Durante uma braçada, João ouviu seu nome. Soltou a respiração e se concentrou na direção da voz.
— João! — gritou seu amigo — Aqui!
Quando localizou o amigo, ele voltou a mergulhar na piscina e nadou até ele.
— Que foi?
— Está fazendo errado, já lhe falei — ele respondeu, como se fosse o instrutor. — Você precisa mover o braço, jogando a água em direção aos pés.
Ele bufou. O amigo sacudiu os ombros.
— Desse jeito você nunca conseguirá aprender a nadar e acabará se afogando.
— Eu sei, eu sei. Vou tentar outra vez. Preste atenção e veja se agora eu acerto.
Ele deu outro mergulho e seguiu pela raia, mantendo a calma. Levou alguns minutos até completá-la. Sua mão tocou a parede, indicando que havia alcançado o outro lado da piscina.
— E então?
— Está melhor, mas vamos ver nas próximas vezes.
·
— Quase não tenho visto você por aqui, deve ser isso — disse Vinicius, enquanto entravam no vestiário.
— Andei faltando muito — João respondeu, caminhando até um dos boxes para tomar banho.
O amigo o observava enquanto ele fechava a porta.
— Percebi. Você tem vergonha de ficar pelado na nossa frente.
Os outros garotos ao redor riram.
— Vergonha, eu? — perguntou ele, visivelmente tímido.
— Sim — o amigo respondeu. — Você acabou de ir até o boxe apenas para tirar as roupas e não faz na frente dos outros, como a gente.
— Não, eu... só vim deixar meu sabonete antes de tirar...
O amigo revirou os olhos.
— Que sabonete?
João percebeu que não tinha nada nas mãos. Os amigos gargalharam até que suas vozes ecoaram por todo o banheiro.
— Você é uma figura, cara — disse o outro amigo, que tinha a mesma idade. — A gente está entre homens. Não precisa ter vergonha.
Em silêncio, João voltou até sua mochila no banco e procurou seus pertences para o banho.
Era apenas um garoto de doze anos, que cresceu sem irmãos e que não havia se acostumado com situações como essa. Há poucos dias havia se matriculado no curso de natação e ainda nem sabia nadar Crawl. Os amigos da escola, que já eram veteranos, se despiam naturalmente.
Ele começou a retirar — de forma muito devagar — todas as suas roupas. Quando ficou apenas de cueca, todos os amigos já estavam completamente nus. Ele passou os olhos rapidamente pelo banheiro, tentando disfarçar o susto. Nunca havia visto tantos garotos pelados. Subiu os braços, colocou as mãos na cintura e, sem alternativa, abaixou a cueca. Enquanto a juntava do chão, não viu a troca de olhares entre os colegas, que já haviam combinado algo. Vinicius deu uma piscada para Yuri, que entendeu o recado.
— Meu Deus! — gritou Yuri, um menino com quem ele nunca havia falado. — Agora sei por que ele não queria ficar pelado na nossa frente.
Assustado, João levantou os olhos rapidamente.
— Que foi?
— O seu pinto. Ele é muito pequeno!
Novas gargalhas explodiram.
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As Mentiras que os Honestos Contam
Historia Corta"As Mentiras que os Honestos Contam" é o primeiro projeto de contos de Lodir Negrini, após os romances "É pra Glorificar de Pé!" e "Do Jeito que o Diabo Gosta". Trata-se de uma compilação de textos inéditos, repletos de humor, sobre as mais diversa...