Beco Diagonal

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Acordei como todos os dias, minha vó Augusta gritando, e arrancando o lençol de cima de mim, e abrindo as cortinas do meu quarto.

- Vamos Evana, acorde!- essa era uma das coisas que me fazia sentir falta da minha mãe, carinho materno, minha avó não demostrava essas coisas. - Vamos hoje ao beco diagonal comprar seus materiais, levante! Não quero me atrasar.

- Certo vovó.- tentei responder de forma mais indiferente possível, mas na verdade eu estava muito ansiosa.

- Olhe...- ela disse e sentou na minha cama, com uma feição mais branda. - Você terá que comprar uma varinha, mas eu pensei, como as dos seus pais estão guardadas a tanto tempo... E certamente eles não poderão usar novamente, você poderia ficar com a da sua mãe, e seu irmão, quando chegar a idade a do seu pai.

Eu não sei ao certo, mas acho que vi algumas lágrimas nos olhos dela, não posso falar nada, existem muitas lágrimas borbulhando dentro de mim agora, prestes a transbordar por meus olhos, mas não posso chorar na frente dela, não posso demonstrar fraqueza, me levantei e segui até a janela.

- Bom, está aqui em cima da cômoda, se não quiser compraremos outra para você, por favor, se arrume logo e desça.

Ela levantou e parou por um momento, acho que esperando alguma reação minha, acho que esperava que eu ficasse emocionada, que chorasse, que pulasse de alegria, era exatamente o que eu estava sentindo, mas não podia mostrar minhas fraquezas.

- Obrigada, vovó.- foi apenas o que consegui dizer antes dela sair, sem me engasgar com as lágrimas.

Ela fechou a porta, e eu não consegui mais segurar, deixei toda a emoção, tristeza, e fúria saírem de mim.
Fui até a cômoda e peguei a caixinha e tirei a varinha, minhas mãos tremiam, e minha vontade só era gritar, aqui nas minhas mãos estava um pedaço da minha mãe, foi com essa varinha que ela lutou por sua vida, e a tiraram dela, e a tiraram de mim, acabaram com minha vida, e eu não ia deixar assim.
Deixando novamente toda raiva e mágoa tomarem conta de mim, guardei a varinha da minha mãe, enxuguei minhas lágrimas e segui para o banheiro.
Cheguei na sala de jantar, meu irmão estava lá, sentado a mesa, com suas bochechas rosadas.

- Senta aqui Eva!- ele me chamou para sentar ao lado dele.

- Oi Nev.- dei um beijo em sua bochecha e sentei ao seu lado.

Eu amo meu irmão, e quero protegê-lo, sei que ele é muito carente de afeto, minha avó cuida bem da gente, mas ela é, digamos assim, um pouco seca, e muito rígida.
Segui para o beco diagonal com minha avó logo após o café, Neville ficou com nosso tio Algie, ficou chorando, e eu prometi brincar com ele quando chegasse.
Fomos primeiro a loja da Madame Malkin, comprar minhas vestes escolares, a floreios e borrões comprar meus livros, acabei comprando um de histórias infantis para o Nev, enquanto minha avó conversava com alguns conhecidos, eu tomei um sorvete delicioso, queria levar um para o Nev também, mas não chegaria inteiro, e isso me fez rir, mas parei na mesmo hora que notei que os conhecidos da minha avó me olhavam daquele jeito, do jeito que eu detesto, do jeito que me faz parecer uma coitadinha, que derrama compaixão e pena, odeio que sintam pena de mim, na mesma hora me levantei e sai andando, acabei parando em frente a uma loja meio escura, e vi que se tratava de artigos de magia negra, minha avó não sabe o quanto leio e me informo na biblioteca da nossa casa, ninguém vai lá, acho que por isso gosto tanto daquele lugar, li o letreiro da loja, Borgin & Burkes, era exatamente o tipo de loja que eu entraria de quisesse machucar alguém, talvez um dia eu volte aqui, vi minha avó vindo na minha direção, sai de frente da loja e caminhei ao seu encontro.

- Isso são modos Evana? Sair pisando firme, com a cara amarrada, que falta de educação.

- Eles estavam me olhando com pena.

- E precisava sair daquela maneira?

- Vovó, por favor, estou cansada, vamos logo para casa...

Compramos o resto dos meus materiais, e mais algumas coisas, comprei um jogo para mim e Nev.
Chegamos em casa na hora do almoço, almocei e pedi para o Nev deixar para brincar depois, estava cansada e queria dormir um pouco, mas com algumas horas ele estava ao pé da minha cama.

- Eva! Você disse que a gente ia brincar.

- Está bom. Olha trouxe algo para você.

Eu corri para pegar o livro e o jogo, quando voltei ele estava com os olhinhos arregalados de curiosidade.

- Aqui está.- entreguei e ele abriu um largo sorriso, eu amo ver ele feliz, isso mostra que ele não carrega a mesma dor e infelicidade que eu, e eu fico muito satisfeita por isso.

- Que legal Eva! Como se joga isso?

- São snaps explosivos, vem, vamos jogar, vou te ensinar.

Passamos muitas horas brincando e rindo, nesses momentos eu esquecia de tudo, e parecia que eu podia sim seguir em frente e ser feliz, mas olhava bem nos olhos dele e via os mesmos brilho dos olhos da minha mãe, o mesmo jeito alegre do meu pai, e tudo me corroía de novo.
Os dias se seguiram, e eu aproveitava o máximo ao lado do Nev, íamos ficar muito tempo longe e eu ficava com o coração apertado em deixá-lo sozinho.

- Vovó, eu queria fazer um pedido.- eu tomei coragem de falar com minha avó, no dia antes de pegar o expresso.

- Diga Evana.

- Eu gostaria de ir visitar meus pais antes de ir para Hogwarts.

- Gostaria?- perguntou ela surpresa.

- Sim, queria me despedir deles.- disse querendo manter minha voz firme e distante.

- Está certo, antes de irmos a estação, vamos passar no St. Mungu's.

- Obrigada.

O que será que eu estava tentando fazer, no fundo do meu coração, eu sabia que não podia ir para Hogwarts sem falar com minha mãe, eu sei que ela não sabe quem eu sou, e não sabe de absolutamente nada, que não vai se despedir de mim, e nem me dar um beijo de boa sorte, mas eu preciso fazer isso, o mais importante é que eu sei quem ela é, o quanto é importante para mim.

- Eva?- Nev me chamou, colocando a cabeça por entre a porta do meu quarto.

- Oi, você não deveria estar dormindo?

- Eu... Eu não consigo.- ele me disse choroso. - Posso dormir com você? Amanhã você vai embora e eu...

- Ei, claro que você pode dormir comigo, e eu não vou embora, vou para a escola, e eu vou voltar.

- Eu sei, mas... Eu vou ficar sozinho.

- Não vai não, você tem a vovó, e o tio Algie, deixa eu terminar de arrumar meu malão que te conto uma história.

Terminei de colocar minhas vestes e livros, coloquei dois portas retratos também, um com o Nev, e o outro, meus pais me segurando no colo, não tenho certeza de irei colocá-los para todos verem, mas quero eles comigo.
Terminei de arrumar minha coruja, a Hulda, na sua gaiola, ganhei ela do tio Algie, no meu aniversário, ela era amarela com manchas pretas, eu amei ela desde que a vi pela primeira vez.
Deitei e aconcheguei Nev próximo a mim, depois dessa noite tudo ia mudar, ia ser ótimo passar minha última noite em casa com ele, comecei contar histórias e ele sempre com muitas perguntas, rimos e conversamos bastante.

- Está na hora de dormir, está tarde e tenho que acordar cedo amanhã.

- Eu sei, eu te amo Eva.- ele me abraçou e ficou ali, fechou os olhos e aos poucos foi adormecendo.

- Eu te amo Nev.- falei as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, eu não sei como ele me veria futuramente, nem eu sei como me vejo, mas nada vai me impedir de vingar meus pais e manter ele seguro, eu sei que é demais para uma garotinha de apenas 11 anos, mas tudo foi me tirado aos 3, e cresci alimentando minha tristeza, e sei que não posso tentar ser de outra maneira, e acho que nem quero.
Me abracei a Nev e fiquei pensando o quanto a amanhã seria importante, e adormeci.

Evana Longbottom - Fantasmas do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora