• Candy •

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Richie tentou evitar olhar para a estátua de Paul Bunyan a qual estava às suas costas. Não sabia o porquê escolheu justo aquele lugar para se encontrar com o Eddie. Por que não a ponte do beijo que ficava ali perto? Não, obrigado.

Não demorou muito, lá estava o garoto baixinho se abeirando da calçada com a sua bicicleta, numa velocidade bastante absurda para um asmático. Como sequela, ele começou a arfar, assim como ocorria na educação física da escola.

Eddie apeou da bicicleta, a empurrou pelas manoplas e andou até Richie

Tozier sentiu o coração disparado e o frio na barriga. O cabelo de Kaspbrak, partido de lado e sutilmente rufado com o auxílio de gel, refletia a luz do sol frouxo de outono. Quando o garoto ergueu os olhos para a sua direção e engelhou a testa com os lábios entreabertos, Richie jurou que fosse desmaiar a qualquer momento.

Para disfarçar essa sua reação constrangedora, desenhou um leve sorriso e ajeitou o óculos.

"Minhas balas, por favor, senhor", disse Richie imitando a voz de um manobrista aborrecido, em seguida estendeu a mão para o garoto da sua frente que já segurava uma bombinha.

"Quer arrancar o meu gibi e o meu dinheiro", disse ele entregando ao garoto de óculos as balas que depois foram parar dentro do bolso da calça dele.

Eddie pôs a bombinha na boca e acionou três vezes o spray enquanto inspirava fundo. Richie o ajudou a colocar a bicicleta sobre o suporte de chão, no qual também estava a sua, depois se sentaram num banco ripado próximo da estátua.

De repente, um silêncio constrangedor. Digamos, o silêncio da boca de ambos, pois o barulho irritante do martelo demolidor no outro lado da rua se balizou no lugar e quebrou qualquer ausência de ruído possível.

"Por que estamos aqui mesmo?", perguntou Eddie depois de dar um pigarreio.

"Você não mudou nada", disse Richie, em seguida encurvou as costas enquanto contemplava o seu arredor (fazia de tudo para evitar trocar olhares com o menino).

"Como assim?!", perguntou ele.

"Depois daquele lance do verão do ano passado, Bill ficou mais sério, Stan mais rabugento, Ben mais magro, Mike mais rebelde, Beverly mais afastada, eu fiquei mais sentimental", disse Tozier após se encostar novamente no espaldar.  "Mas você, Eddie, está o mesmo zé ruela irritável de sempre", completou.

"Seu idiota", Eddie socou o braço do amigo.

"Está vendo? Não mudou nada", disse repisando na afirmação.

"Você também não. Continua com as mesmas piadas ruins de sempre";

"Como eu disse, Eddie. Estou mais sentimental. Agora eu choro vendo... Um Amor para Recordar.", sussurrou ele, relaxou o corpo no assento por causa da insegurança. "Não conte para ninguém, por favor".

Eddie começou a gargalhar. Richie não se sentiu humilhado, pois considerou a situação cômica também. Confiava no Kaspbrak.

"Eu sei. Pareço uma garota de TPM. Que merda", disse o boca de lixo num tom debochado. "Enfim, Eddie Spa... Eddie. Posso te levar até a sua casa, como um príncipe encantado, o que acha?", perguntou ele, puxou duas balas do bolso e deu uma para o Eddie.

"O quê?! Mas já vai embora?", exclamou indignado.

"Eu fugi de casa, véi. Precisava tomar um ar... e comer balas", respondeu-lhe enquanto mastigava o doce de morango.

Richie se levantou do banco junto ao Eddie. Ele estava envergonhado, pois a essa altura todas as pessoas ali ao redor poderiam pensar que ambos eram um casal em um encontro.

Sequer Tozier sabia a razão de ter se encontrado com o garoto à sós. Fora algo completamente aleatório e embaraçoso. Apenas para tomar um ar e comer balas? Porra, Richie.

"Ok, então da próxima vez venha sozinho. Não faça eu perder o meu tempo", disse Eddie, ele apertou os passos até a sua bicicleta.

"Ei, Eddie. Foi mal. Nós podemos ir comer algodão doce antes", disse ele, irrefletidamente agarrou de leve o antebraço de Eddie. "Se estiver preocupado com a sua dieta, podemos comer um lanche vegetariano numa hamburgueria aqui per-...";

"Não, cara. Quero algodão doce. Não suporto mais que uma semana de dieta", interrompeu o maior ao mesmo tempo que puxava a bicicleta para si, inclusive quase atingiu a roda traseira numa mulher de meia-idade que o fuzilou pelo olhar.

"Oh, ok, Kaspbrak. Eu pago para vossa majestade", disse ele gesticulando uma rendição.

Os jovens pegaram as suas bicicletas, montaram nelas simultaneamente. Pedalaram um do lado do outro pela Center Street. Para quebrar o próprio constrangimento, Richie várias vezes fazia brincadeiras, como impulsionar os pedais sem se segurar nas manoplas, deixando os braços soerguidos (isso deixava Eddie rindo por minutos, pois Tozier tinha a mania de pôr a língua para fora toda vez).

Perante a odiosa farmácia que Eddie sempre frequentou para comprar placebos, se encontrava o carrinho de algodão doces. Haviam muitas crianças pequenas em volta, quando os rapazes saltaram da bicicleta, se sentiram imensos como adultos.

Richie fez questão de pagar ambos os algodões doces. Eddie franziu o cenho, pois desconfiou de algo.

"Você disse que não tinha dinheiro", contestou o garoto sendo repetidamente esbarrado por uma criancinha.

"Ah, é? A carteira do meu pai tem", respondeu, depois deu uma piscadela atrás dos óculos. Eddie corou de imediato, mas Richie não percebeu essa cena agradável.

"Não faça isso, Richie. Ele pode te bater, te quebrar um osso", disse ele, cabisbaixo para disfarçar o rubro das bochechas.

"Meu pai pode fazer isso de qualquer forma", disse dando de ombros. "Que fofo, Eddie se preocupa comigo. Nhonhonho", Tozier beliscava dolorosamente a bochecha do menor que virou o rosto para o lado a fim de evitar aquilo.

Depois de alguns minutos, os dois receberam o algodão doce. Saíram caminhando até virarem a esquina da travessa Richards, empurravam as suas bicicletas e comiam o doce.

De repente, o celular de ambos foram notificados ao som de um sino. Richie escorou a bicicleta em um poste ali perto e pegou o aparelho.

"É o Bill. Ele disse que amanhã depois da escola teremos uma reunião no Barrens", disse ele lendo a mensagem do Denbrough no grupo de chat dos losers. "Você vai, né?", perguntou.

"Claro", respondeu ele, depois comeu mais um pedaço do algodão doce.

"Ótimo", disse num tom levemente comemorativo. Eddie notou isso, como resultado ficou de novo vermelho.

Richie e Eddie seguiram com o caminho até as suas casas.

the4rules [REDDIE]Onde histórias criam vida. Descubra agora