O quanto é difícil dizer adeus

III - Prioridades

Não demorou muito até que os nicks “zombue_lover” e “historymaster” se transformassem em Breanna Allstair e Elijah Shumway, respectivamente. Para além do nome, ele descobriu que a jovem estudava engenharia civil na universidade de Cork, tinha 23 anos e 3 irmãos. A vida dela em contexto familiar não era muito fácil, e através das suas confidências, Elijah percebeu que estavam destinados a ficar juntos, pois, sem qualquer tipo de dúvida, Breanna era alguém que precisava de receber amor, e por outro lado, Elijah era um jovem, que tinha muito amor dentro de si para dar.
As 24 horas do dia eram passadas a conversar, trocar fotografias e áudios, sendo que ele sempre ficava surpreendido pela beleza dela, tanto física com o seu cabelo castanho avermelhado , um pouco encaracolado, e os seus olhos verdes, (que quando os vira pela primeira vez, imediatamente disse que eram o seu ponto fraco, e que se derretia aos poucos sempre que os via); como pela beleza interior dela, pois os elogios de Breanna ajudavam a elevar, e muito, a auto estima dele, (mantendo-se sempre nos níveis aceitáveis / moderados), que durante tanto tempo não tinha recebido qualquer tipo de estímulo.
Poucos dias depois, Elijah acordou e percebeu que a oportunidade que tinha em mãos não podia ser desperdiçada, visto que, desconhecia quando lhe surgiria outra oportunidade, então juntamente com a mensagem de bom dia perguntou-lhe se poderiam fazer uma vídeo chamada, a resposta dela chegou através de uma chamada que ele rapidamente atendeu.
-Sim, porque não? - o sotaque dela, rasgou-lhe
um sorriso e aumentou a vontade de lhe dizer o que ele sentia nos últimos dias, porém tinha de ser cauteloso, para não se tornar uma surpresa desagradável e mais uma vez ficar sozinho.
Durante a conversa de circunstância, Breanna estava um pouco envergonhada, (que se podia notar claramente, pela face ruborizada e por parecer que se escondia da câmera, apesar de manter o olhar fixo em Elijah).
-Posso te fazer uma pergunta? - do nada, o jovem professor disparou aquela questão, pois sentia que há medida que o tempo passava a coragem que sentia para dar aquele passo, ia-se extinguindo.
- Sim.
- Queres namorar comigo? - por um instante, o corpo de Elijah fez uma pausa à espera da resposta dela.
- Eu namoro.
- Desculpa, pensei que tinhas dito que estavas solteira… - apesar de já se ter habituado a ver serem negados os seus pedidos, o impacto da desilusão atingira-o de tal forma que parecia ter sido a primeira vez.
- Esquece isso. Pergunta outra vez - para ela, a timidez era mais difícil de disfarçar do que o nervosismo intrínseco daquele momento, e na voz era perceptível o desapontamento que sentia por ter causado aquela confusão.
- Queres namorar comigo? - na segunda vez, a confiança de Elijah mantinha-se ao mesmo nível da primeira vez, pouca ou quase nenhuma.
- Quero sim! - o rosto dela abriu-se num sorriso, à semelhança de quando o sol aparece e limpa o céu cinzento; esse sorriso era o sol que clareava a vida solitária que ele tinha vivido até aquele momento.
O amor de Breanna transformara-o completamente, pois agora o mais pequeno pormenor da sua rotina o fazia lembrar da sua amada, a sua Playlist foi rapidamente invadida de baladas e músicas românticas que falavam de amores sinceros e duradouros, o feed do seu Facebook, foi preenchido por páginas com mensagens para namorados, que sempre ou quase sempre, Elijah fazia questão de marcar Breanna. As respostas dela tardavam a chegar, fosse pelo facto dele exagerar no número de posts, ou pelo facto dela dar mais atenção aos grupos onde estava inserida, e deixar esses momentos de carinho de lado por causa de jogos que organizava ou por comentários que se achava na obrigação de responder. Porém, os momentos de carinho não eram a única coisa que ficavam de lado na relação, pois inúmeras vezes Elijah esperava tempos infinitos que ela se lembrasse de lhe responder, e quando respondia não dava tempo de ele responder de volta, visto que logo saía da conversa para se ocupar com outra coisa fútil. Nesses momentos de solidão, Elijah desesperava e frequentemente mudava o que estava a fazer, para que o tempo passasse mais rápido e consequentemente lhe trouxesse uma nova mensagem, (quando se passava muito tempo desde a última mensagem, ele tinha que lhe ligar para que Breanna acordasse do “transe” que o Facebook lhe causava; o mais triste, é que por vezes, nem com as sucessivas chamadas dele, ela se apercebia que o namorado estava à espera para continuarem a conversa. Com o eco das suas mensagens, o medo inerente que ela estivesse falando com outro assolava-lhe o pensamento, e após se abstrair dessas ideias inúmeras vezes, deixou que a curiosidade falasse mais alto e um dia entrou na conta de Facebook dela. Para além de descobrir que ela via as notificações dos grupos em primeiro lugar e só depois via (quando se lembrava por acaso), as notificações em que ele lhe marcava em alguma publicação, descobriu também que Breanna respondia a outras pessoas em primeiro lugar (entrava na conversa do namorado, e quando alguma dessas pessoas respondia, saia da conversa para lhes ir responder). O acumular de toda essa negligência levou à primeira discussão do casal, onde ele a ameaçou deixar, visto que tudo aquilo era mais importante que cuidar do amor e da relação que os unia.
-Desculpa Elijah, sabes bem que eu te amo imenso….
- Mas olha que não parece nada….
- Nunca te dei um motivo para duvidares dos meus sentimentos.
- Se fosse a ti, não tinha tanta certeza disso. - ele não sabia se estava mais frustrado por Breanna não ter noção das consequências das suas ações, ou se por negligenciar, (talvez conscientemente), a relação.
- Porque dizes isso?
- Talvez porque passas mais tempo nas redes sociais do que a falar comigo, e quando eu digo alguma coisa, tu pedes desculpa, dizes que vais mudar e advinha… Voltas a fazer o mesmo ao fim de umas horas… Sinceramente, parece que nem tentas ou nem queres mudar mesmo.
- Não é tão fácil como parece Elijah!
- Eu não quero que deixes de vez as redes sociais, mas acho que podias gerir melhor a tua atenção para que possamos conversar mais do que apenas conversa de circunstância, antes de voltarmos para as nossas obrigações diárias e entrarmos num círculo vicioso que rapidamente irá matar a relação. E caso não saibas, eu já percebi que deixas o teu próprio namorado à espera, para responderes aos teus amiguinhos.
- Isso não é verdade…
- Sabes muito bem que é. No outro dia, entrei no teu perfil e reparei que abriste a nossa conversa, depois ias responder aos teus amigos e esquecias te de mim, sendo que nada te fazia lembrar que eu estava à espera da tua resposta. Sabes o quão triste isso é?
- Imagino que sim, e podes crer que vou mudar.
- Não finjas empatia porque não tens nenhuma. E para de uma vez, de dizeres que vais mudar, porque há muito tempo que deixei de acreditar. Reza para a minha paciência não se esgotar… - Elijah saiu do Facebook sem se despedir, pois naquele momento, não sabia se acreditava nas palavras que diria.

Foi para a janela, e enquanto via as pessoas que passavam, relembrou-se da sua vida antes de Breanna aparecer: sem aqueles altos que passavam para baixos sem qualquer tipo de aviso, e o deixavam tão desanimado que precisava de longos momentos deitado no sofá, (algumas vezes, chegou mesmo a deitar-se no chão), tentando perceber que não podia deixar que toda a sua felicidade dependesse de uma pessoa, principalmente sendo essa pessoa a Breanna. Os dias foram passando e como Elijah previra, a sua namorada não mudou a sua atitude, mesmo com todo o tipo de ameaças que ele podia fazer; e assim como ela, ele também não mudava, pois por muito que começasse a fazer outras coisas para se distrair e não lhe responder tão rápido, ou por mais que prometesse a si mesmo que ia demorar para lhe responder, quebrava sempre as suas promessas, visto que corria para o telemóvel mal ouvia o som da notificação, (quando colocava em modo vibratório, de minuto a minuto, ia verificar se não tinha recebido nenhuma mensagem; e quando percebia que tinha falhado o seu objectivo, lamentava-se e prometia o mesmo de novo, vezes e vezes sem conta).
Mas um dia ela iria se arrepender, de ter outras prioridades antes dele, disso ele tinha que a certeza e não descansaria enquanto não atingisse o seu objetivo, nem hesitaria minutos antes de o atingir.