O desespero final

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Quando você está em uma situação de desespero, a única coisa que você não quer é que alguém te deixe ainda mais desesperado.
Ao chegar em casa, eu abro a porta e vejo a minha mãe sentada no sofá, com um terço em uma mão, e um relógio na outro. Estava falando baixinho consigo mesma, ela parecia está fazendo uma prece enquanto olhando fixamento pro relógio. Quando ela me viu, levantou do sofá rapidamente, correu até a minha direção e me abraçou.

- graças a deus, você chegou meu filho!!
Enquanto minha mãe me abraçava, meu pai apareceu na sala!
- muleque, isso são horas de chegar em casa?
- filho, seu pai tem razão, você sabe que horas já são?
- não...
- Cadê o seu irmão?
Fiquei em silêncio!
- filho cadê o Lucas, vocês não vinheram juntos?
- eu... o Lucas...
abaixei a cabeça
- fala logo Muleque irresponsável, onde tá seu irmão?
- o Lucas... sumiu...

Nunca mais me esqueci do semblante de desesperado que minha mãe fez quando eu disse aquilo, uma cara de dor e angústia que só uma mãe é capaz de fazer quando um filho está perdido. Já o meu pai, enquanto eu contava tudo que tinha acontecido, ele me encarava com um olhar desafiador e acusatório.

- poha, eu sabia que esse muleque desgraçado não tinha parado com essa merda de fumar maconha, olha só o que a droga desse seu vício causou!
- desculpa pai...
- não me venha com essas suas desculpas esfarrapadas muleque, você não tem jeito, vou te internar numa poha de uma clínica de reabilitação, lá que é o lugar de drogados como você
- já chega amor, depois nos resolvemos essa isso, por favor!

minha mãe sempre me defendia quando meu pai me dava broncas sobre o meu vício, mas dessa vez a preocupação dela maior era com meu irmão!

- Filho, onde fica essa floresta que seu irmão se perdeu?
- não fica muito longe daqui, uns 3 km mais ou menos...
- nos leve até lá então, amor pega a chave do carro, eu vou ligar pra polícia.

Sempre quando estamos em uma situação de estresse, o mais comum é a gente não reparar tanto nos detalhes das coisas, mas comigo foi totalmente diferente naquela noite e naquele carro. Tudo que eu estava sentindo agora era medo, medo de perder meu irmão pra sempre, e medo de ir para uma clínica de reabilitação. Meu pai continuava a me xingar sem parar mesmo dirigindo, e minha mãe fazia as preces dela em silêncio. Eu estava no banco de trás preso em meus próprios pensamentos, eu tentava prestar atenção na estrada pra dizer o ponto da floresta em que eu me lembrava ser por onde nos entramos.
Mas Meu pai continuava muito nervoso, e estava fumando enquanto dirigia, em um breve momento ele se distraiu e deixou o cigarro caiu no carpete do carro, então no momento que ele abaixou pra pegar o cigarro... ele apareceu!

- PAI, CUIDADO!!!

Meu pai se assustou e no reflexo girou o volante todo pra direita, desviando de um animal fantasmagóricamente branco, que estava no meio da pista, mas perdeu o controle do carro e caímos numa ribanceira e só paramos depois de acertar em cheio uma árvore.
Depois disso minha mente deu um branco, e quando voltei á consciência estava numa cama de hospital.

- ei, acho que ele tá acordando, doutor!

O quarto estava cheio de aparelho médicos, a maioria conectados a mim. Tentei acostumar meu olhos com a luz e olhei pro meu lado esquerdo, onde tinha alguém sentado ao meu lado segurando a minha mão!

- onde estou?
- calma, você ta num hospital moh, ficou em coma por dois dias mas agora esta tudo bem, não é doutor?
- sim, você é praticamente um milagre rapaz, seus sinais vitais estão ótimos agora!
- e meus pais, cadê eles?

Provavelmente esse foi o dia que mais chorei na minha vida. Assim que a Bruna ia me falando o que aconteceu, flashes de momentos do acidente iam voltando à minha mente. Meu pai tentou desviar de um cavalo, e então percebi que era o mesmo cavalo abadonado no meio da floresta que eu tinha desamarrado e assustado. E graças a isso, meus pais estavam mortos agora. Eu então fico em prantos

- e o meu irmão... o Lucas, cadê ele?
Bruna fez uma cara de tristeza maior ainda, abaixou a cabeça e começou a falar
- encotraram ele hoje de manhã, estava dentro de uma cisterna abandonada, segundo o legista, ele quebrou as duas pernas na queda, e por causa da tempestade naquele dia, acabou morrendo afogado...
- NÃO!!!

P.S. depois desse dia eu nunca mais fui o mesmo, fui morar em um alfanato até os meus 17 anos, depois sai e reencontrei a bruna novamente, chegamos a nos casar mas não durou muito, não á culpo pela nossa separação, pois eu já não era o mesmo cara de quem ela tinha se apaixonado, já não restava mais nada de mim do que já fui um dia. Em mim só existe tristeza, arrependimento e paranóia agora.
Dos meus 20 aos 32 anos, vivi uma vida miserável e alimentada por drogas, agora de todos os tipos e ainda mais fortes. Semana passado fui parar no hospital por conta de uma overdose, e agora descobri que estou com um câncer maligno no estômago em uma etapa muita avançado. O médico de forma otimista meu disse que eu teria mais 1 mês de vida no máximo.
Enfim... por isso deixo aqui essa carta contanto o dia da minha vida que eu simplesmente morri e continuei vivendo. Não quero que ninguém se sensibilize com a minha história ou que sinta pena de mim, mas que apenas veja ela como algo que infelizmente acontece, e que nem sempre estamos preparados para lidar com tudo que a vida nos guarda.( E aonde quer que você esteja agora Lucas... CALA À BOCA e me empresta logo essa droga de Nintendo Switch !!!)

FIM!!

Borboletas Paranóicas Onde histórias criam vida. Descubra agora