I hate loving you

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E talvez, só talvez, em muito tempo, Kim Taehyung nunca tivera sentido tamanha dor quanto essa que sentira agora. Seu coração parecia falhar algumas pulsações, como se não tivesse sangue suficiente para bombear; a garganta era sufocada, como se duas mãos fortes e geladas estivessem a apertando justamente na tentativa de roubá-lo o ar que ainda possuía; e os olhos castanhos escuros - que sempre foram tão brilhantes quanto estrelas cadentes - ardiam como se as lágrimas que segurava fossem ácidas.

E ele até pensou em comparar tanta tristeza com a de anos atrás; aquela de quando ainda tinha cabelos escuros e toda a inocência que um pequeno garotinho de oito anos tinha em seu coraçãozinho dócil; aquela de quando percebeu que os machucados da mãe não eram por sua distração diária enquanto fazia as tarefas de casa; aquela de quando sentiu sua vida ser arrancada por um homem que chamava de pai e dizia amar até a morte; aquela que só perdeu depois de ter a plena certeza que o tal homem não roubaria mais sua vontade de viver e poderia, finalmente, seguir a sua vida como alguém normal.

Quero dizer, eram dores diferentes, visivelmente diferentes, mas não deixavam de tomar conta de sua alma e o fazerem questionar do porquê de viver, igualmente.

Taehyung tinha certeza que Yoongi chegaria ali em alguns minutos, não só porque conhecia o garoto de cabelos negros e sabia até diferenciar sua respiração das demais, mas sim porque mandara uma mensagem avisando, esta, sem resposta, como as outras cento e treze também ignoradas.

Por isso, assim que saiu da faculdade naquele dia cinza com nuvens carregadas, nem se despedira dos amigos antes de correr o mais rápido que podia até sua casa, só para ter a certeza de que Min Yoongi não o esperara.

Trancou a porta da frente com duas voltas completas e verificou se todas as janelas estavam bem fechadas, e não, não era por causa da chuva que estava chegando.

Tomou um banho apressado, optou por uma camiseta azul marinho e larga para o corpo magro - mais do que o normal nesses últimos dias -, e uma calça moletom preta que o protegeria do vento frio que se aproximava.

Fizera um café bem forte - do jeitinho que gostava - e trancou também a porta do quarto assim que entrou, respirando fundo e buscando forças de onde não havia para não chorar novamente.

E agora estava ali, sentado do jeito mais confortável que podia na cadeira acolchoada de frente para a escrivaninha de madeira já velha. Olhava os papéis, as provas, cartas e até fotos velhas que tinha guardado naquelas gavetas quebradas logo quando se mudou e nem ao menos lembrava.

Não fazia isso porque simplesmente queria, fazia para tentar se distrair o suficiente e poder passar mais de quatro horas seguidas sem deixar as lágrimas geladas o vencerem. Fazia isso para tentar se distrair da tentação de abrir aquelas portas e esperar Yoongi sentado na calçada de casa.

Da gaveta empoeirada, tirou uma prova antiga, a primeira que fora extremamente mal no trimestre e tivera que estudar até perder a consciência para recuperar. A baixo dela, havia umas fotos tirada com a polaroid velha de Hoseok - seu melhor amigo -, logo no começo das férias após terminarem o colégio.

Seu estômago revirou quando viu ele mesmo e seu garoto numa delas... E droga, Yoongi estava tão bonito! Os cabelos, como sempre, bagunçados. A pele pálida como açúcar destacava com os fios extremamente negros. Os cílios compridos, as maças do rosto pouco saltadas, e os lábios... Oh, aqueles lábios.

Taehyung se permitiu estremecer na cadeira.

Os lábios, talvez não tão cheios, mas perfeitamente feitos para seu rosto. Desenhados e corados no tom mais certo possível. Era como se alguém tivesse literalmente o esculpido, o feito exatamente para fazer qualquer um ceder ao vê-lo fazer aquele seu biquinho quando pedia algo, manhoso.

Nevasca ;; Taegi  | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora