O Nome (Flashback)

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Eu quero explorar a cidade grande, quero me aventurar, quero obter respostas também. Mas sinto um frio na espinha toda vez que tento percorrer a minha mente em busca de memórias do meu passado. Eu me lembro apenas de acordar no Museu e antes disso era uma grande mancha escura em minha mente. Ao olhar uma última vez para a grande sala, eu me lembrei de quando cheguei aqui pela primeira vez.

•♧•

Vestindo nada mais que uma camisa de botões, que era duas vezes maior que eu, e segurando um coelho nos braços. A doutora Anabell fez questão de mostrar as novas acomodações para sua nova hóspede. Eu analisei cada canto por onde passei. A sala era grande e bem iluminada, tinha quadros nas paredes com pinturas delicadas de flores e paisagens naturais, tudo dava um ar de tranquilidade e refinamento ao ambiente. Seguindo a doutora que andava silenciosa na minha frente, passei pela cozinha que parecia ser feita para bonecas, brilhante e intocada, e continuei até chegarmos numa escada larga que dava para o segundo andar da mansão, então a doutora falou pela primeira vez em muito tempo.

- Os quartos são lá em cima, darei algumas roupas para você vestir e depois você pode tomar um banho. Quando terminar, estarei esperando na cozinha.

Depois de chegarmos ao topo da escada a doutora pediu para que eu ficasse parada e sumiu virando em um dos corredores, após alguns minutos voltou com algumas sacolas nas mãos.

- Aqui, pegue. - A doutora me entregou as sacolas e apontou para a porta alguns passos de distância de onde estávamos. - Ali você pode tomar banho e se trocar, será seu quarto por enquanto... Enquanto não achamos seus pais. Vou estar esperando na cozinha.

A doutora se virou e foi em direção às escadas, e quando ela finalmente sumiu de vista, larguei as sacolas e andei em direção da porta, sem largar o coelho eu entrei no quarto. Assim como o resto do lugar, o quarto parecia ter saído de uma revista de casas luxuosas, e então o coelho se soltou dos meus braços, pulou no chão e falou, me fazendo lembrar que ele falava.

- Você não confia nela, não é Azirael?

Andei pelo quarto e olhei em volta, como nos outros cômodos esse tinha um ar calmo e neutro, ao me virar para falar com o coelho, quase soltei um grito, mas felizmente cobri a boca com as mãos a tempo.

- V-você não era um coelho? - Falando ainda mais baixo, eu continuei. - O que aconteceu com você?

O que até então era um pequeno coelho branco, felpudo e de olhos cor de cereja, agora era um homem mais alto que eu, com cabelos compridos e brancos como a neve e olhos cor de cereja, uma visão incrível, e se tivesse orelhas de coelho iria parecer um personagem saído de um mangá. Mas ele não tinha orelhas, era apenas a representação viva de uma beleza tão angelicalmente máscula que era impossível alguém ter criado ele em algum lugar fora de um mundo de fantasia.

- Mas eu fui criado, foi você que me criou, desse jeito. - Respondeu o homem, lendo os meus pensamentos.

- Quem é você?

- Sou seu familiar, você não lembra de mim, Azirael?

O homem parado na minha frente, que antes era um coelho, tinha o rosto triste ao fazer aquela pergunta. Mas o que me chamou atenção foi a menção do nome Azirael. Eu sabia que aquele era o meu nome, era a única coisa de que eu tinha certeza.

- Você me chamou assim antes, no Museu. Quem sou eu? Onde estão os meus pais? Por que eu não deveria confiar nela?

- Não sei quando seus pais vão aparecer, mas sei que não é certo confiar em estranhos. Também sei que não devemos deixar ninguém esperando, e por enquanto precisamos de um lugar para ficar. Melhor você ir se arrumar e descer antes que ela suba, e por favor, não use seus poderes na frente dela.

Eu assenti com a cabeça e o coelho saiu do quarto e voltou logo em seguida trazendo as sacolas com roupas que eu havia deixado no corredor. - Pronto, escolha algo que você goste para vestir e se troque. Vou estar esperando lá fora. - O coelho saiu e fechou a porta atrás de si.

Analisei as roupas, a maioria das peças eram de cores frias e maiores que eu, então eu peguei uma camisa branca de mangas longas e fui para o banheiro, liguei o chuveiro e o vapor inundou todo o cômodo. Depois de terminar o banho, vesti a blusa e saí, molhando tudo por onde passava. Abri a porta e passei pelo coelho que ainda estava na forma de homem.

- Ei! Pra onde você vai desse jeito? Você não pod... - Percebendo que eu não lhe dava ouvidos ele me seguiu em forma de coelho.

Quando chegamos na cozinha a doutora já havia preparado algo para comermos. Ovos, torradas, suco de laranja, doces e cenouras enfeitavam a bancada de mármore branca e tudo parecia delicioso.

- Espero que você se sinta em casa. - Apontando para o banco livre do outro lado da bancada, esperou que eu comesse e me entregou um livro com vários idiomas listados. - Qual desses é o seu?

Eu reconhecia praticamente todos apenas de ler as curtas frases do livro, sem saber qual escolher, apenas apontei para qualquer um na lista.

- Com isso fica um pouco mais fácil achar seus pais, e também um pouco mais difícil para nos comunicarmos já que eu não sei turco. - A doutora já estava com o celular nas mãos para fazer uma ligação então eu falei.

- Se quiser posso falar o seu idioma. - Ao fechar a boca, recebi uma mordida do coelho que me acompanhava. - Aí! - Soltei um gritinho e sussurrei para o coelho. - Por que você fez isso?

- Você pode me entender? Por que não disse antes?

- Eu estava entendendo seu idioma, acho que demora um pouco pra entender tudo.

- Você quer dizer que aprendeu o idioma agora? - A mulher do outro lado da bancada estava boquiaberta e ao mesmo tempo parecia não se surpreender.

- Quando acordei, eu não entendia nada do que vocês falavam, mas depois de ouvir você e aqueles homens conversarem um pouco eu comecei a aprender.

- Espera, você estava dormindo no Museu!? Desde quando você estava dormindo lá e onde estão os seus pais?

Olhei para o coelho e quis saber a resposta. Por que eu estava dormindo num Museu, onde estavam os meus pais, e mais importante, quem eu era? Além do nome, eu não sabia mais nada sobre mim. - Não sei onde meus pais estão, ou o porque de estar dormindo no Museu. Mas eu sei que você não precisava ter me trazido para sua casa e ter sido hospitaleira, estou agradecida por você ter me oferecido sua casa, eu e Xou agradecemos. - No mesmo momento eu percebi que sabia o nome do coelho e ao olhar pra ele vi que ele parecia a ponto de chorar, então peguei ele nos braços me levantei e fui em direção dos quartos.

Só metade do dia havia passado e eu me sentia esgotada, as perguntas sem resposta ecoavam sem parar na minha mente. Antes que eu pudesse sumir no andar de cima a doutora me puxou para longe dos meus devaneios.

- Meu nome é Anabell, você não me disse o seu nome.

Me virando para olhar a doutora, sorri por ao menos ter a certeza de uma coisa. - Meu nome é Azirael.

•♧•

Depois de ver a garota sumir nas escadas, Anabell ligou para um colega de trabalho e contou sobre os eventos que ocorreram com a garota. - Ela realmente é diferente de uma menina de dez anos, talvez estejamos certos, o nome dela é... - Nesse momento Anabell cogitou revelar o nome da garota, mas talvez não fosse o melhor momento. - Bem, vou dormir, te vejo amanhã no trabalho. - Um bip finalizou a chamada, mas não os pensamentos da doutora. Essa seria uma noite longa e com certeza o dia seguinte seria também.

Elos - A Jornada de AzielOnde histórias criam vida. Descubra agora