Eu – Leonor
Abri os olhos um pouco a custo, aconcheguei-me nos lençóis, o frio percorria todo o meu corpo, senti a necessidade de um corpo quente para me aquecer. Estendi a minha mão e “apalpei” a “cama”, não sei bem o que procurava, talvez alguém. A festa do dia anterior tinha-me posto exausta. Doí-me a cabeça até parecia que ia rebentar a qualquer momento e pesava mais que um pedregulho enorme. Olhei à minha volta, reparei que as paredes do quarto onde estava eram roxas como as paredes da casa da Nina. Levantei-me um pouco mais, estava deitada no sofá, e tal como eu pensara, no sofá da sala da casa da Nina. Estavam todos deitados no chão, alguns meios deitados, meios sentados nos sofás mais pequenos.
As escadas rangeram, alguém as estava a descer.
Rodrigo (pai da Nina) – Meninos toca a levantar – disse quase a rebentar os meus tímpanos – seus preguiçosos!
Levei as mãos à cabeça, apertando-a com força e rugi uns palavrões enquanto gritava para o Rodrigo falar mais baixo. Este olhou para mim e começou a rir-se, a princípio não percebi porquê.
Rodrigo – Parece que alguém se embebedou ontem à noite!
Nina – Pai, podes rir-te um pouco mais baixo. Ou então vai para outro lado.
Rodrigo – Parece que temos outra bêbeda.
Nina – Pai!
Rodrigo – Já estou a ir! Mas ouve bem, menina Carolina, é a última vez que te embebedas ouviste?
Nina – Ouvi, ouvi. Mas agora fala baixo.
Diana (mãe da Nina) – Pequeno-almoço!
Todos – Cala-te!
Diana – Desculpem.
O Rodrigo aproximou-se da Diana e deu-lhe um verdadeiro beijo apaixonado, depois pôs a mão a segurar-lhe a cintura. Nunca gostei de tratar os pais da Nina pelo próprio nome, acho que era informal de mais principalmente por eles serem muito mais velhos, mas a Nina “matava-me” se eu não os tratasse pelo nome.
Fui até à casa de banho descalça e a cambalear como uma verdadeira bêbeda. Olhei-me ao espelho, quase gritei quando vi o estado do meu cabelo. Comecei a falar para o meu reflexo no espelho.
Eu – Sim, eu sei que sou feia! Não precisas de por o cabelo assim para me mostrares.
Uns braços enrolaram-se em volta da minha cintura e puxaram-se para trás até o meu corpo tocar no de alguém. Arrastou-me para longe do espelho, assim eu não conseguiria ver quem era, mas eu sabia exatamente que era o Luís. Fechei os olhos e rodopiei, no meio da roda feita com os braços dele, levei as mãos ao rosto dele e aproximei-me lentamente, até sentir o seu respirar lento e contínuo. Ele agarrou-me com mais força e levou-me até junto da porta, largou-me um instante e ouvi a fechadura da porta fechar, ele voltou no instante a seguir e colocou-se na mesma posição. Repeti tudo até chegar à parte em que sentia o seu respirar lento e contínuo, aproximei-me um pouco mais até sentir a ponta dos seus lábios tocarem nos meus, não consegui esperar mais, beijei-o com força, mas levemente. Ficamos assim uma eternidade até que os braços que me apertavam, me largaram e se afastaram.
XX – Não podemos! - parecia, seriamente, a voz delicada do Diogo. Abri os olhos e confirmei a minha suspeita. Levei a minha mão à boca, quase parecia que eu a estava a limpar.
Eu – Porq…Porque é que… Porque é que FIZESTE ISSO?? Pensei que… Pensei que fosse o Luís – suspirei
Diogo –A culpa não foi minha! Tu é que me beijaste!