Um.

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Eu perco meu fôlego com as palavras de meu pai. Mas não digo nada. Não imploro. Não peço para ficarmos. Somente concordo com a cabeça como se aquilo não me afetasse. Porque eu sei que se eu dissesse algo, as coisas iriam piorar. E eu não quero conflitos. Não quero apanhar de novo. E quero ter tempo de me despedir de você, Castiel. Porque eu sei que se eu dissesse algo, ele me colocaria em um carro agora mesmo. E nós não teríamos nem um abraço de despedida. E meu deus, você não sabe o quanto eu preciso de você agora. Quando ele saí e enconsta a porta do quarto, eu a tranco, abro a janela, pulo e corro. Corro o mais rápido que consigo. Eu preciso de você. Essa vai ser a última vez que nos veremos. Ou talvez, nós nos reencontraremos daqui uns cinco, ou oito anos, e você já vai estar noivo do seu novo namorado. Por favor, esteja em casa. Aumento meus passos. E depois de minutos chego em sua casa. Toco a campainha e nada. Toco novamente e seu irmão a abre.

-Hey, Dean -diz ao me ver.

-Gabe... -Coloco as mãos em meus joelhos, e tento recuperar meu fôlego -Aonde ele está?

-O que está acontecendo? -Ele ri -Correu uma maratona?

-Por favor... -Bufo -Castiel.

-Ok, calma -Ele franze as sobrancelhas -Ele está na igreja.

-Não... -Minha voz sai falha -Que horas ele volta?

-Só amanhã -diz, ainda com as sobrancelhas franzidas -Vai dormir na casa de vovó.

-Estou indo embora, Gabriel -Resmungo -Papai não quer que eu continue vendo Cas. Então, vamos mudar de cidade, talvez de país.

-Não -Ele me olha de modo triste -Não consigo acreditar que aquele filha da mãe fez isso.

-Eu tenho que ir -Meu olho lacrimeja -Por favor, conte ao Cas.

Quando ele ia me responder, eu virei as costas e comecei a correr. Logo, estava em casa de novo. E papai batia na porta.

-Dean! -Ele gritou -Eu vou arrombar essa porta.

Fechei a janela com cuidado para não fazer barulho. Tirei minha camisa, baguncei minha cama e meus cabelos e abri.

-O quê, pai? -Faço cara de sono -Estava dormindo, porra.

-Oh, desculpe -Ele ri de leve -Bati na porta duas vezes e você não atendeu, imaginei que...

-Estou realmente morrendo de sono -Coço meus olhos -Precisa de alguma coisa?

-Não -Ele sorri e beija minha testa -Durma bem, filho.

Quando ele saí e fecha a porta, eu limpo minha cara e mostro o dedo do meio.

Quem visse a cena acharia que eu sou um filho ingrato. Mas é ele que não é um bom pai. Na verdade, nunca foi. Quando eu era um garotinho, ele me deixava sozinho a tarde toda, e chegava bêbado em casa todas as noites. E eu tinha que vê-lo desmaiado no chão da sala. E no dia que ele me pegou usando batom? Me espancou tanto que cheguei a perder um dente. Quando descobriu que eu era bi? Ele me mandou pro hospital.

-Eu não quero ir embora. -Sussurro para mim mesmo, enquanto lágrimas escorrem pela minha face -Eu não quero abandonar o Cas...

Adormeço soluçando e com o coração apertado.

E por volta das três horas da tarde, já estou dentro do carro. E quando o motor liga e dá partida. Olho para trás e te vejo chegando correndo, você para e me olha de maneira triste.

-Dean! -Papai me repreende quando eu aceno para ti.

Eu seguro o choro. E por alguns segundos não penso nas consequências, simplesmente abro a porta e pulo do carro.

Rolo no chão e quando fico de pé corro para ti. E você corre para mim. Você para e abre os braços, mas eu pego em sua mão e faço você continuar correndo. Viramos à direita e corremos na máxima velocidade que conseguimos, chegando no nosso cantinho secreto.

E no momento em que te envolvo em meus braços eu sabia que era nosso adeus definitivo.

O arrepio de sempre atravessou meu corpo quando eu entrei em contato com tua pele.

Seria a última vez que iríamos nos tocar com a certeza de que eramos um do outro. Seria a última vez que eu olharia nos teus olhos e poderia dizer que te amo.

Se essa fosse a última vez que você fosse me ver, o que você diria? -Pergunto, quando estou deitado em seu colo e você faz carinho em meu cabelo.

-Essa não é a última vez -você diz com segurança -Eu irei esperar por você.

-Não -nego com a cabeça -Eu não posso deixar você fazer isso

-Não é você que faz essa escolha.

-Eu iria dizer... Obrigado -Olho em seus olhos.

-Por favor, não faça isso -Sua voz é trêmula -Eu não vou desistir de nós.

-Eu iria dizer... Eu te amo -Continuo.

-Dean... -Seus olhos azuis enchem de água.

-Eu sempre irei te amar...

-Não diga isso. Não diga isso -Você me abraça forte -Eu te amo

Quando nos beijamos a última vez, tivemos aqueles minutos de silêncio, onde nada mais parecia ter importância. Quando você enlaçou suas pernas envolta de minha cintura, eu nunca me senti tão completo, como se tudo a nossa volta fosse uma enorme bobagem e que nada mudaria o fato de que pertenciamos um ao outro. Éramos só eu, você e o universo.

Mas então, eu voltei a realidade. Te soltei e olhei em seus olhos.

-Eu tenho que ir, meu anjo -Beijo o topo da sua cabeça -Fique bem.

-Um último baseado? -Você perguntou fazendo cara de cachorro abandonado -Não um último, mas um último até eu te ver de novo, porque...

Te interrompi colocando o cigarro de maconha em sua boca e o acendendo.

-Tudo vai ficar bem... -sussurrei, arrancando de sua boca colocando na minha, e soltando a fumaça no seu rosto.

Você começou a tirar seu sobretudo e eu falei que eu não podia transar agora.

-Não, seu bobo -Você riu da minha cara -Uma vez você me disse que esse sobretudo era sua peça de roupa favorita minha, então eu quero te dá-la, assim você vai saber que eu estarei esperando por ti. E não adianta dizer que não é pra esperar -Você me entrega, com os olhos amarajados e um sorriso no rosto.

E quando eu te abracei, senti um pedaço meu ficando em você e um pedaço seu ficando em mim.

-Até logo -eu disse, pois não queria dizer a palavra que me doí cada osso do corpo: adeus.

E naquela hora eu queria decorar cada milímetro do teu rosto, tentei me agarrei aos detalhes. O brilho de seus olhos azuis como o mar. Os dentes ligeiramente tortos e aos detalhes da sua boca. Tentei fotografar com meus olhos as suas mãos, para que eu não me esquecesse o quão pequena ela é, e o quão ela se encaixa na minha, para que eu não te esquecesse.

E quando eu me vi indo embora e entrando naquele carro, teu cheiro, ele grudou em mim, e eu desejei que ele nunca mais desgrudasse.

*O que acharam? Querem os outros capítulos rs? Não esqueçam de votar e fazer comentários szsz*

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