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Lembra quando eu disse que estava com medo da escola nova? Que estava com medo porque não sabia o que esperar, porque existia a chance de ser pior?

A verdade é que não teve nada que eu tivesse sofrido na vida que doesse mais do que o que me foi dito naquela noite.

Foi quando eu entendi que alguém pode estar sorrindo para você e mesmo assim não te querer por perto. Foi quando eu entendi que não é só porque alguém te trata bem que significa que você é aceito. Foi quando eu entendi que o mundo é muito mais cruel do que pensei que fosse.

As camadas escondidas te pegam de surpresa, sem chance de defesa, quando todas suas guardas estão baixas.

Foi quando eu entendi que não é preciso que seu coração pare de bater para que você morra.

Naquela tarde, eu morri.

E foi a primeira vez, mas não a última.

Nunca a última.

Tenho certeza que até meu último suspiro, vou morrer.

Nunca mais falei com Gabriela depois daquele dia, o que confesso talvez ter sido injusto com ela.

Por muito tempo fui incapaz de lidar com o que aconteceu.

Você não quer saber até onde eu cheguei, até onde eu afundei. Essa história de que o fundo do poço é o mais fundo que se pode chegar é bobagem.

Hoje eu percebo que, de tudo, teve uma frase, uma simples frase, que na hora me passou despercebida, mas hoje é tudo que reverbera em meu coração.

Ela jamais aceitaria sem uma boa briga.

E hoje, eu não aceito sem uma boa briga.

Ao contrário do que você possa pensar, essa não é uma história sobre o fim.

É sobre o começo.

Recomeço.

É sobre a cor da minha pele e a dor da minha alma.

É sobre sobreviver.

É sobre lutar.

É sobre entender o quão profundo está enterrado a sujeira, o quão bem disfarçado em discursos educados.

É sobre mim, sobre você.

Sobre resistir.

Naquela tarde eu morri.

E foi a primeira vez.

E não vai ser a última.

Todos os dias batalho comigo mesmo. Batalho com minha mente, batalho com minha alma, batalho com o meu coração.

Todos os dias batalho com o mundo. Batalho contra sorrisos mentirosos, discursos hipócritas, preconceitos velados.

Eu disse que minha história era curta.

É mentira.

Minha história ainda não terminou.

Todos os dias eu morro, e vivo.

Eu tenho certeza que, enquanto eu respirar, vou continuar morrendo.

E vou continuar levantando.

Para viver.

Para lutar.

Para resistir.

Mais um dia.

Dor da minha almaOnde histórias criam vida. Descubra agora