Capítulo 6

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Henry não estava em qualquer lugar à vista quando Michelle finalmente conseguiu alcançar o prédio em que morava, o que de certa forma era uma boa coisa, afinal ela não sabia como explicaria a blusa rasgada que tentava esconder por baixo do casaco, as lágrimas que não findavam e o rosto que possivelmente estaria marcado. No entanto, naquela noite a visão do Dominador a esperando e insistindo para que conversassem seria bem-vinda, precisava dele... da paz e sensação de segurança que ele sempre promovia. Assim como precisava se livrar do pânico que estava quase enlouquecendo-a e da certeza de que nunca conseguiria se libertar de Jason.

Não teria nada do que precisava, por isso passou pelo saguão do prédio tão rápido quanto suas pernas trêmulas permitiam, ignorando o chamado do porteiro que tentou abordá-la e correu pelas escadas até que estivesse enfim dentro do apartamento, com as costas grudadas à porta trancada, sentada ao chão, exatamente como fazia todas as vezes em que Marshall começava a socar a porta, pedindo-a para ouvi-lo.

Ele não bateu à porta naquela noite e exceto pelos soluços que não conseguia calar, Michelle nada ouviu no corredor. Ainda assim não foi capaz de se levantar e se dirigir ao quarto ou a qualquer outro cômodo do pequeno apartamento.

Viu o novo dia chegar pelas janelas da sala, ouviu seu telefone celular tocar insistentemente, assim como o interfone, sentiu sua cabeça doer e o estomago embrulhar, mas ainda assim não se moveu, não até que uma batida leve na porta a sobressaltou e animou ao mesmo tempo. Esperou pelo som da voz rouca, embora não fizesse sentido que Henry aparecesse no meio de um dia, mas tudo o que teve foi o deslizar de um papel por baixo da porta.

Reconheceu o logotipo do edifício por isso deixou a correspondência onde estava. Sabia que era mais uma das muitas reclamações que estava recebendo sobre as visitas noturnas, barulhentas e inoportunas do seu ex-Dominador. A julgar pelo fato de que ele não tinha aparecido quando ela silenciosamente estava clamando por isso, seus vizinhos não precisariam mais se preocupar com o incomodo.

Só conseguiu reunir coragem suficiente para se mover quando observou o sol ser subitamente encoberto por uma nuvem negra e um relâmpago cruzar o céu, já no final da tarde.

Precisou se arrastar até o banheiro, onde se enfiou debaixo do chuveiro depois de ter descartado as roupas pelo caminho e fechou os olhos esperando que a água morna aliviasse as dores em seu corpo causadas pelo tempo que se manteve sentada contra a porta de entrada e pelo encontro com seu algoz na noite anterior, assim como a vergonha e culpa que corroía sua alma.

Voltou a chorar silenciosamente, quando precisou esfregar o sangue seco que tinha grudado a pele de suas coxas e entre as nádegas, mas ainda assim fez uma pequena prece de agradecimento por Jason ter se lembrado do quando ela odiava ter seu ânus usado e o ter escolhido como alvo de tortura na noite passada, ou teria que ignorar a dor, física e emocional que sentia, e se arrastar até uma farmácia para providenciar um contraceptivo de emergência, afinal preferiria a morte a voltar a viver com a agoniante possibilidade de estar gerando um filho do monstro que a via como sua propriedade. Sabia o que isso poderia acarretar e se mataria, se necessário, antes de ver suas piores lembranças se tornarem realidade.

Se olhar no espelho foi ainda mais difícil, mas se obrigou a encarar o seu reflexo e se viu soltando um pequeno suspiro de alivio ao perceber que o rosto pálido estava vermelho, inchado e abatido, mas não marcado pelos tapas recebidos.

Respirando fundo, tentou manter a mente em branco e se ocupou de recolher as roupas espalhadas e jogá-las diretamente no lixo antes de alcançar o aparelho celular que tinha tocado durante boa parte do dia.

Encontrou ligações de Camille, Collin, Henry e Mia. Se viu tentada a retornar a de Marshall, mas apenas enviou uma mensagem rápida para sua gerente, desculpando-se por não ter ido até a livraria naquele dia, alegando um súbito mal-estar e questionando se havia algum problema que necessitasse de sua presença com urgência. Após uma resposta negativa de Mia e desejos de melhoras, desligou o aparelho telefônico.

Despertar de um DominadorOnde histórias criam vida. Descubra agora