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√ Larissa

— Eu tenho que vê-la. — digo, lembrando da última vez que a vi sendo levada as pressas para dentro da sala de cirurgia, sem vestígios de sobrevivência, mas logo depois recebi a notícia que ela estava bem, porém ainda inconsciente.

— Você sabe que isso é uma péssima ideia. Eu te avisei desde o começo que isso não ia acabar bem Larissa. — Elize repete pela milésima vez as mesmas palavras. Sua face negra pesou sobre mim, demonstrando seu desprezo.

— Mas eu não posso deixar isso terminar assim, eu amo Judith. — Liz solta um longo suspiro.

— Eu sei Larissa, mas Dylan agora está morrendo de ódio de você, e embora você tenha feito Judith fazer as pazes com os pais, eles também estão com rancor de você. Você mentiu para eles Larissa, como queria que eles ficassem? — coloca um copo de café para mim sobre a mesa e faz um coque em seu cabelo liso.

Eu sei que o que fiz foi quase desumano, menti pois não sabia como dizer a verdade, mas de todas as aventuras que já tive, Judith foi a mais intensa e extraordinária, eu tenho que me explicar e resolver as coisas com ela.

— Eu vou vê-la e ponto final.

— Como? Você sabe que eles não vão te deixar entrar, e pelo o que soube, ela ainda não acordou.

— Dylan trabalha, não pode ficar lá para sempre, e quanto aos pais dela, eu me resolvo. — refutei determinada.

— Desisto, não tem como lutar contra você.

[...]

Assim que cheguei no quarto onde Judith estava, me deparei com seus pais e pude sentir os seus olhares de desprezo e desgosto sobre mim.

— O que você está fazendo aqui? Já não falamos pra não por seus pés aqui? — esbravejou a mãe de Judith, furiosa.

— Calma querida. — disse seu marido tentando segura-la.

— Desculpem, mas não posso deixar as coisas como estão, eu precisava vê-la.

— Você quase matou minha filha e agora acha que pode vê-la? Você não tem um pingo de vergonha na cara não é mesmo? — fitou-me dos pés a cabeça.

— Ma-mãe... pai... — olho para cama e vejo Judith acordando aos poucos, abrindo seus olhos com dificuldade. 

Meu coração se encheu de alegria, poder ouvir sua voz novamente era reconfortante.

— Minha querida!-— falou a mãe de Judith, sentou-se na cama e depositou um beijo em sua testa. — Ficamos preocupados.

— Mas... o que houve? — coloca sua mão na testa. — Que dor de cabeça!

— Não se esforce querida, você acabou de acordar, tem que descansar mais. — aproveitei a deixa e me aproximei, na esperança que ela dirigisse a palavra a mim.

— Judith... — digo, a esse ponto já não sentia mais os movimentos das minhas pernas. — Como se sente? — ela passa a me encarar.

— Mas... quem é você? — me olha com estranheza, como se não me conhecesse. — Sou eu, Larissa, você não se lembra de mim? — nega com a cabeça.

— Deveria?

Então eu lembro das palavras do Dr. no dia do acidente:

— Ela sofreu uma pancada muito forte na cabeça, e pela gravidade dos ferimentos é um milagre ela estar viva. Porém, pacientes com os mesmos ferimentos que ela apresentam uma certa perca de memória, e outras vezes não, mas isso só saberemos quando ela acordar.

Então é isso, Judith não se lembra mais de mim?

— Não... não precisa se incomodar, sou apenas uma colega preocupada, nada de mais. Espero que fique bem. — seus pais me olham incrédulos, mas ao mesmo tempo entenderam meu ato.

Sai do hospital fazendo meu máximo segurar as lágrimas e não gritar para o mundo o tamanho da dor que estava sentindo.

[...]

Tomar essa decisão foi difícil porém necessária.

Peguei as chaves reservas do AP de Judith que ficavam em um vaso com flores ao lado da porta, abri e adentrei na casa.

Ao abrir aquela porta também se abriu uma caixa cheia de lembranças de nós duas e da nossa vida juntas. Os filmes, as risadas, as brincadeiras, as brigas bobas... memórias que talvez ela nunca mais se lembre, e se eu ficar aqui, além de faze-la relembrar as coisas boas, ela também irá recordar das dores daquele maldito dia, e eu não quero isso para ela. Judith é incrível, espontânea, alegre, algo que eu nunca imaginei que fosse, desbravar todos os seus segredos me deixou em êxtase e me trouxe sensações inacreditáveis.

Coloquei uma mala na cama que trouxe para por todas as minhas coisas que estavam aqui, foi então que eu vi dentro da mala: a caixa de presente de Judith. Com toda essa correria eu nem fui capaz de se quer ver o que ela havia feito, foi então que abri.

Lá dentro tinha um pen drive, uma pulseira com nossas iniciais, uma camiseta, um urso e uma carta.

Peguei o notebook de Judith e coloquei o pen drive, lá tinha várias fotos nossas e um vídeo, dei play; começou a aparecer várias montagens nossas e à tradução da nossa música: Say You Won't Let Go (Diga Que Você Não Vai Embora)


I met you in the dark
(Eu te conheci no escuro)

You lit me up
(Você me iluminou)

You made me feel as though
(Você me fez sentir como se)

I was enough
(Eu fosse o suficiente)

[...]

Peguei a carta e comecei a ler:

"Larissa, sei que isso vai soar ridículo e meio clichê, mas é o que acontece quando realmente amamos alguém. Você me trouxe emoções e sensações incríveis, e estar ao teu lado foi a melhor coisa que me aconteceu. Você me fez ser melhor não para você, mas para mim mesma e eu não posso fazer nada além de te agradecer.

Há coisas na vida no qual esquecemos, mas se tem algo que eu nunca esquecerei, é do meu amor por você.

Feliz Aniversário.

- J. C."

Ler tais palavras me fez doer não apenas o coração, mas também a alma.

Judith merecia mais, muito mais... e eu não era esse mais para ela.

Peguei tudo que havia meu lá: roupas, acessórios, cartas, presentes. Não queria que Judith lembrasse de mim, da pessoa que mais lhe fez sofrer. Talvez essa perca de memória fosse algo bom, pelo menos assim ela nunca lembrará de mim.

As vezes, esquecemos daquilo que mais queremos lembrar, e lembramos do que mais queremos esquecer.







Judith Onde histórias criam vida. Descubra agora