É normal para mim sentir vontade de ter crises de choro, meio que do nada.
Ao despertar no dia seguinte, eu senti que aconteceria mais uma dessas crises.
Porém, não deixei que ela viesse. Eu sabia como evitá-la.
Tinha acordado mais cedo do que o preciso mais uma vez, então troquei minhas roupas e desci novamente para o ginásio de esportes do hotel.
• • •
As juntas de meus dedos estavam sangrando, o saco de pancadas manchado com o fluido vermelho.
Apesar da pele de minha mão em punho estar praticamente em carne viva, a dor não era problema. A adrenalina em meu corpo era tamanha, que anestesiava e me poupava daquilo.
Continuei desferindo socos contra o meu alvo, a única reação de meu corpo contra o cansaço era todo o meu rosto encharcado de suor, mas, fora isso, nada.
Só parei de cometer o tal ato quando fui afastada, pela cintura, do saco de pancadas.
- O que você pensa que está fazendo, sua louca?! - Jackson segurava em minha cintura e me levava em direção a um assento próximo ao tatame.
- Me solt... - Não consegui terminar a sentença, meu organismo fraquejou. A adrenalina acabara. E a dor e o cansaço vieram, fortíssimos.
Fui obrigada a me sentar. Jackson se colocou em minha frente, agachado. Tomou minhas mãos.
- Olha isso, Naomi! - Mostrou-me os pontos de sangramento abertos, que começavam a latejar e arder. - O que pensa que estava fazendo? - Me encarou.
- Eu... - Não fui capaz de responder. O olhar que ele colocava sobre mim era de pura preocupação. Eu odiava preocupar e ser um peso para os outros.
- Fique aqui. - Ordenou. - Não ouse sair.
- Não vou...
Mas ele já havia saído do ginásio.
Uns minutos depois, o nascido em Hong Kong voltava com uma variedade de objetos em mãos, os quais eu só pude tomar consciência do que era quando ele se sentara ao meu lado.
Uma maleta de plástico branca e uma garrafinha de água descartável.
Destampou a garrafa.
- Abra a boca. - Disse, apropinquando o recipiente de meus lábios. Ciente de que eu não conseguiria segurar o objeto, fiz o que ele pedira.
Tomei todo o líquido gelado em apenas uma vez. Sede saciada.
- Me dê suas mãos. - Pediu, deixando a garrafa vazia de lado.
Jackson limpou todo o sangue de minhas mãos. Colocou um remédio para evitar possíveis infecções e depois fez curativos por cima.
- Nunca mais faça isso de novo, entendeu? - Segurou meu rosto, seu olhar sério sendo sustentado pelo meu, alienado.
Assenti, passando a olhar para baixo. Tirou as mãos de meu rosto e as desceu para meus pulsos. Levantou-se e me auxiliou a fazer o mesmo.
Fui guiada pelos corredores do hotel até o meu quarto. No caminho, Jackson disse:
- O que acha de tomar um banho e trocar essas roupas para tomarmos café fora? Temos tempo.
Sorri.
- Não precisa nem pedir duas vezes.
• • •
Estávamos numa loja de café, não muito distante do hotel. Sentamos numa mesa com vista panorâmica para a rua e cada um realizou seu pedido.
- Queria que tivéssemos mais tempo... - Seus olhos se perdiam na paisagem matinal de Seul. - Para nós dois. - Voltou suas pupilas para mim.
- Eu também. - Assumi, tocando uma de suas mãos com a minha. Jackson correspondeu com um leve aperto.
- Voltaremos para Coreia daqui a oito meses.
Tentei colocar aquilo na cabeça. Era quase um ano.
O que poderia ocorrer naqueles oito meses... Me deixava aflita, mais do que qualquer outra coisa.
O
s nossos pedidos foram servidos e lanchamos em completo silêncio.
A falta de falas era horrível demais. O clima era pesado, mesmo que o dia amanhecesse ensolarado e feliz do lado de fora.
Cada um fez seu devido pagamento e nos dirigimos para a saída da loja.
Tomei coragem. Respirei fundo. E resolvi quebrar o silêncio.
- Já tem alguma data certa para... - Fui incapacitada de finalizar minha questão.
Bruscamente, Wang abraçou meu corpo e desviou-me da rota em que eu traçava, por muito pouco não desmoronei no chão.
Antes mesmo que eu perguntasse o que diabos ele fazia, eu vi. A motocicleta que passara rente à nós.
Ás vezes eu esqueço que aqui na Coreia os motoristas não entendem o motivo da existência da calçada.
Se não fosse pelo desvio que Wang me obrigara a cometer, teria sido atropelada pelo veículo.
Agarrada ao seu corpo, ofeguei de alívio. Abracei-o, ali mesmo, no meio da rua e na frente de todos, trêmula graças ao susto.
Desejei nunca mais precisar soltá-lo.
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Three Days • Jackson Wang
FanfictionNaomi descobriria, da melhor forma possível, que em três dias, muita coisa pode acontecer. • happy b-day, jackson wang! • plágio é crime! seja criativo! • short-fic. • postada e finalizada em 28.03.2018.