Eu- Leonor
A noite estava completamente estrelada, sem qualquer sinal de nuvens. Ouviam-se as ondas, a bater na areia, ao longe. A brisa noturna era quente, e com ela vinha o cheiro a água salgada. Tiramos os sapatos ao entrar na areia. O Luís puxava-me pela mão e andava a passos largos.
Eu- Espera! Porquê tanta presa? Temos a noite toda! Deixa-me sentir a areia.
Caminhámos em direção ao som das ondas. Os meus pés tocaram em algo húmido, seria a areia molhada. Avancei lentamente encorajada pelo Luís. A água salgada finalmente me tocou nos pés, fechei os olhos e desfrutei da sensação. Quando abri os olhos, estes encontraram o rosto do Luís, ele tinha um leve sorriso de satisfação no rosto.
Luís- Queres dar um mergulho?
Eu- Não tenho biquini!
Luís- Não me importo que vás nua!
Eu- Últimamente tens andado atrevido!
Luís- Desculpa! Vou repetir. Bem, eu pus o teu biquini dentro da tua mala! E os meus calções estam vestidos como tu estás a ver.
Eu- Já podias ter dito! Agora onde é que me vou vestir?
Luís- Tens vergonha de te vestir à minha frente?
Eu- Luís?
Luís- Desculpa! Mas a culpa é tua. Tu é que me pões assim!
Eu- Vai para dentro do mar. Eu visto-me aqui. Mas tens de prometer que não espreitas!
Luís- Eu prometo. Mas eu fico aqui sentado virado de costas para ti. Quero entrar na água ao mesmo tempo que tu!
Ele sentou-se como tinha dito! Vesti-me o mais depressa que pude, tinha medo que mais alguém estivesse a ver.
Quando já estava pronta pus-me de joelhos atrás do Luís e dei-lhe um beijo na bochecha, ele levantou-se e agarrou, com um dos braços, o meu pescoço, e com o outro, as minhas pernas. Levou-me ao colo até a água nos dar pelos joelhos, colocou-me no chão e deu-me um beijo. Agarrei nos braços dele e fiz força para tirá-los do meu pescoço, quando consegui deixei-me cair para o lado como se tivesse desmaiado. Antes de embater na água, virei-me de costas para ele. Quando as minhas costas tocaram na água fechei os olhos automaticamente, e a minha cabeça mergulhou logo a seguir deixei-me ir até ao fundo, (não era lá muito fundo devia ter um metro e meio de profundidade), até as minhas costas baterem na areia e fazerem força suficiente para eu voltar à superfície e ficar a flutuar.
Eu- Adoro a água salgada! Amo o oceano! Espero que Deus me deia o prazer de morrer no mar!
Luís- Queres morrer afogada?
Eu- Não disse isso! Posso ir num cruzeiro e morrer a dormir. Ou posso estar a dormir e o barco afundar e assim eu não sofro nem dou conta.
Luís- Que engraçada me saiste!
Comecei a nadar para longe da costa, o Luís tentava seguir-me, mas eu mudava de direção e ele perdia-me de vista. Quando vi que era fundo o suficiente para me afogar gritei:
Eu- EU NÃO ESTAVA A SER ENGRAÇADA!
Não conseguia a ver o Luís, mas sabia que ele me ouvia. Esperei pela resposta, mas não existia resposta. Mergulhei nas águas geladas e deixei-me ir até ao fundo. Sempre consegui ficar debaixo de água mais de um minuto, mas passaram-se mais de cinco minutos ou então era só impressão minha. Comecei a ficar sem ar, queria voltar para a superfície, fechei os olhos e prometi a mim mesma que não o faria. Senti-a movimentos à minha volta, seriam os peixes de certeza, mas uns braços enrolaram-se nos meus e puxara-me para cima. Respirei o ar puro quando cheguei à superfície. Arrastaram-me pela praia como se fosse uma boneca quebrada. Umas mãos fortes empurraram o meu peito para dentro, aleijando-me. Rebolei para o lado a tentar fugir.
Eu- PÁRA! TÁS PARVO?
Luís- Ufa! Tás viva!
Eu- Claro que estou tótó!
Luís- O que querias provar quando fizeste essa m****?
Eu- Queria provar que não estava a brincar quando disse aquilo!
Eu- Diogo
As horas passavam como se cada uma fosse um ano. Pensei que em casa estaria entertido, mas não se fazia nada a não ser ver televisão e jogar computador, era exatamente o que eu fazia no hospital e pelo menos no hospital recebia a visita das enfermeiras. Bateram à porta insistentemente, claro que não ia-me dar ao trabalho de me levantar!
Eu- MÃE!
Mãe- Diz?
Eu- NÃO TÁS A OUVIR A PORTA?
Mãe- Tu não tens pernas?
Eu- TOU COXO TÁ BEM?
Voltaram a bater à porta, mas desta vez com mais força.
Eu- MÃE?
Mãe- Já estou a ir! Tem paciência!
Eu- DIZ ISSO A QUEM TÁ A BATER À PORTA!
A minha mãe entrou na sala a correr, completamente despenteada, com o avental a moldar-lhe as pernas. Quando abriu a porta o Joca apareceu e entrou a correr em direção ao sofá onde eu estava sentado. Pegou, cuidadosamente nas minhas pernas, sentou-se ao fundo do sofá e pousou-as em cima das dele.
Eu- Só agora? Pensei que era só o fim de semana!
Joca- E era! Mas os meus pais decidiram ficar lá um mês, que mel só gajas boas :p!
Eu- Mas ainda não passou um mês!
Joca- Voltamos assim que soubemos do teu "acidente"! Antes de perguntares! Soubemos pelo facebook.
Eu- Vou ter de pagar o arranjo do carro, não vou?
Joca- Claro que não! Se não arranjasse-mos comprador íamos dar-te o carro assim que tirasses a carta. Assim até nos fizeste um favor! Além disso, não tem arranjo. Ficou completamente esmagado, não sei como sobreviveste! Agora vai para o ferro velho, pelo menos, sempre dá dinheiro!
Eu- Calma aí! Vocês íam dar-me um maquinão daqueles? Asério? Nunca lhe teria pegado se me tivesses dito! Agora onde vou arranjar dinheiro para comprar um assim?!
Joca- Há-des arranjar!
Eu- Bem, o que está feito, está feito! Onde foste afinal? Não me chegaste a dizer!
Joca- Ah! Fui a Lisboa. Acreditas que vi a tua "Menina Perfeita" com o namorado?!
Eu- Acredito! Tu é que não vais acreditar no que se passou em tua casa! Espera aí! Chamaste-lhe a minha "Menina Perfeita"?
Joca- Ya! Tás sempre a dizer "A Nônô é que sabe fazer tudo..." "A Nônô não sei o quê..." "A Nônô não sei que mais...". Espera aí! O que se passou em minha casa?
O Joca ordenou que lhe contasse tudo ao pormenor. Sabia que ele era o meu melhor amigo, mas aquilo era demasiado... íntimo, porém se não lhe dissesse ele arrancá-lo-ia à força. Passei quase uma hora a tentar explicar-lhe a história toda e ele insistiu que a contasse mais de uma vez.
Eu- Leonor
Apesar daquele pequeníssimo incidente a noite estava a ser perfeita.
Deitei a minha cabeça sobre o ombro do Luís, e ele pôs o braço em volta das minhas costas. Estava-mos sentados na areia. à espera do maravilhoso nascer-do-sol, lembrei-me do livro "Amanhecer" aquele amor impossível entre humana e vampiro, talvez o Diogo não fosse um vampiro, mas o nosso amor continuava sendo impossível. Não leva-mos telemóveis, mas de acordo com o relógio de pulso do Luís faltavam apenas uns quinze minutos para o tão esperado "Amanhecer". Enrosquei-me mais no Luís e este apertou-me mais contra ele, uma brisa fresca tinha-se formado no ar e levado a quente, talvez para o outro lado do oceano. O céu começou a ficar laranja abri bem os olhos, e desejei não pestanejar para não perder nenhum pormenor do perfeito "Amanhecer". O último dia em Lisboa tinha de ser perfeito tal como a última noite...
CONTINUA...