeza. — Sieben murmurou.
— Como vocês acham que a porta é destravada? Já pensaram em qual pode ser a chave?
— Força bruta? — Dezen, que era o único calado até momento, arriscou.
— E como sabe disso?
— Ouvi uma conversa sobre isso há muito tempo, quando vocês me colocaram para espionar Ochun da Força. — Deu de ombros. — Na época, não fez muito sentido para mim, mas Huit achou que aquela conversa toda sobre fulano ser muito fraco pra arrastar a porta era muito estranha. Acreditem, eles nunca imaginariam que esse lugar seria descoberto sem que eles soubessem.
— Por que você estava espionando Ochun? — Zwöl perguntou.
— Por que Jannike e Katja sempre tiveram uma suspeita sobre os Administradores e, na ocasião, Ochun foi chamado para recolher um corpo de um Administrador que faleceu. Eu queria ver como seriam os procedimentos da autópsia.
A última frase proferida por Dezen chamou a atenção de Sieben e ele se recordou da estranha imagem que Niihachi lhe mostrara. Uma estranha possibilidade surgiu em sua mente e Sieben tratou logo de afugentá-la. Não seria útil. Ao menos não por hora.
— E então? — Twight perguntou. — Por onde começamos?
***
Sieben estava impaciente. Sua equipe, formada por Dezen e Twine, era desagradavelmente cautelosa. Tinha absoluta certeza de que isso se devia ao fato de que Twine e Dezen passaram a vida dentro da resistência e já haviam passado por coisas demais para se permitirem ser tão afobados quanto ele.
O Sol se punha quando começaram, finalmente, a se mover nos becos em direção ao obelisco da Segurança.
Ficara acordado também que Dezen desceria para o subsolo, por conta de suas atividades anteriores espionando a Força. Isso tampouco agradou Sieben, mas, diferente dele, Dezen e os demais haviam esperado tempo demais por aquilo. Aquele sentimento resumia a missão: não estava de fato concordando com suas tarefas, mas sabia que era assim que tinha que ser.
— Você acha mesmo que nós vamos conseguir arrastar o obelisco?
— Quando eu precisei descer, lembro que tinha três caras comigo. Eles conseguiram arrastar e eram da Força. Membros da Força são bem fraquinhos.
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Sui Generis
Science FictionUnidade é o nome do último país habitado do mundo e onde mora Sieben, um jovem de vinte anos que passou a vida inteira integrando a sociedade em que vivia sem questionar as diversas incoerências que aprendera a respeito de sua origem e seu país. E...