Capítulo 4

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Miguel precisava de um alvoroço, pessoas falando, gesticulando e se empurrando e tinha conseguido a ajuda de Nicole, sua irmã o apoiava em suas maluquices mesmo sem entender suas razões. Na realidade ela não sabia exatamente o que aconteceria, apenas que ele precisava criar uma distração e ela o ajudaria. Estava parado em frente à quadra observando os meninos que jogavam futebol, quase arrependido de abrir mão do seu pouco tempo de intervalo para se divertir e sentia uma comichão toda vez que via alguém jogando bola, mas já tinha recusado o convite para se juntar a eles. Tinha algo mais importante para fazer e mascava um chiclete fingindo estar distraído e alheio à vontade de desistir de seu plano maluco.

Percebeu a aproximação de Ane, era sempre muito fácil percebê-la, pois mais parecia uma gazela desvairada dando pulos de um lado para o outro. Um dia levantaria as pernas da garota para saber se ali embaixo da planta do pé existia algum tipo de mola. Como tinha previsto, viu a garota chegar ao seu lado e perguntar por que ele não estava jogando, curiosidade devia ser seu segundo nome. Sorriu com a ingenuidade da menina e recebeu um sorriso largo em retribuição, ela tinha duas covinhas quando sorria e parecia tão meiga que Miguel considerou desistir do plano de vingança, mas o pensamento passou tão rapidamente quanto chegou, ao sentiu duas mãos agarrarem seu braço e puxá-lo para trás.

Não tinha combinado exatamente o que a irmã faria e movido pelo susto momentâneo puxou Ane também pelo braço, levando-a junto. Várias pessoas começaram a chegar puxando-o e empurrando-o de um lado para o outro. Ouviu as palavras parabéns, tá ficando velho, alguém trouxe ovo?, entre o que conseguiu entender e balançou a cabeça em descrença. A louca da Nicole tinha inventado que era seu aniversário. Aproveitando a oportunidade, tossiu discretamente colocando a mão na boca e pegou o chiclete mascado e cheio de baba. Ane ria, pulava, gritava juntamente com o pequeno grupo que a irmã conseguira arrastar até lá e também o parabenizava com um abraço e outro sorriso gigante e foi nesse exato momento que ele retribuiu o abraço e levou a mão sorrateiramente até a cabeça da garota, dando por fim sua missão nada impossível.

- Não tem ovo, mas tem terra. – ouviu a irmã gritar e jogar um punhado de terra em sua cabeça e puxar Ane para o lado. – Cuidado garota, o aniversariante é ele. – e Ane franziu a testa por ter sido puxada sem muita delicadeza, mas em seguida voltou a participar do agito, que aos poucos perdeu potência e cada um seguiu seu caminho, com exceção de Nicole, que fingia estar rindo, mas lançava um olhar gélido em direção a Miguel. A irmã percebeu o que ele tinha feito tarde demais e ele sabia que uma tempestade estava a caminho.

 A irmã percebeu o que ele tinha feito tarde demais e ele sabia que uma tempestade estava a caminho

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A luz que penetrava através das frestas da cortina e brincava com o pequeno cristal esférico que estava pendurado na janela lançando luz, cor e vida nas paredes do quarto, quando Ane acordou. Sorriu ao lembrar o quanto sempre amara acordar dessa forma, vendo a dança silenciosa da luz convidando-a a abraçar o novo dia que chegava. Fez uma anotação mental... comprar um novo cristal e colocar na janela de seu apartamento. "Como pude me esquecer disso?" Pensou e ficou observando as cores correndo, girando e voltando, quase como uma poesia em um movimento sem fim e sem som, mas com uma beleza etérea ímpar, confortante e revigorante.

EntreLaços (completo até 05/07)Onde histórias criam vida. Descubra agora