A escola

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Meu pai sempre foi uma pessoa descuidada e relaxada e minha mãe o aposto dele. Ou seja, aquela linda história dos apostos que se atraem né? Errado! Minha mãe sempre cobrava e exigia demais dele pra fazer as coisas certas e principalmente na hora certa ( assim como ela faz com todo mundo). No começo, eu notava que meu pai realmente se esforçava pra ser como ela queria, só que, de uns tempos pra cá, bem... basicamente ele tem metido o foda-se pra ela, pra nós e pra tudo na verdade, perdeu o emprego e começou a fumar e a beber quase todos os dias, quase sempre chega tarde da noite bêbado em casa, mamãe diz que ele perdeu o emprego porquê chegava atrasado no trabalho. Mas eu aposto que a cara de ressaca, os olhos vermelhos e inchados, e o bafo de cachaça, não deveria agradar muito o seu chefe também.

- pronto, chegamos seus pestinhas. Vamos, todos pra fora anda! vão estudar pra serem alguma poha nessa vida
- pai, me empresta 50 reais
- pra que você prescisa de 50 reais, Lucas?
- quero comprar um jogo novo pro meu 3DS
- pedi pra sua mãe quando vc chegar em casa, eu não tenho dinheiro aqui
(Na verdade ele tinha sim, mas era pra outra coisa)
- tá bom...
- e você Fernando, ver se para com essa merda de fumar maconha muleque, se não vamos ter que ti internar numa poha de uma clinica de reabilitação. É isso que você quer?
- não pai, eu parei de fumar, já disse!
Na verdade eu não tinha parado, e nem sabia como faria pra de fato parar de vez, minhas terapias estavam me ajudando a controlar o meu vício. Porém, vira e mexe eu ainda tinha umas recaídas.
- ok então, bons dia pra vocês meninos. Ah sim... so mais uma coisa. Hoje não vou poder vim buscar vocês na hora que sairem da escola, porque vou fazer fazer umas coisas. Por isso, quero que vocês assim que sairem voltem direito pra casa, ouviram bem? Nada de fica na rua vadiando ou fumando, não falem com estranhos e voltem juntos. Fernando, você é o mais velho, cuide do seu irmão ouviu, ver se cria alguma responsabilidade nessa vida pelo menos uma vez.
( digo o mesmo pra você pai)
- Tudo bem pai, pode deixar!
- Ok então, tchau crianças!
- Tchau pai
Respondemos Lucas e eu em uníssono

Nessa momento, tudo que eu gostaria de ter feito agora já sabendo das circunstâncias que se sucederiam, era gritar pro meu pai voltar e falar pra ele não ir encher a cara de novo ou pelo menos vim nos buscar quando sairmos da escola. Mas infelizmente, aquele dia aconteceu á 17 anos e não posso voltar atrás mais.

- Até parece que um maconheiro como você tem responsabilidades sobre alguma coisa!
- Vai se ferrar, Lucas!
Então finalmente fomos para aula.

Chegamos atrasados e colocamos a culpa na chuva, mas mesmo assim tivemos que assinar uma advertência.
Sentei-me na minha cadeira de sempre no "Fundão", enquanto o Lucas sentou na frente como sempre fazia também, não porquê era um bom aluno mas porquê não gostava de ficar perto de mim na sala, preferia fingir que não eramos irmãos, e por mim tudo bem, não ligava muito pra isso. Apesar de não ser popular com os colegas como ele, eu tinha os meus no "Fundão", que era o Matheus meu melhor amigo e a Bruna minha namorada, ela era a menina mais linda da qual já conheci na vida, cabelos pretos, olhos castanhos, magra e baixinha tinha 14 anos. Até hoje me pergunto o que ela via em mim, todo mundo da escola dizia que eu era feio, estranho e que ela era demais pra mim, eu nunca liguei pros comentários alheios e nem ela, nos eramos um casal perfeito... pelo menos era o que eu achava na época.

- Moh, você fez o trabalho de matemática que o professor passou pra entregar hoje?
- que trabalho?
Eu sabia qual era o trabalho, mas me fiz de desentendido pra Bruna porquê não fiz a droga do trabalho, odiava matemática e não suportava largar uma hora da minha jogatina de CSGO no PC, pra fazer uma droga de trabalho de matemática.
- moh, eu te liguei no sábado pra te lembrar do trabalho, até deixei recado na sua secretária eletrônica
- desculpa moh, mas não vi, foi mal
- tudo bem, aqui! Pega a resposta do meu, a aula de matemática vai ser no terceiro horário só.
- parceiro, o que vamos fazer hoje, em?
- não sei Matheus, meu pai pelo jeito vai encher a cara hoje de novo, e vou ter que levar a droga do meu irmão pra casa
- poha, que merda em mano. Logo hoje que eu tava afim de te levar numa quebrada.
- que quebrada?
- o Matheus disse que encontrou uma nova boca de fumo aqui perto e que as paradas la tão bem mais baratas que na do shakal
- nem vem cara, conheço todas a bocas dessa cidade como a palma da minha mão, se tivesse algo novo assim aqui eu já saberia
- é sério mano, o cara lá abriu agora tem uma semana, ele é amigo de um primo meu, ou seja, vamos ter descontos exclusivos meu parceiro, vai querer ficar fora dessa?

Geralmente em situações como aquelas eu nem pensava duas vezes antes de embarcar, mas agora eu tava numa encruzilhada, não podia simplesmente ir Porquê tinha que levar meu irmão pra casa. Se eu levasse ele numa boca de fumo e meus pais descobrissem, eu estava Morto. Mas, ao mesmo tempo meu vício falou mais alto, eu estava naquele dia completando um mês puro, mas isso certamente não ia durar por muito tempo.
No intervalo, fui conversar com meu irmão que estava caminhando pelos corredores conversando com um amigo sobre jogos

- Lucas, posso falar contigo um instante?
- o que você quer?
- tem que ser em particular
- cara nao enche o meu saco, eu tenho que ir...
- por favor, só um minutinho eu juro
- a merda, ok! Julio vai indo na frente, já te encontro na biblioteca, beleza?
Meu irmão sempre sabia quando eu tava desesperado, ele conhecia meus vicios muito bem e sempre tirava proveito disso
- anda, desesrola
- preciso ir num lugar com a Bruna e o Matheus depois da aula
- que legal, a reunião de maconheiros ta marcada pra hoje é?
- vai se ferrar Lucas, preciso que você fique de boca calada sobre isso, ok?
- vai se ferrar você e seus amigos maconheiros do caralho, tu acha que eu vou te encobertar dessa vez?
- por favor, Lucas nunca te pedi nada mano
- você nunca me pedi nada porque sabe que eu não sou do tipo que dou, mas sim do tipo que recebe, idiota
- ok, quanto você quer dessa vez?
- 50 reais e você arruma minha cama por um mês
- tudo bem
- ei, você não ta esquecendo de uma coisa? O pai não vem nos buscar hoje, ele disse pra nos chegarmos em casa juntos, lembra?
- poha verdade, tinha me esquecido disso!
- relaxa eu vou com o Julio pra casa, vai ficar tudo numa boa!
Eu ja sabia por experiência própria que se meu pai falava alguma coisa pra gente fazer, ele contava pra minha mãe e quando algo não acontece como ela ta esperando, ela basicamente surta e vai desconfiar na hora se eu não chegar em casa junto com o meu irmão
- não, é muito arriscado Lucas... quanto você quer pra ir comigo?

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