capítulo dez.

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William ainda lembrava do ar inquisitivo que Lótus exalou na manhã em que o comunicado se fez presente. Lembrava de cada coisinha. Do rum que cuspiu nos trajes luxuosos e cor de avelã do irmão, da expressão irritadiça que moldou o rosto alheio e do que estava escrito no maldito papel.

E dizia:

Majestade de Ignisense,

Okay, um segundo. Ele já considerou um início polido e preocupante. Um início que não soava como seu garoto insolente, mas sim como um idoso que melava a barba na sopa e amaldiçoava em latim. E então ele leu mais:

Urgente. Um razoável deslize sob a conduta foi o motivo de sua solicitação no palácio glacial.

As pernas de William quase falharam como a frequência cardíaca dentro de seu peito.

Essa foi a maneira mais discreta de informá-lo, prezando a segurança de todos. Receio que possa lhe parecer duvidoso, mas o Rei Nixense exige sua presença o quanto antes. Dei minha palavra de que seria restritamente isento de entusiasmo, embora os últimos
acontecimentos não me tenham remetido algo senão o oposto.

Tudo era um nó atado. Sua boca tornou-se seca e ele tentou conseguir saliva em algum lugar, erguendo o olhar para o irmão.

Escrevo em nome de meu pai e da divisão dos quatro componentes.

H.E.S

Ele riu desacreditado, forçado e alto como trovão. Ele nem tentou não ser tão alarmante, não sendo capaz de visualizar a figura jovem e cacheada manuscrevendo algo tão gelado. Ele não era capaz, era? E aquilo, tudo aquilo, deveria ser a maior adrenalina que algum dia já atravessou suas veias.

E "essa foi a maneira mais discreta de informá-lo, prezando a segurança de todos." O que aquilo deveria significar? Que ninguém, além dele e a realeza de gelada tinha conhecimento das coisas que fizera por lá? Que a punição seria jogá-lo aos lobos e ouvi-lo berrar aos ventos?

Porque ele aceitaria até isso, mas que não tocassem no garoto com mãos cheias de ignorância. Talvez por esse motivo ele parecia tão mórbido em todo o percurso até o reino longíquo. Eles sobrevoaram os reinos ao invés de vomitar por dias a fio num navio estupido. Estava aceitando a derrota, era um período de luto e ninguém poderia culpá-lo.

Sinceramente, ele nem mesmo considerou a hipótese de que as coisas dariam certo dali em diante. O diálogo entre ele e o irmão, antes de liderar uma tropa de homens até Nix, foi suspeito, meio vago e triste.

- Quanto tempo vai ficar fora?

- Eu gostaria de ter respostas para isso, Lótus, mas é difícil saber. - William foi cuidadoso com as palavras, seus lábios empurrados para o canto num sorriso forçado. Era perceptível.

- Entendo. - O irmão foi duro, nunca querendo parecer afetado. Só os Deuses sabiam o quanto ele conseguia ser apegado a Louis. - Você volta? Me dê ao menos essa certeza, eu odiaria esperá-lo como um tolo.

- Bem, eu não pretendo abandonar meu povo nas mãos de um tolo. - Engoliu seco, uma das sobrancelha erguidas em divertimento. - E nem matá-lo de saudades ou algo assim.

- Isso ainda não é uma certeza.

- Não tenho uma dessas, irmão.

light of mine • mpregOnde histórias criam vida. Descubra agora