Laços de sangue

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Enquanto seguia com Winnie para o trem, acabei encontrando minha avó e meu irmão de frente a entrada do vagão, eu e minha avó ficamos nos encarando, e o Nev baixou os olhos, olhando para os próprios pés, durante a infância do Nev todos da família pensavam que ele não seria capaz de fazer magia, ele sempre foi muito inseguro, e até mesmo um pouco medroso, mas eu nunca deixei de acreditar nele, eu sei que meu comportamento estava afetando muito a ele, nós sempre fomos unha e carne, mas era necessário e eu não ia voltar atrás.

- Evana, tem tudo que precisa?- vovó me perguntou de maneira seca.

- Sim vovó, a Sra. Fallon me ajudou a comprar tudo.- eu respondi tentando soar indiferente, mas eu estava acabada por dentro, mais pelo Nev.

- Tome.- ela me entregou um saquinho preto e um pergaminho. - São algum dinheiro para você passar o ano, e também sua autorização para as visitas a Hogsmead.

- Obrigada.- eu olhei para Nev e tentei falar secamente. - Está nervoso Nev?

- Eu... Eu não sei...- ele gaguejou enquanto tentava me responder, e nisso deixou o sapo que levava nas mãos pular para dentro do trem. - Trevo!

- Até mais vovó.- eu falei e me virei para entrar no trem sem nem esperar ela me responder.

Eu e Winnie achamos uma cabine vazia, nos acomodamos, com poucos minutos algumas meninas da nossa casa se juntaram a nós.
O trem avançava e conversamos alegremente, compramos alguns doces e desfrutavamos de mais um retorno a Hogwarts.
Com um certo tempo de viagem, a porta da cabine se abriu, e apareceu uma menina de cabelos rebeldes e um pouco dentuça.

- Alguém viu um sapo?- ela era bem arrogante para um menina de 11 anos, todas ficamos olhando para ela com igual arrogância. - É que um menino do primeiro ano chamado Neville perdeu o dele, e estou ajudando a procurar.

Eu engoli seco, todas nós balançamos negativamente a cabeça, Winnie me olhou desconcertada, e a menina fechou a cabine e se retirou.

- Que ridículo, ninguém usa mais sapo hoje em dia.- disse uma das meninas com desdém.

A olhei de forma séria e Winnie se adiantou logo a mudar de assunto, eu fiquei o resto da viagem em silêncio, será que ia ser assim em Hogwarts agora? Espero conseguir me controlar.
Chegamos na estação de Hogsmead e pegamos a carruagem para a escola, seguimos direto para o salão principal para aguardar os novos alunos, me coração parecia que ia saltar pela garganta.
Todo mundo conversando, e eu não conseguia tirar os olhos da enorme porta de carvalho, onde o Nev entraria e começaria sua vida em Hogwarts, será que ele ficaria na Sonserina comigo? Impossível! Ele não seria igual a mim nunca.

- Eiii, onde você está?- Winnie me deu uma cotovelada. - Estamos falando com você.

- Desculpa, eu estava distraída.

De repente as grandes portas de carvalho se abriram, por ela passou primeiro a professora McGonagall, seguida por dezenas de alunos assustados, procurei Nev com o olhar e ele parecia a ponto de desmaiar, o que me deixou mais nervosa.
A professora colocou o banquinho na frente de todo o salão, o chapéu seletor cantou sua música "explicativa", como era de praxe todo ano, ao terminar a professora anunciou que começaria a chamar os nomes, de um por um, todos iam sendo colocados em suas casas, quando a professora chamou.

- Neville Longbottom.

Todos na mesa da Sonserina me olhavam surpresos, e eu senti uma vontade enorme de abrir um buraco no chão e me esconder, mas mantive meu ar indiferente, Nev foi em direção ao banquinho e levou um tombo, o que fez muitos, principalmente na minha mesa, rirem, o que me fez tremer de raiva.
O chapéu demorou muito tempo para decidir a qual casa o Nev ia pertencer, e eu fiquei muito mais apreensiva, até que finalmente ele gritou "Grifinória".
Eu não deixei de sentir um certo alívio, deixei escapar até um pequeno, quase imperceptível, sorriso, é claro que ele iria para a casa dos meus pais, ele era especial, e nada parecido comigo, o destino dele não podia ser outro, mas ele acabou correndo para a mesa da Grifinória com o chapéu na cabeça, o que fez muito mais gente rir do meu irmão.
Foi quando ouvi a professora McGonagall chamar por um Malfoy, o que me fez arrepiar a nuca, ele veio, é claro, para a Sonserina. Parei de prestar atenção na seleção e tentei olhar para Nev, ele parecia mais animado agora, falava com alguns outros alunos, quando um nome me chamou a atenção de volta a seleção, a professora havia chamado por Potter, o salão explodiu em cochichos, todos curiosos sobre Harry Potter, o destino dos pais dele foi a morte, talvez tenha sido melhor do que o dos meus, pelo menos eles não estão vagando por aí sem saber nem quem são.
Antes de terminar a seleção, eu vi que havia chegado mais um Weasley na escola, e que os gêmeos ficaram bem empolgados em ter o Potter na Grifinória, quando finalmente acabou a seleção, o diretor Dumbledore se levantou.

- Sejam bem-vindos! Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Destabocado! Beliscão! Obrigado.- se sentou, e todos deram vivas.

- A cada ano ele se supera!- disse Winnie dando gargalhadas.

O banquete como sempre, surpreendente, todos comiam e conversavam animadamente, e eu só conseguia ficar observando o Nev, ele conversava com outros garotos animado.

- Ele vai se dar bem, Eva.- Winnie percebeu que eu estava preocupada.

- Eu sei, não estou preocupada.- voltei minha atenção para a comida.

- Está bem, e o Snape é nosso professor mais simpático!- ela disse e ficou rindo da própria piada.

Acabado o banquete o professor Dumbledore deu avisos do começo do ano, e depois pediu para que todos nós cantassemos o hino de Hogwarts.
Fomos para a nossa sala comunal, como eu gostava de lá, eu me sentia em casa, sentamos nas poltronas e pouco tempo depois os alunos do primeiro ano chegaram acompanhados pelo monitor.
Eles pareciam admirados com a nossa sala, igual a mim no meu primeiro ano, ficamos conversando alguns minutos, e depois quando íamos para o dormitório cruzamos com um grupinho antipático de alunos do primeiro ano, liderados por um menino de cabelos quase brancos, rosto pálido, que eu indentifiquei como o Malfoy.

- Então quer dizer que você é uma Longbottom também?- ele falou com uma voz arrastada e tediosa se referindo a mim.

- Sou sim, porque?- respondi a ele com o mesmo grau de superioridade e desprezo.

- Na Sonserina?- ele soltou uma risada de desdém. - Espero que não seja um paspalho igual ao seu irmão que entrou hoje.

Eu me virei e dei as costas tremendo de raiva, porque só tinha vontade de pular em cima dele.

- Olhando para ele dá para perceber porque seus pais tiveram um fim tão trágico.- ele riu e os dois garotos grandes que estavam com ele também, eles nem pareciam ter apenas 11 anos.

- Fique você sabendo que sua opinião sobre meu irmão, ou qualquer outro assunto, não me interessa.- eu o encarei de volta.

- Olha, talvez ela não seja tão imbecil.

- Olha aqui, não pense você que porque carrega o sobrenome Malfoy significa alguma coisa para mim, você não é superior a mim, e pouco me importa o que você acha ou não do meu irmão.- eu dei as costas e fui direto para o dormitório.

Winnie foi logo atrás de mim.

- Que menino nojento!- eu falei sentando na cama com muita raiva.

- Ele é um Malfoy, o pai dele é insuportável.- Winnie falou revirando os olhos. - Pelo visto ele vai pegar no pé do seu irmão.

- Eu talvez não ligue.

- Como é?!?- Winnie quase gritou.

- Talvez ter o respeito do Malfoy, seja melhor que viver defendendo o atrapalhado do meu irmão.- eu falei e senti meu estômago revirar um pouco, mas senti muito mais satisfação.

Evana Longbottom - Fantasmas do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora