Amigos com Benefícios

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Ingrid e Peter se conheciam desde sempre.

A primeira imagem dele da qual ela se recordava era na escola um garoto que, de início, parecia estranho, que ela evitava falar e até mesmo se aproximar. Passaram-se semanas até que eles trocaram algumas palavras pela primeira vez. Ingrid se surpreendeu; Peter era mais interessante do que sua imagem sugeria.

Eles acabaram entrando em um mesmo grupo para a Feira de Ciências e depois não se separaram mais. Sempre faziam juntos os trabalhos em dupla, e quando a professora dizia que podiam fazer grupos de três ou quatro alunos, eles se entreolhavam e a decisão era mútua ficariam apenas os dois, mesmo que fosse muita tarefa, porque eles se entendiam bem sozinhos e uma terceira pessoa apenas atrapalharia.

Aonde um ia, o outro acompanhava. Desciam juntos para a fila do lanche; sentavam-se sempre na mesma mesa. Os colegas os viam sempre lado a lado nos corredores, e quando um estava sozinho, até estranhavam. "Não veio hoje?", era a pergunta que ouviam. Na hora em que um deles precisava ir até a secretaria resolver algum problema, o outro escoltava. Quando Ingrid foi reclamar de um professor com o coordenador, Peter foi junto. Quando ele foi expulso da sala por responder a uma professora, ela teimou e saiu também, mesmo não tendo nada a ver com a história. Amigos são para essas coisas, era o que Ingrid sempre dizia.

Os comentários não demoraram a vir — um garoto e uma garota andando sempre juntos era uma relação bastante óbvia.

— Estão namorando? — era o que Ingrid ouvia das outras meninas.

— Não — ela respondia, decisiva.

— Ficando?

— Não, somos apenas amigos.

Enquanto estava sozinho com outros garotos, geralmente no futebol durante a educação física — único lugar em que Ingrid não o acompanhava, depois do banheiro — Peter costumava ouvir coisas parecidas.

— Você está pegando a Ingrid?

— Não, cara.

— Ah, fala sério! Pode contar.

— Nada a ver, ela é só uma amiga.

Os rapazes olhavam desconfiados. Ninguém acreditava.

Chegou uma hora em que um não podia mais encostar-se ao outro; qualquer contato físico era interpretado como pegação. Quando chegavam à escola e se cumprimentavam com um abraço, a sala ficava esperando; uma hora, por mais que demorasse, algo iria surgir. Um beijo na orelha, uma mordidinha no pescoço, um sussurro ao pé do ouvido ou uma mão mais em baixo; alguma coisa esses dois deixariam escapar. Os olhos ficavam atentos e não desgrudavam até que eles se afastassem. O resultado era sempre o mesmo. Nada.

O cumprimento era normal. Peter a abraçava como fazia com qualquer amigo. Os olhos de Ingrid não brilhavam ao encontrá-lo.

— Vocês estão namorando escondidos? — Peter ouviu de seu vizinho. — O pai dela é muito bravo?

— Não, ele é tranquilo. Sabe que nós sempre saímos juntos.

— Então por que não fica com ela?

— Porque ela é minha amiga, oras.

Certo dia, Ingrid ouviu uma pergunta inesperada.

— Ele é gay? — quis saber a prima.

Ela olhou, incrédula.

— Claro que não!

— Só pode, Ingrid. Vocês andam sempre juntos e não estão namorando. Ele é gay! E você é a melhor amiga.

As Mentiras que os Honestos ContamWhere stories live. Discover now