XI

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[29.11.2013]

Hoje é seu casamento. Por que Liam insiste tanto para que eu vá? Não sei se estou pronto para te ver subir ao altar com outra pessoa. Seu buquê será amarelo?

[...]

Eu decidi vir. Mas agora, te vendo no altar de mãos dadas com ele, penso não ter feito o certo.

Você sempre quis ser a noiva.

Sempre quis que te esperassem no altar.

Você sempre quis um buquê.

Por que não tem um?

Estão ambos esperando o restante dos convidados sentar.

O que eu devo fazer com as rosas amarelas que colhi no caminho? Eu as daria para que você misturasse em seu buquê ao entrar.

Esse não é o casamento que planejou.

Esse é o casamento que ele planejou. Ele sequer perguntou sua opinião? Ele se importa com ela?

Mesmo longe, posso sentir seus olhos caçando alguém. Era assim que me procurava, não é?

Me aproximo um pouco, dando apenas alguns passos no tapete vermelho. Não vou me sentar tão perto do altar.

Eu deveria estar nele.

Então você me nota e seus olhos param apenas em mim. Era eu quem procurava?

Te dou um mínimo sorriso enquanto me sento na primeira cadeira, três fileiras antes da última.

Então você me olha daquele jeito. Exatamente como me olhava quando queria que eu te impedisse de algo. Seu olhar pedia socorro e posso ter a certeza de que uma lágrima escorre dele ao perceber o que trazia em minhas mãos.

Eu deveria te impedir?

Por um momento todos ficam em silêncio. Então a cerimônia começa.

A cada palavra dita, meu peito se aperta mais. Algo estranho está acontecendo dentro de mim. É como se estivessem me roubando o que tenho de mais precioso. Seu coração. Ele ainda me pertence?

Sinto minhas mãos soarem e se apertarem cada vez mais contra os pequenos galhos.

Eles têm espinhos.

Isso não machuca tanto quanto seu olhar direcionado a mim enquanto diz sim.

Seus votos de amor são bonitos, Harry. Foram realmente escritos por você? Nele, você diz que ama rosas brancas. Foi ele quem escreveu, não foi?

Como poderia fazer votos de amor para alguém que não ama?

Talvez você estivesse esperando que eu o salvasse. Talvez pensou que nunca iria ler isso.

Suas alianças têm pedras brilhantes e o ouço falar que preferiu não gravar seus nomes dentro.

Você ainda se lembra de como queria? A mais simples de todas, com nomes e data gravados nela, em qualquer letra cursiva e delicada.

Você era tão simples.

Olho em minha volta. Não existe decoração. Vocês estão se casando em uma igreja.

Lembro de como me contava os detalhes sobre o como queria. Você me disse que passaria meses apenas escolhendo as melhores rosas. Amarelas. Disse que pretendia se casar ao ar livre, e seria um lindo dia. Escolheria pessoalmente todas as cadeiras e detalhes restantes.

Só hoje percebo, por que me contava todas essas coisas? Queria que fosse eu a te esperar no altar?

A cerimônia termina.

Todas as pessoas alí, uma a uma, saem logo atrás dele.

Você não saiu.

Lembra do nosso último natal? Quando fomos sair apenas para andar por aquela rua e então passamos por uma igreja? Estava acontecendo um casamento. Ele a estava levando nos braços. Naquele dia, você me disse que quando se casasse iria assim até o carro. Para onde foram todos os seus sonhos?

Talvez tenham morrido junto aos meus, há três anos.

Você sempre vai ser meu melhor amigo, Harry. Não importa com quem esteja, ou onde esteja. Eu vou te proteger.

Liam me disse que ele trata bem. Talvez trate.

Só restaram duas pessoas dentro da igreja.

Você e eu.

Eu deveria ir até você?

Acho que é tarde demais pra isso.

Levanto e a esperança parece transbordar de seus olhos enquanto saio por entre os bancos.

Dou um mínimo sorriso a você antes de me virar para finalmente ir pra casa.

Eu estou andando tão lentamente, meu coração está parando aos poucos e não posso acreditar que estou indo embora.

Ele optou por não fazer festa. Tenho menos tempo com você agora.

Sei que quando sair, nunca mais te verei outra vez. Apenas alguns passos para que tudo isso, torne-se apenas lembrança. Estou tentando organizar meus sentimentos e sinto algo molhar meu rosto. Você fica cada vez mais distante agora.

Eu posso morrer ao pensar que acontecerá quando você sair. Já daqui posso ver uma limusine branca estacionada em frente a igreja.

Você amava carros antigos. Talvez ele também não soubesse disso.

Ele já está lá dentro. Não vai ao menos abrir a porta para que você entre?

Não consigo segurar as lágrimas que agora caem livres por meu rosto. Você fará amor com ele? Terão filhos com os nomes que planejamos? Acordarão cedo todos os dias para tomar café na varanda? Ele te levará uma rosa amarela sempre que estiver triste?

Ouço um soluço forte vindo de você.

Por que está me deixando ir outra vez?

Você implora para que eu te salve. E eu imploro para que não me permita fracassar de novo.

Precisamos um do outro.

Você não se move.

Eu dou o último passo e sinto o vento gélido bater contra meu rosto.

Eu não sei o que farei daqui pra frente. Apenas vou para algum lugar longe. Algum lugar sem lembranças de nós dois. E quando eu ouvir seu nome, poderei morrer por dentro. Irei te procurar à minha volta. Sei que jamais será você. Todas as vezes em que meus olhos se cruzarem com outros verdes, pensarei nos seus. Nunca serão como eles.

Talvez eu tente reconstruir minha vida. Eu vou guardar tudo o que me lembra você, dentro de mim. Vou queimar toda e qualquer coisa material que envolva nós dois. Mas lembranças não podem ser queimadas ou enterradas. Elas serão tudo o que terei.

E quando me sentir só, lembrarei de sua voz cantando pra mim. E quando fechar meus olhos, verei os seus.

Largo as rosas na porta da igreja. Não sei se vai as guardar, de qualquer forma, meu sangue está nelas agora. E em todos os seus aniversários, uma roseira será plantada. Espero que sejam amarelas. Apenas quero que se lembre.

Eu sempre irei te amar mais do que isso.

More Than This » l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora