II - Sendo de tão longe está tão perto

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O telemóvel de Elijah, que anteriormente passava tempos infinitos em silêncio, de um dia para o outro começara a tocar de minuto a minuto, ou seja, de cada vez que ele recebia uma mensagem, (a enchente de mensagens, provinha do grupo de Jessica que tinha o nome de “Jess Friends”, e entre os seus participantes contavam-se várias nacionalidades, o que assegurava que o grupo nunca se silenciava e que sempre havia um assunto para debater). O incómodo tinha sido tanto que ele se viu obrigado a colocar no modo silencioso, (o modo vibratório revelou-se tão ou mais impertinente do que o modo normal), e consequentemente perdera alguns apontamentos na sua agenda.
A sua entrada no grupo tinha sido bastante efusiva, com todos a darem-lhe as boas vindas e a quererem saber mais sobre ele e como tinha alcançado um lugar tão privilegiado em tão tenra idade, (Elijah não sabia se tinha sido Jessica a ordenar toda aquela atenção nele, mas agradeceu-lhe secretamente, pois ajudou-o a dissipar as nuvens da solidão que se tinham abatido sobre ele). Se por um lado Elijah era bastante popular no mundo virtual, no mundo real não gozava de tanta popularidade junto dos seus colegas, (sendo que alguns, já não se importavam em esconder o desprezo que sentiam por ele), tudo isto, por ser considerado o melhor professor do colégio, e segundo Jason, nas outras aulas a turma sempre falava de como com o Mr. Shumway as coisas eram bem diferentes, havendo tempo para tudo sem existir qualquer conflito de ambas as partes; a sua relação com os alunos, era o principal motivo de inveja, pois, bastava um olhar do professor de História para a turma sossegar e continuar com o trabalho, algo que os seus colegas com mais experiência não conseguiam. Os intervalos dele, eram passados na companhia de uma caneca de café, olhando os alunos a passear no jardim interior, enquanto se tentava abstrair das conversas, que quase sempre, o tinham como tema; nas horas de almoço, quando não estava ocupado a corrigir testes ou trabalhos, Elijah entretinha-se indo para a biblioteca, onde, entre conversas que giravam à volta dos livros e seus autores, ajudava Mrs. Irving com o trabalho da biblioteca.
Numa dessas tertúlias, entre os dois amantes de livros, a bibliotecária revelou-lhe que ele não era a única vítima dos abutres, (como ela carinhosamente tratava os membros do corpo docente, por estes incentivarem os alunos a efetuarem as suas pesquisas para os trabalhos na Internet, visto que, esta fornecia uma informação mais diversa e atualizada, esquecendo-se porém que muita da informação era errada, porque qualquer pessoa que julgasse que sabia de qualquer assunto poderia facilmente colocar essa informação num pseudo-blog, sem se preocupar com a veracidade e o rigor da informação e nenhuma “autoridade” na matéria colocava um “selo” de aprovado na informação; Miss Irving, não se cansava de explicar, para quem quisesse ouvir, o seu apreço pelos seus queridos livros, em virtude da internet, e essa tomada de posição (bem como os constantes ataques a quem defendia o contrário), levaram ao afastamento por parte dos professores.
O jovem professor chegava a casa bastante cansado, mais a nível mental que físico, ficando durante longos períodos encarando as divisões da sua casa despidas de qualquer lembrança afetiva, e que muito provavelmente nunca iriam presenciar a presença de amigos, devido ao facto de Elijah, na adolescência, ter investido a totalidade do seu tempo nos estudos para que sempre tivesse um lugar nas melhores escolas e universidades, aliado ao facto de os seus gostos serem completamente o oposto dos jovens que o rodeavam. Se para alguns, o fim de semana era uma desculpa para saírem para as discotecas e soltarem-se completamente ao ritmo daquelas músicas eletrizantes, para ele, era uma oportunidade de ir visitar as exposições e os eventos culturais, de forma a aumentar o seu conhecimento; a sua timidez e insegurança, nunca o tinham “deixado” abordar ninguém e começar uma conversa sobre um possível gosto em comum, criando assim um laço e consequente cultivo de amizades, nos círculos onde automaticamente seria inserido, sendo que a solidão lhe mantinha a trela curta, como se ele fosse o seu companheiro fiel.
Por mais incrível que parecesse para uma pessoa tímida e que nunca tinha ligado às redes sociais, ele tinha estabelecido uma espécie de ligação com uma rapariga do grupo; depois de algum tempo a conversarem no geral, e de deixarem muitas coisas subentendidas, ele finalmente tomou a iniciativa de lhe mandar uma mensagem privada. Não tardaram muito a descobrir que tinhas muitas coisas em comum, tais como, o efeito calmante que sentiam quando ouviam uma música da Adele, o facto de a poesia os fazer viajar, embalados nas palavras de um doce poema e ambos sonhavam em conhecer o amor da sua vida, aquele amor que os filmes de Hollywood e os livros insistiam em retratar, mas que parecia impossível de acontecer na realidade com os comuns mortais, visto que o contacto que ambos tinham tido com o amor, tinha deixado muito a desejar.
Entre todas as coisas que os aproximavam, havia algo que os afastava, e esse “algo” era o mar da Irlanda que se mantinha entre os dois sonhadores, separando-os por 728.9 quilómetros. Nenhum dos dois se tinha deslocado ao país do outro, e agora que tinham um motivo, restava darem tempo ao tempo e rezarem para que o Universo fosse favorável ao encontro dos dois jovens

O quanto é difícil dizer adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora