Sentado naquele banco de jardim, Elijah encarava com uma certa angústia, os casais que aproveitavam aquela tarde agradável de Outono, para passear no Hyde Park; apesar de sempre ter desejado, ele nunca tivera a oportunidade de experienciar a reciprocidade do sentimento que os apaixonados tão orgulhosamente exibiam, e desde então, se refugiara no seu canto permitindo apenas que o seu desafortunado coração palpitasse durante uns breves paixões. A brisa daquela tarde, trazia-lhe recordações da rapariga que um dia ele julgara amar de verdade, com a qual, pela primeira vez, planeara um futuro e tão rapidamente os planos foram pensados como rapidamente foram desfeitos e levados pelo vento agreste da frieza com que ela lhe tinha dito a sua escolha.
Era uma sexta-feira dia 10 de Maio, e precisamente naquele dia, completavam-se 3 meses que ela tinha partido definitivamente da sua vida, sendo que durante esse tempo, Elijah estava a reconstruir, (ou pelo menos a tentar), a sua vida com a ajuda da psicóloga. Finalmente, ele teve a coragem de aceitar o conselho dela, relativamente a uma despedida devida, visto que, na última vez que conversaram muita coisa ficou por dizer de ambas as partes: dele porque sabia que quando começasse a lhe dizer o que sentia, (ou julgava sentir na altura), ia acabar por se humilhar e implorar que ela voltasse para junto dele; e dela, porque, apesar de bem lá no fundo saber que não era feliz como tinha sido com ele, achava que Arthur lhe dava o que Elijah nunca tinha sido capaz de lhe dar, e então, ambos ficaram a sofrer com o adeus incompleto. Quando terminou de compor o seu discurso, e depois de o ter revisto mentalmente algumas dezenas de vezes, decidiu encaminhar-se para o lugar combinado; enquanto se aproximava do seu destino, os ruídos da rua iam diminuindo gradualmente, tornando-se audíveis apenas os batimentos descompassados do seu coração em sintonia com a sua respiração acelerada. À entrada da nova morada dela, Elijah estacou, e mais uma vez conferiu que se tinha lembrado de tudo o que lhe queria dizer, para nenhuma palavra lhe ficar presa na garganta, como se fosse uma espinha que a cada movimento respiratório o lembrasse da sua presença; há medida que a distância entre os dois apaixonados diminuía, ele sentia o nervosismo a subir-lhe à flor da pele e a adrenalina a começar a fluir nas suas veias, quando finalmente chegou junto dela suava abundantemente como se tivesse acabado de correr a maratona de Londres, e o sentimento de abandono, tomou-lhe o corpo de assalto parecendo que nunca se tinha livrado daquela dor angustiante.
À sua frente, uma lápide indicava que o corpo da sua amada, repousava a aproximadamente dois metros abaixo dele, aquela cruel realidade de que ela nunca mais iria voltar atingiu-o sem piedade, e duas lágrimas rolaram silenciosamente pela sua face aliviando um pouco o aperto com que tinha ficado desde o dia em que soube da partida dela.
- Eu ainda te amo, Breanna! – a frase saiu por vontade própria, pois Elijah não planeara deixar sair os sentimentos que tanto se esforçara por conter, mas perante aquela visão horrenda, não conseguiu que a razão levasse a melhor contra a emoção – Dizem que a vida continua, depois de uma pessoa próxima falecer, e que de seguir em frente, mas na verdade isso é uma tarefa realmente árdua de levar a cabo, pois quem realmente ama nunca esquece, e não interessa os obstáculos que se colocam perante os apaixonados pois quando o coração não está bem, nada importa.
- Não imaginas quantas vezes tive vontade de te ligar e dar-te uma oportunidade de voltares atrás com a tua decisão, mas o ódio com que fiquei impediu-me de tentar salvar-te, e se esse meu gesto cobarde foi um dos fatores que te fez desistir, peço-te desculpa. Não há um dia que eu não pense que tudo poderia ser diferente desta decisão, o mundo e a vida estavam à nossa espera, tínhamos tudo para realizar os nossos sonhos e aqueles que não conseguíssemos realizar por termos sonhado muito alto, iam-se adaptar à realidade e encontraríamos algo que satisfizesse as nossas expectativas, pois como tínhamos prometido um ao outro no início da relação, nenhuma palavra carinhosa iria ficar por proferir, nenhum beijo iria ficar por ar e nenhum sonho iria ficar por cumprir – o misto de emoções dentro de si, traduziam-se em maiores e menores acentuações de raiva, na sua voz que saia como um sussurro; apesar da raiva, Elijah tentava falar calmamente, pois por um lado não queria perturbar o descanso de Breanna, e por outro, era-lhe muito difícil admitir, que caso tivesse-se esforçado mais, a probabilidade dos acontecimentos terem seguido outro rumo, teria sido maior – Mas um punhado de experiências inúteis eram mais importantes do que um futuro certo. Podias-me ter dado ouvidos, pois nos teus momentos de incerteza o meu instinto me dizia o que ia acontecer, e tudo batia certo, desde as tuas ações às tuas mentiras, mas dizem que a verdade dói e tu sempre te recusaste a aceitar a verdade, então dizias que tudo o que eu dizia era devido à minha paranoia e insegurança. Sabia que tinhas tomado uma má decisão, porém nunca pensei que chegasse a este extremo, desculpa mais uma vez, se eu não te consegui salvar. Não perturbo mais o teu descanso, desculpa se te aborreci e quero que saibas que apesar de tudo, ainda vives em mim… - dito isto, Elijah beijou a ponta dos seus dedos e colocou-os suavemente em cima da fotografia dela, após um último olhar ao local de descanso dela, encaminhou-se para a saída, contando cada badalada do sino que anunciava tristemente o fim do horário das visitas.
Agora que tinha expiado todos os seus demónios, estava na altura de fazer algo que nunca tinha conseguido, deixar o passado para trás e seguir em frente, aproveitando as oportunidades que a vida lhe dava para ser realmente feliz. Era hora de deixar o Elijah inseguro que sempre tinha medo de dar um passo para lá do horizonte que via, a partir de agora, era o Elijah confiante que transformava um “Não” num “Porque não?” e que iria colocar um “Feito” na lista de desejos e sonhos por cumprir
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O quanto é difícil dizer adeus
Mystery / ThrillerElijah Aaron Shumway, é um jovem professor de história, com inúmeras oportunidades na sua vida. Porém, tudo muda quando conhece Breanna Allstair, e percebe que ela não é a rapariga que ele pensava inicialmente. Após ela conhecer Adam, e consequentem...